Sem protocolo

Ministério da Saúde ainda não tem plano para orientar tratamento de sequelas da covid-19, deixando SUS no escuro

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O Ministério da Saúde ainda não tem um protocolo para orientar o SUS a lidar com uma parte muito importante da pandemia: as sequelas deixadas pela covid-19. Desde a gestão Nelson Teich, quando a pasta capitulou de vez ao negacionismo de Jair Bolsonaro, a abordagem marketeira do “placar da vida” comemora os “pacientes curados” – 5,6 milhões a essa altura. E, como já alertamos por aqui, todas as pessoas que sofrem com as sequelas do vírus acabam relegadas a uma espécie de limbo.

Uma reportagem da Agência Pública captura essa realidade hoje. Descobriu que, se tiverem sorte, esses pacientes estarão próximos de um dos poucos projetos-piloto a endereçar o problema, como o da UFMG, que oferece reabilitação pulmonar a quem viveu um quadro grave da doença e, depois da ‘cura’, passou a sofrer de fadiga. Mas sem o governo federal na jogada, a regra é cada um por si: cada município decide o que fazer, e na falta de resposta, só resta aos usuários do SUS se endividarem em busca de alívio para as sequelas.

“Coronavírus é uma doença pra rico”, desabafa Francisca Benedita, moradora de Fortaleza e infectada no final de abril, que está precisando pagar do próprio bolso os medicamentos para o pulmão afetado. Há casos como o de Raphaela Fagundes, moradora de Bauru (SP) que foi orientada a “procurar um psicólogo”, já que o médico que consultou aparentemente não sabia que doentes de covid-19 podem ter sequelas e imaginou que as queixas deveriam ser parte de um quadro de ansiedade.

De acordo com um estudo de acompanhamento de pacientes feito pelo Hospital Policlínico Universitário Agostino Gemelli, em Roma, apenas 12% dos participantes não apresentaram sintomas persistentes da doença. Do restante, 32% tiveram um ou dois sintomas e 55%, mais de três. As sequelas mais comuns são fadiga (53%), dificuldade de respirar ou dispneia (43%), dor nas articulações (27%) e dor no peito (21%). 

Questionado sobre o problema, o Ministério da Saúde afirmou de forma vaga que “as informações estão sendo consolidadas para que seja possível elaborar um protocolo relativo às sequelas”.

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