PÍLULAS | Mundo não está preparado para outra pandemia, diz a OMS

• A situação na África • A covid no Brasil • Bactérias protegem contra vírus • Evolução genética e câncer • Alcoolismo e mulheres • Tirania da felicidade • China e a ética na Ciência •

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Um grupo de trabalho formado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu em 18/5 que a covid-19 não tornou o mundo mais preparado para outra possível pandemia. O grupo  liderado pela ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, e a ex-presidente da Liberia, Ellen Johnson Sirleaf, concluiu que, na realidade, a situação é pior, devido à fragilidade econômica. A falta de progresso em relação a reformas para criar regulamentações internacionais de saúde escancarou que os países estão mais vulneráveis do que nunca. Desde a criação das vacinas, a OMS vem apontando a distribuição desigual de imunizantes entre as nações ricas e pobres como um grande obstáculo para a cooperação internacional e a superação da pandemia. 


Apartheid vacinal torna África cada vez mais vulnerável à covid

Apenas 17% da população do continente africano está totalmente vacinada contra a covid, devido à falta de prioridade dos países desenvolvidos em distribuir as doses disponíveis, segundo a OMS. Agora, quando a Europa e Estados Unidos já tem grande parte de suas populações vacinadas e começam a enviar imunizantes em maior quantidade, os cidadãos de países africanos não enxergam mais a vacinação como urgente – já que, até o momento, enfrentaram a crise sanitária e econômica sem campanhas eficazes de imunização. Especialistas indicam que um continente inteiro com baixo nível de proteção contra a covid pode ser um território fértil para novas variantes.


Brasil: Nova marola de covid e a necessidade da vigilância

Na última terça-feira, 17/5, o Brasil registrou 221 mortes causadas pelo coronavírus. A média diária ficou em 119, e é a maior dos últimos 15 dias. A média diária de novas infecções também registrou alta (19.153), a maior dos últimos 33 dias. Marilda Siqueira, coordenadora da rede genômica da Fiocruz, reforça, em entrevista à Folha, a importância do investimento em vigilância para entender o futuro da pandemia. A continuidade do financiamento, explica, ajudaria a entender, por exemplo, se a covid passará a ter um comportamento sazonal semelhante a outros vírus respiratórios.


Bactérias podem proteger contra vírus, mostra estudo em drosófilas

Seriam as bactérias sempre nocivas aos seres que colonizam? Mais uma pesquisa – agora realizada por pesquisadores da USP e da Universidade de Cambridge – acaba de dizer que não. O trabalho demonstrou que moscas da espécie Drosophila melanogaster – comuns em qualquer cozinha – tornam-se muito mais capazes de enfrentar vírus que as afetam quando colonizadas pela bactéria wolbachia. A relação entre as espécie é, portanto, de mutualismo, e não de parasitismo. O trabalho pode ter, futuramente, repercussões sobre a saúde humana. Na Austrália e na Ásia, experimentos mostraram que  mosquitos Aedes aegypti, contaminados em laboratório com Wolbachia, foram menos afetados pelos vírus da dengue, zika e chikungunya que a média de suas espécies.


A evolução genética que tornou o humano mais propenso ao câncer

Bastou uma pequena mudança. Ao compararem centenas de genes de humanos e de 12 espécies de primatas, pesquisadores do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, descobriram que, desde que nos separamos dos chimpanzés, evoluímos uma versão ligeiramente diferente de um gene chamado BRCA2. Ele suprime tumores, uma vez que está envolvido no reparo do DNA. A mudança teria tornado o BRCA2 20% menos eficaz na reparação do material genético, em comparação com outras versões do mesmo gene em primatas. Segundo os pesquisadores, isso poderia explicar por que humanos têm chances mais altas em comparação aos nossos ancestrais, que apresentam taxas relativamente mais baixas de incidência de câncer. Entre 971 autópsias em animais do grupo que morreram no zoológico de Filadélfia (EUA), entre 1901 e 1932, somente oito tinham tumores.


Seria importante tratar o alcoolismo em grupos só de mulheres?

Uma equipe de pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP pensa que sim – ao menos na abordagem proposta pelos Alcoólicos Anônimos. Eles acompanharam reuniões femininas e mistas do AA e constataram que as narrativas que os participantes fazem sobre a própria vida – essenciais, no método do grupo – são distintas, dependendo do gênero. Os homens tendem a focar seus relatos no trabalho e em outros aspectos impessoais da vida prática. Já as mulheres, quando estão na reunião estritamente feminina, focam mais em relatos íntimos. Isso pode ser constrangedor para elas em ambientes onde são as únicas a compartilhar a intimidade. Além disso, algumas participantes relataram práticas de assédio e piadas sexistas por parte dos homens.


China lança esforço pela ética na Ciência

O Conselho de Estado chinês –principal órgão coletivo de poder no país acaba de divulgar um conjunto de novas diretrizes sobre ética na Ciência. Voltadas em especial para jovens cientistas, as diretrizes parecem ter sido motivadas por fatos como o trabalho do cientista He Jiankui, que criou por edição genética, em 2018, bebês supostamente imunes ao HIV. O cientista saiu da prisão há pouco, depois de ser demitido da Universidade de Shenzhen e condenado a três anos de detenção. Após o ocorrido, foi criado, em 2019, o Comitê Nacional de Ética em Ciência e Tecnologia, encarregado de “preservar a integridade em pesquisa”. Segundo a revista Pesquisa Fapesp, “o documento atribui às instituições de pesquisa a responsabilidade primária por prevenir a má conduta científica. Agências de fomento à pesquisa, universidades e indústria devem investigar possíveis violações e, uma vez comprovadas, punir os responsáveis com base na legislação”.


Happycracia: como a tirania da felicidade adoece as sociedades

“Happycracia: fabricando cidadãos felizes”. Nesse livro, recém-lançado pela editora UBU, o psicólogo Edgar Cabanas e a socióloga Eva Illouz falam sobre os perigos do discurso que estabelece a felicidade individual como meta suprema de vida. Cada vez mais popularizado por empregadores e propagandas, ele ignora o crescimento da desigualdade social como motivo do aumento do desconforto psíquico entre indivíduos. No mercado de trabalho, chefes reiteram com frequência que cabem aos funcionários os custos psicológicos das fragilidades e instabilidades de uma empresa. Não importam as condições de trabalho, se são precárias ou exaustivas a mensagem repetida sem cessar é a de que com mais empenho, resiliência e positividade é possível alterar a realidade.

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