De grão em grão

Governo indiano libera 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca para Brasil. Mas falta o mais importante: conseguir a remessa de matéria-prima vinda da China

Foto: Arek Sosha
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O governo indiano finalmente autorizou a exportação de vacinas contra a covid-19, possibilitando que duas milhões de doses do imunizante de Oxford/AtraZeneca venham para o Brasil. Elas devem chegar hoje à tarde e seguirão para a Fiocruz, onde passarão pelo controle de qualidade e etiquetagem. A Índia segurou as remessas até começar a imunizar sua própria população, o que aconteceu na semana passada. 

Apesar de a notícia ser boa, essa quantidade de doses é muito pequena; mais importante mesmo é a remessa da matéria-prima necessária para o Instituto Butantan e a Fiocruz produzirem as vacinas aqui. Como se sabe, esse ingrediente ativo está na China. E, quanto a isso, a embaixada do país no Brasil informou que fará “máximos esforços” para avançar no envio. A ver. 

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, está sem conversar com a embaixada chinesa desde o ano passado… E, segundo a Folha, Jair Bolsonaro só soube disso ontem. O diálogo foi suspenso ainda em março de 2020,  depois que Eduardo Bolsonaro fez tuítes raivosos sobre o embaixador Yang Wanming, foi respondido na mesma medida e Araújo tomou suas dores. “Segundo assessores, apesar da posição ideológica, o presidente considerou que o Ministério das Relações Exteriores não poderia ter rompido o diálogo”, diz a reportagem, afirmando que, embora em público o presidente defenda seu ministro, já indicou a seus assessores que não pretende mantê-lo por muito tempo

Já o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, finge que não há problema algum. De acordo com ele, os países estão em negociação diplomática e a embaixada “vai ver onde está o entrave e ajudar a destravar”. Mostrando-se despreocupado, ele afirmou ontem que nas próximas semanas vai haver uma “avalanche” de laboratórios apresentando suas propostas para vender vacinas ao Brasil. “Temos que ter atenção e muito cuidado para colocar todas elas disponíveis o mais rápido possível dentro da segurança e eficácia, e na nossa capacidade de colocar no lugar certo e na hora certa”. 

Ninguém sabe de que avalanche ele está falando, mas a União Química continua empenhada em conseguir a aprovação da Sputnik V no país. É complicado porque não foram feitos testes de fase 3 para esse imunizante no país (condição necessária, segundo as regras da Anvisa, para que a autorização emergencial seja concedida); no entanto, o presidente da empresa espera convencer a agência com o argumento de que países como a Argentina e o Paraguai já aprovaram o uso emergencial do imunizante. Hoje ele deve se reunir com representantes do órgão regulador.  

Das vacinas que ainda não tiveram seus resultados anunciados, pelo menos uma chama a atenção: a da Janssen, divisão farmacêutica da Johnson & Johnson, que tem ensaios de fase 3 no país e deve anunciar seus dados nas próximas semanas. O interessante dela é que está sendo testada em dose única e pode ser acondicionada em geladeira comum. Até onde sabemos, o Brasil não tem nenhum acordo com a empresa, mas Pazuello declarou no início do mês que o governo faria uma compra. Porém, segundo ele, só poderiam ser oferecidas três milhões de doses a partir de abril ou maio.

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