O paradigma do 99 contra 1 também na vacinação

Apenas 1% das 100 milhões de doses administradas no mundo semana passada foram para países de baixa e média renda

Imagem: E Pluribus Anthony
.

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 20 de abril. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Apenas 1% das 100 milhões de doses de vacinas administradas no mundo semana passada foram parar nos braços de habitantes de países de baixa e média renda. O resto – ou praticamente tudo – beneficiou populações de países de renda alta e média alta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“É totalmente antiético que os países de alta renda estejam vacinando pessoas jovens e saudáveis, se isso acontece às custas das pessoas em grupos de risco e na linha de frente em países de baixa e média renda”, resumiu a ativista Greta Thunberg ontem, durante a Cúpula de Líderes organizada pelo presidente dos EUA, Joe Biden. 

“Se tivermos muito mais semanas em que 99% das vacinas vão para um conjunto de países que já têm a maior parte dos imunizantes não vamos sair tão rápido desta crise”, observou Bruce Aylward, conselheiro sênior da OMS.

Diante da piora da pandemia – a semana passada registrou os piores números, com 5,2 milhões de novas infecções e três milhões de mortes –, a organização tenta reforçar o apelo para que países ricos doem excedentes de doses para o consórcio Covax. 

Se desenrola agora mesmo uma disputa velada entre o consórcio e países do Leste europeu pelas doses da vacina da AstraZeneca que não serão mais usadas pela Dinamarca. O país parou de aplicar o imunizante por conta do risco extremamente raro de coágulos principalmente porque tem outras vacinas disponíveis. Com isso, desencadeou uma onda de interesse em 2,4 milhões de doses estocadas ou encomendadas.  

Em um tuíte, o ministro tcheco Jan Hamacek disse que instruiu a diplomacia do país a declarar interesse em “comprar todas as vacinas AstraZeneca da Dinamarca”. Estônia, Letônia e Lituânia também manifestaram interesse. 

Já a OMS atua para que o país doe as vacinas ao Covax: “Eu entendo que o Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca está pronto para, ou já está procurando opções, para compartilhar as vacinas AstraZeneca com os países mais pobres”, disse Hans Kluge, diretor do braço europeu da organização.

Até agora, o Covax distribuiu apenas 38,7 milhões de doses para países de baixa e média renda. Os problemas de fornecimento aumentaram com a situação na Índia, que restringiu o acesso externo às vacinas produzidas no país. 

Nesse sentido, a OMS também está fazendo pressão sobre as farmacêuticas. Quer, de um lado, que os grandes fabricantes de insumos farmacêuticos ativos, os IFAs, sejam liberados pelas multinacionais para direcionar parte dessa produção para envase em outras empresas, acelerando a produção de doses. Por outro, tenta convencer Pfizer e Moderna a compartilharem a tecnologia das suas vacinas de RNA mensageiro para aumentar a produção.

Leia Também: