A farsa do teto de preço dos medicamentos no Brasil

• Como retomar a cobertura vacinal de HPV • Ultraprocessados crescem na dieta dos brasileiros • Anemia em mulheres grávidas • Nos EUA, empresas de saúde brigam para manter financiamento do Estado •

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Por que o teto de preço de remédios não funciona

Uma pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) apontou que o preço teto dos medicamentos, estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), não impede reajustes abusivos nos preços de medicamentos vendidos em farmácias e compras públicas no Brasil. Isso porque há uma defasagem enorme em relação ao teto e o preço praticado: em geral, o primeiro é muitas vezes maior que o segundo. Essa distância do suposto teto permite, em tese, que os preços sejam aumentados diversas vezes seguidas, caso decida a farmacêutica. Segundo o estudo, a diferença entre os preços dos medicamentos pesquisados em relação ao preço teto chega a até 936,39% em valores praticados em compras públicas e a 384,54% nas compras realizadas pelos consumidores em farmácias. O Idec ressalta que um teto de preços tão distante não cumpre sua função de limitar aumentos abusivos, como aconteceu durante a pandemia de covid-19, e pede por uma regulação mais efetiva do mercado farmacêutico no país.

Estudo detalha baixa cobertura da vacina contra HPV 

Um estudo divulgado pela Fundação do Câncer revela que todas as capitais e regiões brasileiras estão com a vacinação contra o HPV abaixo da meta estabelecida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) e pela OMS. A pesquisa, que utiliza os registros do PNI de meninas entre 9 e 14 anos, no período de 2013 a 2021, e meninos de 11 a 14 anos, entre 2017 e 2021, mostra que a cobertura vacinal da população feminina entre 9 e 14 anos alcança 76% para a primeira dose e 57% para a segunda dose. Na população masculina entre 11 e 14 anos, a cobertura vacinal é de 52% na primeira dose e 36% na segunda, muito abaixo do recomendado. A consultora médica da Fundação do Câncer, Flávia Corrêa, destaca uma diferença regional marcante: o Norte e o Nordeste, que têm as maiores taxas de incidência de mortalidade por câncer de colo de útero, são as regiões onde encontramos a menor cobertura de vacinação. As estratégias para reverter a situação, traçadas pelo ministério da Saúde, são a volta da campanha de vacinação e a inclusão do teste de PCR para detectar HPV. 

Consumo de ultraprocessados se dissemina no Brasil

O Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP) divulgou nova pesquisa sobre o consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil. Entre 2008 e 2017, ele cresceu em média 5,5%. Os pesquisadores, que são os responsáveis pela classificação da alimentação de acordo com o nível de processamento, hoje reconhecida globalmente, relatam que o aumento ocorre desde os anos 1980. O termo ultraprocessado é utilizado para descrever formulações industriais alimentícias prontas para consumo, com baixo teor nutritivo e aditivos químicos para melhorar o gosto, odor ou visual. É o caso de bolachas, salgadinhos, macarrão instantâneo e lasanha de microondas.

Quem se alimenta das pseudo-comidas?

Há uma característica brasileira interessante a respeito do consumo de ultraprocessados: por aqui são ingeridos por quem tem mais dinheiro e escolaridade – diferente do que acontece nos Estados Unidos, por exemplo. Norte e Nordeste do Brasil são as regiões onde esse tipo de comida é menos consumida, assim como em áreas rurais. Ultraprocessados estão ligados ao aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes e hipertensão. Há ainda outro problema: sua produção causa danos ambientais sem precedentes, gera gases de efeito estufa, causa desmatamento, entre outras sérias questões ao meio ambiente, afirmam os pesquisadores do Nupens.

Quase um quarto das gestantes têm anemia

Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) revela que 23% das gestantes brasileiras sofrem com anemia. O estudo, que analisou trabalhos publicados entre 1974 e 2021, considerou uma amostra de 12.792 grávidas, nos três trimestres gestacionais, com idades entre 10 e 49 anos, e abrangeu todas as regiões do país. A pesquisadora responsável pela análise, Amanda Biete, verificou que, apesar das políticas públicas para redução da anemia em gestantes, como a fortificação das farinhas de milho e trigo e a suplementação de ferro, não houve diferenças significativas. A inadequação do consumo de ferro, em função do consumo crescente de alimentos ultraprocessados, pode ser uma das explicações para o elevado índice de anemia entre gestantes no país. A anemia pode ser prevenida e tratada por meio da diversificação alimentar, suplementação de prevenção, fortificação alimentar e acompanhamento médico durante toda a gestação.

EUA: empresas brigam contra corte de benefício para idosos

O mercado da saúde está gastando milhões de dólares em publicidade apelativa e lobby para tentar impedir uma proposta do governo norte-americano de rever repasses aos planos de saúde. Ela diz respeito especificamente ao chamado Medicare Advantage, um programa direcionado para idosos que atende em especial pessoas em situação mais vulnerável. O governo paga às empresas de saúde uma taxa para cada cidadão que adere ao plano, mais um bônus para os pacientes de uma lista de problemas mais sérios de saúde. Mas há fortes indícios de que os convênios estão declarando casos indevidamente. O projeto de Biden visa retirar alguns itens da lista de doenças sérias que recebem bônus – e espera cortar um “excesso” de gastos de cerca de US$ 25 bilhões por ano…

…A quem o corte traz benefícios?

Por um lado, a fúria com que as empresas de saúde dos Estados Unidos estão reagindo à proposta de corte de gastos é um forte indicador do quanto o Medicare Advantage é importante para a manutenção de seus lucros. Uma pesquisa descobriu que enquanto nos planos de saúde que atendem ao Medicare a taxa de pacientes com doença vascular é de cerca 50%; fora deles é de apenas 14%. As evidências são tão fortes que no Congresso norte-americano, deputados que comumente se levantam para defender as empresas parecem estar em dúvida do que fazer. Mas, por outro lado, críticos afirmam que essa não parece ser uma boa medida para resolver o problema de gasto indevido – pois pode deixar muitos idosos que vivem em más condições financeiras desatendidos. A notícia em questão é um bom retrato do que acontece quando a Saúde não é universal.

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