PÍLULAS | Pandemia e saúde mental nas favelas do Rio

• Covid e sindrome de Down • Direitos trabalhistas da enfermagem • HIV em tratamento pioneiro no Brasil • Pré-natal descoberto no país • Agricultura familiar, potente e escanteada • Plantas medicinais em risco de extinção • Quanto falta o ar no cinema •

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Uma pesquisa realizada com mais de 600 moradores de cinco favelas do Rio de Janeiro expõe o abismo de desigualdade entre as experiências da pandemia de covid. Se na zona sul da cidade a campanha #fiqueemcasa funcionou, nas comunidades a coisa não foi assim tão simples. Nelas, 80% dos entrevistados que trabalhavam antes da pandemia (ou alguém em suas casas) continuaram a sair para o serviço mesmo após as restrições sanitárias. E 45% afirmam que as pessoas de sua residência que contraíram o vírus não foram devidamente afastadas do trabalho – contribuindo para o espalhamento em regiões mais fragilizadas da cidade. Em relação a mortes, 55% afirmam ter perdido um ente próximo para a doença. Como isso afetou a saúde mental dessas populações? Segundo revelou a pesquisa, 52% sentiram ansiedade; 41% sofreram de nervosismo. Não sem motivo: 70,4% temeram não ter dinheiro para sustentar a família; 61,1% preocuparam-se em não ter alimento suficiente – 48,4% tiveram a renda diminuída por causa da pandemia. O acesso a profissionais de saúde mental ainda está pouco disseminado: 74% dos participantes alegaram não ter recebido qualquer suporte de assistentes sociais ou psicólogos. Dados são da pesquisa “Saúde Mental na Periferia, Como Vamos?” realizada pela ANF (Agência de Notícias das Favelas).


Por que covid é mais grave em pessoas com síndrome de Down

Pesquisas apontam que pacientes com a condição com mais de 40 anos têm três vezes mais chance de morrer por covid ante aqueles que não têm a condição genética. Fatores genéticos, alterações no sistema imunológico e formação anatômica estão entre as principais hipóteses. A síndrome de Down é resultado de uma alteração genética no cromossomo 21 que é triplicado em pessoas com a condição – justamente onde se encontra a proteína TMPRSS2, diretamente relacionada ao mecanismo que o vírus tem para causar infecção, e que facilita sua invasão nas células. Outras causas podem ter a ver com alterações cardíacas e pulmonares, além maior vulnerabilidade do sistema imunológico, segundo Danielle Silva, pós-doutoranda em microbiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), e autora de artigo que aborda as particularidades de pessoas com síndrome de Down quando são infectadas pelo coronavírus. Pesquisadores ampliam o esforço para encontrar uma causa mais exata, diante da dificuldade causada pela pequena amostragem de pacientes com a condição acometidos pela Sars-CoV-2.


Direitos trabalhistas à enfermagem no Congresso

O projeto de lei que poderá aprovar o piso salarial da enfermagem deverá ser votado hoje, em regime de urgência, na Câmara dos deputados. Fruto de forte mobilização da categoria, foi aprovado por unanimidade no Senado e pode estabelecer um piso de R$ 4.750. O presidente da Câmara, Arthur Lira, reuniu-se com representantes de sindicatos da enfermagem e comprometeu-se a acelerar o processo. Enquanto isso, outros projetos de lei que dizem respeito a esses trabalhadores tramitam no Congresso. O site do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicou matéria relembrando quais são e em que ponto estão. Entre eles, um que regulamenta a jornada de trabalho semanal de 30 horas na Câmara; um no Senado que diz respeito à aposentadoria especial e outros que regulam a formação dos profissionais.


HIV: Brasil e África do Sul, pioneiros em tratamento de longa duração

Os dois países serão os primeiros a implementar o tratamento preventivo com ação prolongada contra a doença, com o sistema já utilizado, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Mas, no lugar de comprimidos diários, serão realizadas seis injeções anuais. O tratamento preventivo pode reduzir em até 90% o risco de contaminação pelo HIV. “O Brasil foi um dos países escolhidos por conta da sua história na luta contra a aids”, explica Maurício Cysne, diretor de relações externas da Unitaids, agência ligada à ONU que financia a implementação do projeto. O país tem um dos maiores programas de aids do mundo. Nesse tratamento pioneiro, a molécula principal usada na PrEP garante uma proteção contra as infecções pelo HIV durante oito semanas, graças a uma injeção intramuscular. A eficácia é a mesma, o que muda é a abrangência: seu objetivo é visar populações consideradas mais vulneráveis nos dois países. Segundo a Unitaids, o Brasil ainda registra 40 mil novas infecções de HIV por ano e que mais de 10 mil pessoas ainda morrem anualmente vítimas da Aids.


Brasil não oferece pré-natal seguro às mães

Dois terços (65%) dos municípios brasileiros estão longe das metas estabelecidas para o acompanhamento de gestantes. Entre as medidas necessárias estão: grávidas devem fazer ao menos seis consultas pré-natal, uma antes das 20 semanas; teste de sífilis e HIV; cuidados de saúde bucal; exames citopatológicos (Papanicolau); vacinação de pólio e penta em crianças, aferição da pressão arterial para verificar se há hipertensão e solicitação de hemoglobina glicada para descobrir o risco de diabetes. Segundo reportagem da Folha, o programa Previne Brasil foi lançado em 2019 e previa condicionar os repasses federais aos municípios apenas se as metas fossem alcançadas – mas seu início foi adiado devido à pandemia. Cidades afirmam passar por dificuldades para fazer os registros devidos no sistema do ministério. “Esses resultados de reduções de cobertura nos cuidados de gestantes e crianças no Brasil são alarmantes e requereriam ações imediatas e intensivas por parte do governo federal”, denuncia Ligia Giovanella, pesquisadora da Fiocruz e especialista em Atenção Primária. Ela critica também o modelo de metas, que afirma romper com o princípio de universalidade do SUS.


Incentivo à agricultura familiar poderia transformar o Brasil

Em meio à crise, desemprego e fome, há um setor que ajuda a alimentar todo o país e é alvo de políticas públicas cada vez mais escassas. É o da agricultura familiar: são 3,9 milhões de propriedades de pequeno porte, que usam mão-de-obra predominantemente familiar e tem participação significativa na produção dos principais alimentos brasileiros – mas ocupa apenas 23% do território voltado a propriedades agrícolas. Dois terços dos trabalhadores rurais estão na agricultura familiar, mais de 10 milhões de pessoas. E suas técnicas agrícolas tradicionais e a policultura são em geral sustentáveis e poderiam contribuir com a transição para a economia de baixo carbono. Enquanto isso, quem recebe todos os incentivos públicos é o agronegócio, que polui, desmata e produz basicamente milho, trigo e soja para exportação…


Plantas com potencial medicinal podem desaparecer na Amazônia

O Brasil poderia gerar conhecimento e riqueza se houvesse disposição para manter a floresta amazônica em pé e investir em ciência – exatamente o oposto do que o governo Bolsonaro tem praticado. Em reportagem da Folha, um alerta: pesquisadores que descobriram potencial medicinal em plantas raras da Amazônia temem que elas podem se perder com o desmatamento. Entre elas, está um potencial agente microbiano e outro redutor de acúmulo de gordura ao redor do fígado, descritos na matéria. Graças a financiamento de projetos de pesquisa botânica do passado – brasileiros e estrangeiros –, há estudos para levar adiante o processo de descobrir suas propriedades medicinais. Mas corremos o risco de perder essas espécies, se a degradação da Amazônia continuar por mais tempo.


Quando falta o ar: nos cinemas, o SUS e a pandemia

São imagens chocantes e ao mesmo tempo já bastante familiares, as de enfermarias de covid cheias, enfermeiros encapuzados, estoques de oxigênio se esgotando. Mesmo assim, as tocantes cenas do trailer do filme Quando falta o ar não deixam de surpreender. O longa-metragem das irmãs Ana e Helena Petta registrou o trabalho de mulheres trabalhadoras do SUS que estiveram na linha de frente durante os períodos mais críticos da pandemia. Estreia no festival É Tudo Verdade, que acontece a partir de 31 de março no Rio de Janeiro, em São Paulo e em plataformas digitais. Traz imagens de São Paulo, Pernambuco, Pará, Bahia e Amazonas e foca nas desigualdades enfrentadas pelos brasileiros durante a crise sanitária.

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