Do congelamento à produção, os principais desafios da vacina da Pfizer

Aprovação é boa notícia para Moderna, que tem vacina com mesma tecnologia em testes. Mas doses precisam ser estocadas a -70°C, e produção não deve passar de 1,3 bi de doses até o fim de 2021

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Em geral, as vacinas envolvem injetar um patógeno inativado ou atenuado no nosso corpo para que o organismo o identifique e aprenda a se defender. Em alguns casos, uma parte específica desse patógeno (como uma proteína) é produzida em laboratório e utilizada no imunizante. Não é assim que a vacina da Pfizer funciona. Ela só envolve uma parte do código genético do vírus, o RNA mensageiro, para induzir o corpo a produzir uma proteína do SARS-CoV-2. 

A matéria da BBC explica: “Os cientistas identificam a parte do código genético viral que carrega as instruções para a fabricação dessa proteína e a injetam em nós. Uma vez absorvida por nossas células, ela funciona como um manual de instruções para a produção da proteína do vírus. A célula fabrica essa proteína e a exibe em sua superfície ou a libera na corrente sanguínea, o que alerta o sistema imune”. A proteína codificada é a que o vírus usa para invadir as células e se replicar. Com a vacina, o sistema imunológico aprende a reconhecê-la e bloqueá-la, interrompendo a infecção quando um contato com o vírus verdadeiro acontece.  

Há algumas vantagens nesse processo: ele não demanda o cultivo de grandes quantidades de vírus para usar como matéria-prima, o que torna a estrutura de produção mais enxuta, com custo provavelmente menor. Mas é uma tecnologia relativamente recente e nenhum produto de RNA mensageiro foi aprovado pelas agências reguladoras até hoje. Esses resultados são animadores porque mostram que há viabilidade no processo. 

Aliás, as notícias de ontemnão são boas só para a Pfizer, mas para outras empresas que apostam no mesmo tipo de tecnologia. É o caso da Moderna, que pretende lançar seus primeiros resultados de eficácia ainda este mês. 

O lado B: dificuldade de armazenamento e produção insuficiente

O maior problema é que o RNA se degrada muito fácil, e a vacina da Pfizer precisa ser mantida a cerca de -70°C. Obviamente, isso gera grandes desafios para o armazenamento e transporte, sobretudo em países de baixa renda. A Vox lembra que, segundo a OMS, hoje mais da metade de todas as vacinas do mundo vão para o lixo, principalmente porque estragam devido a falhas no controle de temperatura.

Em coletiva de imprensa, o presidente da BioNTech disse que a empresa está pesquisando formas de manter a vacina por cinco dias em uma temperatura de 4°C, o que facilitaria as coisas. Ainda não há nada conclusivo. Nesse aspecto, o imunizante da Moderna tem uma pequena vantagem: sua temperatura de armazenamento é de -20°C – longe do ideal, mas menos ruim.

Há outro grande porém. Junto com o anúncio sobre os resultados, a Pfizer e a BioNTech disseram que estão tentando aumentar sua produção para chegar a 50 milhões de doses até o fim do ano e 1,3 bilhão durante o ano que vem. É pouco: como a vacinação se dá em duas doses, a quantidade só daria para imunizar 650 milhões de pessoas.

O ano de 2020 está ‘dominado’ pelos EUA, que firmaram em julho um acordo para comprar cem milhões de doses – ou duas vezes mais do que a produção esperada. Também foram fechados acordos com a União Europeia (200 milhões de doses), além de outros com o Reino Unido, Canadá e Japão. E as empresas consideram também um possível fornecimento do imunizante ao consórcio global Covax Facility

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