Pacientes de hanseníase ficam sem tratamento

OMS alertou em 2019 que haveria problemas na produção de medicamentos, mas Brasil não providenciou fabricação própria

Foto: Altemar Alcântara / Semcom
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Cidades de ao menos 18 estados brasileiros estão sem tratamentos contra a hanseníase, segundo o Morhan Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase). A matéria do G1 conta que, há décadas, o SUS depende de doações da OMS para ter os remédios; porém, em 2019 a Organização alertou que passaria por problemas de produção ao longo do ano passado. O governo brasileiro não fez nada com essa informação. 

Há mais de seis meses entidades nacionais ligadas à doença têm tentado pressionar o Ministério da Saúde, depois de começarem a receber relatos de pacientes com o tratamento interrompido. Para se ter uma ideia, em agosto acabou todo o estoque de Parnambuco, São Paulo e Pará. Atualmente, 40 mil brasileiros dependem das drogas. “Não consigo fazer mais nada que force as minhas mãos, como segurar uma caneta, escrever, digitar no computador ou celular por muito tempo. O mesmo está acontecendo com a perna direita, estou arrastando para andar. Meus nervos voltaram a inflamar e as câimbras nos pés, que tanto me incomodavam antes do tratamento, voltaram”, diz na reportagem Tatielle Naiara, afetada pela falta de remédios.

Se já era uma vergonha o Brasil – que tem um sistema de saúde público, gratuito e capilarizado – ser o país com o maior número de casos de hanseníase por habitantes do mundo, como classificar a situação atual, em que eles estão à deriva por inação do Ministério da Saúde? Ainda no G1, a relatora especial da ONU sobre a Eliminação da Discriminação Contra as Pessoas Afetadas pela Hanseníase, Alice Cruz, diz que vários países enfrentaram desabastecimento, mas foram resolvendo a questão. “No Brasil, contudo, o problema vem se arrastando”, afirma.

O país tem condições para produzir as drogas e a ONU fez recomendações nesse sentido. No entanto, só no fim do ano passado – um ano depois que a OMS avisou sobre a futura escassez – o Ministério da Saúde fez uma audiência pública com fabricantes para pensar a produção nacional. Segundo a pasta, ela “deve se reunir novamente” com as empresas e “já está em diálogo com Biomanguinhos/Fiocruz”. A ver. 

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