Souza Cruz tem alta de vendas na pandemia – e pressiona por cigarros eletrônicos

Crescimento não acontecia há uma década. Empresa foi repaginada, mudou de nome e quer que Anvisa aprove produto proibido no Brasil desde 2009

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Quase todos os setores da economia vêm sofrendo com a crise da covid-19, mas a Souza Cruz tem razões para comemorar, como mostra a reportagem do Valor. Enquanto suas vendas de cigarro não cresciam no Brasil há dez anos, em 2020 é esperada uma alta de 4% – segundo a empresa, é uma  consequência principalmente do fechamento da fronteira com o Paraguai, que dificultou a concorrência dos cigarros ilegais.  Além disso, as exportações  praticamente triplicaram, por causa da interrupção da produção de fábricas sediadas em países que levaram o coronavírus mais a sério. Por aqui a atividade está a todo vapor. Só 400 dos quase cinco mil funcionários da empresa foram afastados por terem alguma condição de risco; outros tantos foram contratados para reforçar a produção. Em meio a isso tudo, a Souza Cruz está sendo ‘repaginada’: o nome mudou para BAT Brasil, uma estratégia do seu grupo controlador British American Tobacco de unificar o uso da marca e reorganizar as operações pelo mundo.

O cenário positivo é pontual, claro, e mesmo com ele as vendas não chegam nem perto do que foram em 2010 – devem ser ao todo 40 bilhões de unidades vendidas este ano, contra quase 72 bilhões naquela época. Por isso, os executivos querem apostar muitas fichas em outro produto: os cigarros eletrônicos, que são proibidos no Brasil desde 2009. No mundo todo, a indústria do cigarro está tentando convencer agências reguladoras e consumidores de que os dispositivos não fazem mal à saúde e que até podem fazer bem aos fumantes. São alegações altamente discutíveis, vide a síndrome pulmonar que atacou principalmente usuários adolescentes nos EUA. É justamente essa a estratégia da BAT Brasil em relação à Anvisa. Com certeza é um lobby que merece ser acompanhado de perto.

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