Roda, roda..

Resumimos para você o Roda Viva de ontem e muitas outras notícias sobre eleições e saúde

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28 de agosto de 2018

RODA, RODA…

Ontem o Roda Viva foi especial sobre saúde e eleições. Os coordenadores de campanha dos seis partidos mais bem colocados nas pesquisas de opinião foram convidados, mas só foram lá representantes do PSDB, da Rede, do Podemos e do PDT. O PSL de Jair Bolsonaro adiou diversas vezes e, por fim, não foi; já o PT foi ‘desconvidado’, e sua ausência foi controversa. Alexandre Padilha, que ia representar o partido, foi barrado na porta – o programa diz que o PT foi avisado de que o ex-ministro não poderia participar porque este ano é candidato a deputado, mas Padilha diz que só recebeu o aviso às 19h.

Sobre o programa, o vídeo ainda não está disponível, mas você pode ler um bom resumo das discussões no relato da nossa editora Maíra Mathias,  aqui. De acordo com ela, “em meio a uma enxurrada de números e expressões pouco amigáveis para o público não especializado, a impressão é que falta política – com P maiúsculo”. É pena, porque pode ter sido a única oportunidade para debater melhor as questões dessa área, que não tem sido privilegiada pelos candidatos em suas falas. Exemplo disso é que ontem também teve entrevista com Ciro Gomes no Jornal Nacional, mas, sobre saúde, nada foi dito.

Não devia ser assim. O Ibope fez pesquisas este mês para ver que áreas enfrentam maiores problemas nos estados, segundo os eleitores. Só faltam os resultados de Minas mas, em todos os outros estados e no DF, a saúde está no topo da lista. Os lugares em que ela foi mais citada foram Rio Grande do Norte (por 89% dos entrevistados), Distrito Federal (87%) e Rondônia (84%); mesmo no estado com menor percentual, Alagoas, ela foi citada por 69% das pessoas. Elas tinham que escolher as três áreas mais problemáticas de uma relação com mais de 20. Além da saúde, as opções incluíam educação, corrupção, drogas, geração de empregos, moradia, segurança pública, transporte… As outras duas áreas mais citadas foram educação e segurança.

GRATUITO?

Ainda falando em eleições, Piero Locatelli, do Intercept, atenta para o fato de que o horário eleitoral gratuito é obrigatório, mas não exatamente gratuito. O valor destinado a emissoras de rádio e TV chega este ano a R$ 864,7 milhões, que são repassados via isenções fiscais. Não dá pra saber quanto se destina a qual empresa, mas está disponível a distribuição regional: vai uma enorme parte para o sudeste (67%), enquanto emissoras do norte recebem menos de 1%. Desde 2002, quando os dados começara a ser disponibilizados, já foram R$ 6,6 bilhões.

E NADA É DE GRAÇA…

O valor que o Brasil deixa de arrecadar todo ano por conta de incentivos fiscais e benefícios tributários chega a R$ 250 bilhões – sim, mais que o dobro do orçamento da saúde, mais que os de saúde e educação juntos. Quando uma empresa recebe incentivos, é teoricamente para gerar em troca algo bom para a sociedade, mas ninguém fica sabendo quanto cada empresa ganha, nem se a “troca” vale a pena. Está rolando um manifesto para pressionar o Congresso pela aprovação de uma lei que torne o sistema tributário mais justo e transparente. O #SóAcreditoVendo está disponível aqui.

UNIVERSAL NÃO É SUFICIENTE

A OMS está empenhada em difundir a necessidade e a importância da cobertura universal da saúde. Seu 70º aniversário, comemorado em abril, teve este tema, e foi comemorado no Sri Lanka, com foco nas conquistas desse país em relação ao acesso. Mas faltou “qualquer referência à privatização em curso desse sistema, e suas conseqüências e relevância para o objetivo da cobertura universal de saúde”, escrevem, em artigo no British Medical Journal, as pesquisadoras Ramya Kumar (da Universidade de Jaffna, Sri Lanka) e Anne-Emanuelle Birn (da Universidade de Toronto, Canadá).

Elas dizem que a trajetória do país é merecedora de elogios: uma política de “Saúde Livre” adotada em 1951, após a independência, organizou um sistema de saúde gratuito composto por instalações estatais e profissionais de saúde assalariados que é responsável por 50% das consultas ambulatoriais e mais de 90% das internações, além da maior parte da prevenção.  “Mas infelizmente o país está invertendo a direção”, dizem as autoras.

O investimento no sistema público caiu desde os anos 1980, resultando em unidades superlotadas, com longos períodos de espera e escassez de suprimentos e serviços médicos essenciais. Enquanto isso, o setor privado floresce, incentivado pela desregulamentação e pelos subsídios. No ano passado, o governo introduziu um esquema de seguro financiado publicamente para reembolsar despesas privadas de saúde de estudantes de 5 a 19 anos.  Com exemplos, elas argumentam que a expansão da cobertura por meio do setor privado aumenta os gastos e ainda resulta em iniquidades no acesso.

O MURO DA GILEAD

Já comentamos aqui sobre uma a iminente decisão do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual que pode afetar pessoas com hepatite C no Brasil. É que está em análise um pedido de patente da farmacêutica Gilead sobre o medicamento sofosbuvir, que aumentou as chances de cura para mais de 90%. Só que é um medicamento caro, e a Fiocruz tem capacidade – e aprovação da Anvisa – para fabricar o genérico. Com a produção nacional, o preço do tratamento cairia 80%. No El País, Felipe Carvalho, da ONG Médicos Sem Fronteiras, diz que patentes farmacêuticas muitas vezes são muros que impedem o acesso a medicamentos. E que, no caso da hepatite C, “este muro tem feito com que das 71 milhões de pessoas elegíveis ao tratamento, apenas 3 milhões tenham conseguido se tratar. A maioria delas inclusive nos países onde patentes foram derrubadas e a oferta de genéricos se tornou possível”.

BURLANDO REGRAS COM HASHTAGS

Já se foi o tempo do cowboy da Malboro… Ou não. O New York Times mostra que, embora a indústria do tabaco tenha prometido parar de atrair jovens e maior parte dos países imponha regras contra o marketing de seus produtos, as gigantes do setor têm aproveitado as redes sociais para promover suas marcas em todo o mundo. “O que há por trás das legiões de belos jovens fazendo postagens com cigarros, cigarros eletrônicos e festas com as mesmas hashtags?”, pergunta a matéria de Sheila Kaplan.

Algumas pesquisas têm sido feitas sobre isso, com análises das hashtags e entrevistas com ‘microinfluenciadores’ remunerados e não-remunerados. Mais de 100 hashtags associadas a produtos de tabaco foram vistas 25 bilhões de vezes em todo o mundo, sendo 8,8 bilhões só nos EUA. Elas também incluem cigarros eletrônicos, a nova aposta de empresas como a Phillip Morris. E as campanhas são sofisticadas. Às vezes as marcas não são mencionadas, mas há a divulgação de festas em que os cigarros são promovidos em displays gigantes, e as cores da decoração dos eventos costumam coincidir com as de uma marca específica. A matéria traz várias das fotografias postadas nas redes, e vale a pena dar uma olhada. Há agora uma petição pedindo que as empresas divulguem todas as fotos, vídeos e hashtags pagas adicionando novas (e pouco viralizáveis) hashtags que sinalizem o teor publicitáiro, como #Sponsored, #Promotion, ou #Ad.

MACONHA NA GRAVIDEZ

Muita gente acha que maconha é inofensiva, mas cada vez mais pesquisas sugerem que mulheres grávidas ou amamentando devem evitá-la. Essa é também a nova recomendação da Academia Americana de Pediatria. Estudos mostram um número crescente de bebês expostos a essa droga nos EUA, onde vários estados já legalizaram o uso recreativo ou medicinal. Segundo a reportagem, em grupos online de mães há muita gente recomendando uso na gestação, inclusive para combater os tradicionais enjoos.

No entanto, há evidências de danos tanto no curto prazo – em relação ao crescimento das crianças – quanto no longo prazo – em relação ao seu desenvolvimento neurológico. O THC (molécula de efeito psicoativo) pode facilmente atravessar a placenta e se acumular no cérebro e na gordura do feto; durante a amamentação, ela permanece no leite até seis dias após o último uso pela mãe.

MEDIDA DO RISCO

Para conter mais um surto de ebola na República Democrática do Congo, está sendo feito um grande esforço de imunização: a vacina experimental da Merck é oferecida a todo mundo com mais de um ano de idade que tenha tido contato com pessoas doentes, e também aos ‘contatos dos contatos’. Ou melhor, a quase todo mundo – faltam mulheres grávidas e lactantes, porque a segurança da vacina não foi testada nessa população. O problema é que 80% das gestantes infectadas morrem, e quase todas as sobreviventes abortam. Então três especialistas em saúde pública escreveram no Stat em defesa da reversão dessa lógica. De acordo com eles, gestantes e lactantes devem poder tomar a vacina, se quiserem.

EM CASA É MELHOR

Na Inglaterra, o misoprostol – pílula abortiva vão poder ser tomadas em casa. Hoje isso é feito em clínicas especializadas em duas doses, com intervalo de 24 a 48 horas entre elas. Agora, a segunda dose vai poder ser tomada na residência. Isso vai evitar o risco de o processo acontecer com a mulher em trânsito, com dor ou sangramento no percurso entre sua casa e a clínica.

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