Os ‘influencers da cloroquina’ conseguem cargos políticos e ganhos financeiros

Nomeação para secretaria municipal de saúde, eleição para vereador e clientes Brasil afora são algumas das vantagens financeiras e políticas do grupo, que mira 2022

Raíssa Soares discursa no evento ‘Brasil vencendo a Covid’, promovido no Planalto em agosto de 2020
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Os médicos que defendem o mentiroso tratamento precoce têm obtido ganhos financeiros e políticos. O Estadão mostra que ao menos quatro profissionais usaram a fama que essa defesa lhes garantiu nas redes sociais para tentar a sorte nas últimas eleições – e um conseguiu.

Pedro Melo (PSL) foi eleito vereador da cidade de Porto Ferreira, no interior de São Paulo. Em uma live transmitida em março no canal da Associação Médicos pela Vida, criada para defender a cloroquina, ele admitiu que suas contas criadas nas redes sociais para “orientar a população sobre o tratamento precoce” o ajudaram a se eleger.

Outro exemplo de vantagem é dado pela médica Raíssa Soares, que foi convidada por Jair Bolsonaro para discursar sobre o tratamento precoce em um evento no Palácio do Planalto em agosto passado. Ela usou sua fama para fazer campanha para o candidato Jânio Natal (PL), que concorria à prefeitura de Porto Seguro. O político foi eleito e a nomeou secretária da Saúde. Agora, ela planeja disputar o governo da Bahia em 2022 – “se tiver o apoio do presidente Jair Bolsonaro”. 

Os influencers do “tratamento precoce” também têm outro tipo de ganho, o financeiro. O recém-formado médico alagoano Marcos Falcão mantém desde 2014 um canal de direita no YouTube, hoje com mais de 200 mil seguidores. Em março, ele divulgou seu número de WhatsApp oferecendo “tratamento precoce” por telemedicina. Cobra R$ 150 por atendimento, e afirma que já foi procurado por mais de dois mil pessoas. Se tiver ‘atendido’ todas, ganhou R$ 300 mil. Segundo ele, não está dando conta de responder a todos os pedidos de consulta. Ele também tem planos políticos: pretende se candidatar a deputado federal nas próximas eleições.

O Conselho Federal de Medicina continua dando guarida a esse tipo de balcão de negócios com medicamentos não só eficazes, mas perigosos, e mantém parecer de abril de 2020 que autoriza médicos a indicarem hidroxicloroquina e azitromicina.

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