O que ainda não se sabe sobre a proteção das máscaras

Máscaras de tecido protegem. Mas quanto? Por quanto tempo? Sob que condições?

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Um bom punhado de pesquisas traz evidências de que o uso de máscaras, mesmo de pano, ajudam a reduzir a transmissão do novo coronavírus. A OMS tem sua recomendação oficial em relação à produção de máscaras caseiras. Governos locais e nacionais ao redor do mundo passaram a exigir, acertadamente, a obrigatoriedade do uso nas ruas ou dentro de estabelecimentos. Mas na verdade as pesquisas ainda não oferecem respostas completas sobre a melhor forma de proteção.

“Máscaras de pano” não são uma categoria única, há inumeráveis composições e não está claro o quanto cada tipo funciona. Além dos materiais, obviamente fatores como o ajuste no rosto devem fazer diferença. Um estudo publicado há poucos dias na Science Advances detalhou uma forma simples e relativamente barata de conseguir fazer testes exaustivos nesse sentido, mas a publicação acabou gerando uma avalanche de manchetes que se concentraram em dar como certas coisas que o estudo na verdade não comprova. É que, para demonstrar o funcionamento da engenhoca testadora – que consiste basicamente uma caixa, laser e uma câmera de vídeo –, o trabalho partiu de demonstrações do uso de 14 máscaras diferentes, desde a n95 até lenços que podem ser puxados do pescoço.

As reportagens se puseram a expor os resultados de cada máscara – a n95, como esperado, tinha o melhor desempenho; os lenços tinham o pior; e as outras, como as de algodão com diferentes composições, se distribuíam pelo meio. Só que a metodologia não servia bem a isso. Por exemplo, as máscaras foram testadas com uma única pessoa que experimentou todas enquanto repetia uma frase, para que as gotículas de sua fala fossem identificadas pelo laser. O objetivo do trabalho não era fornecer “um guia para máscaras”, nas palavras de  Martin Fischer e Eric Westman, que o conduziram: “trata-se de uma demonstração de uma metodologia nova e simples para visualizar de forma rápida e grosseira o efeito de uma máscara”.

Ou seja, não é uma classificação das máscaras disponíveis, mas um caminho que poderia ser adotado por múltiplos pesquisadores, em testes grandes e abrangentes para, enfim, chegar a uma classificação – não só sobre os tipos de máscaras mas como sobre as situações que influenciam sua proteção: ajustes, distanciamento social, pessoas falando ou caladas, espaços abertos ou fechados etc.  E isso seria importantíssimo. 

Aliás, alguns pesquisadores vêm apontando que uma confiança ilimitada no ‘poder’ das máscaras pode acabar levando a situações de risco, especialmente para trabalhadores. Ninguém tem ideia de quanto tempo dura a proteção quando se está em um lugar fechado com outras pessoas. Na Vice, Lisa Brosseau, que há anos pesquisa como proteger trabalhadores de aerossóis prejudiciais, diz que provavelmente elas evitam a transmissão por curtos períodos, mas provavelmente não o farão por horas e horas. “Se duas pessoas estão numa sala conversando, usando máscaras feitas de camiseta, e uma dessas pessoas tem o vírus, a outra pessoa tem muita chance de contrair se ficar na sala por tempo suficiente. Essa transmissão é bem menos possível se as pessoas estiverem ao ar livre, mesmo se não estiverem usando máscara” sugere, na mesma reportagem, o microbiologista Joshua Santarpia, que estuda aerossóis na Universidade de Nebraska.

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