Os fura-fila

Nos primeiros dias de vacinação contra a covid-19, pipocam casos de pessoas que receberam a primeira dose sem fazer parte dos grupos prioritários

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No começo da vacinação contra a covid-19, as poucas doses de CoronaVac disponíveis já começaram a ser surrupiadas por quem não deveria direito a elas. Talvez o caso mais chamativo seja o das irmãs Lins: herdeiras de uma das famílias mais ricas de Manaus, as gêmeas de 24 anos até são médicas, mas nunca atuaram na linha de frente da covid-19. Sem concurso, foram nomeadas em cargo comissionado para trabalhar em uma unidade básica de saúde – uma delas, na véspera do início da imunização, e a outra só no dia seguinte. Se elas não tivessem postado suas espetadas nas redes sociais (e se não tivessem milhares de seguidores), a história poderia até ter ficado na surdina. E isso é o que deve começar a acontecer, já que o prefeito David Almeida (Avante) rapidamente anunciou a publicação de uma portaria que proíbe profissionais de saúde de divulgarem sua vacinação.

Também em Manaus, o jovem filho de um ex-deputado estadual furou a fila. Os prefeitos de Ibati (SE) e Pombal (PB) se vacinaram sem terem nada a ver com o primeiro grupo prioritário. E em Jupi (PE), a secretária de saúde e até o fotógrafo oficial da prefeitura também garantiram suas doses. Nesses três estados, o Ministério Público investiga o problema

A revista Piauí ressalta um movimento que pode beneficiar não apenas casos isolados, mas uma categoria inteira: Laurício Monteiro Cruz, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, assinou um ofício incluindo sua própria categoria profissional – a dos veterinários – entre os grupos prioritários.

A reportagem gerou uma nota de esclarecimentos por parte do Conselho Federal de Medicina Veterinária explicando que esses profissionais são, sim, considerados trabalhadores da saúde, e que parte deles está na linha de frente da covid-19. Voltando à Pìauí, o professor da USP Mário Scheffer diz que não vai dar para imunizar todos os profissionais de saúde agora, portanto é preciso hierarquizar – para ele, o critério não deve ser a carteira de registro profissional, mas as características da ocupação e do risco a que cada trabalhador está submetido. “A prioridade absoluta, sem discussão, é daqueles que trabalham com pacientes de dovid internados. Em seguida, aqueles que cobrem serviços de urgência e emergência, maternidade e atenção primária, que fazem triagem e encaminhamento de pacientes suspeitos, incluindo o pessoal de apoio”. 

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