Pazuello deve ganhar cargo no Planalto antes do início da CPI

General da ativa estará despachando na Secretaria-Geral da Presidência quando for chamado para depor na comissão

.

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 19 de abril. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

O fim de semana trouxe mais notícias sobre a CPI da Covid, que pode ser instalada nesta quinta-feira. O jornal O Globo obteve a minuta do plano de trabalho da comissão feita pelo chamado grupo independente de senadores. A ideia é organizar a condução das apurações em quatro subrelatorias.

A primeira delas vai examinar a compra de vacinas e outras medidas de contenção do vírus. É quando os senadores pretendem extrair, por exemplo, as justificativas do governo para recursar a compra de 70 milhões de vacinas da Pfizer oferecidas no meio do ano passado. E também tentar comprovar que o Planalto agiu de maneira deliberada em busca da contaminação do maior número de brasileiros o mais rápido possível com a crença de que isso poderia levar à “imunidade de rebanho”

A segunda subrelatoria vai se concentrar no colapso no sistema de saúde em Manaus, com ênfase na crise de falta de oxigênio e no episódio do lançamento do TrateCov, aplicativo do Ministério da Saúde que indicava o “tratamento precoce”. Mas as investigações sobre medicamentos ficarão concentradas em outra subrelatoria, que além da aquisição de drogas sem eficácia comprovada vai examinar os atrasos na compra dos sedativos e bloqueadores do kit-intubação. Por fim, a quarta subrelatoria vai olhar os contratos firmados pelo ministério e o repasse de recursos federais a estados e municípios.  

Ainda de acordo com o documento, a comissão deverá ouvir pelo menos 15 pessoas que ocuparam postos de comando no governo durante a pandemia, como Fábio Wajngarten (Secretaria de Comunicação), o inventor do “placar da vida”, quando o número de pessoas “recuperadas” da doença passou a suplantar o número de mortes e casos novos.

Além de Pazuello, a lista dos ‘ex’ inclui ainda Ernesto Araújo (Relações Internacionais), que será questionado sobre as negociações do Brasil com governos de outros países e multinacionais em relação à compra de vacinas e insumos como agulhas e seringas, e Fernando Azevedo (Defesa), que deve ser convocado por causa da atuação do Exército na produção da cloroquina.

Nessa seara, a comissão também deverá ir atrás de entidades médicas que estimularam o uso de remédios que não têm comprovação científica e planos de saúde, que obrigaram os médicos a usá-los.

Já há oito especialistas mapeados para audiências públicas: Átila Iamarino, Miguel Nicolelis, Margareth Dalcolmo, Natália Pasternak, Marcia Castro, Roberto Kalil Filho, David Uip e até Ludhmila Hajjar, que se movimentou para assumir o Ministério da Saúde. 

A tendência é que o senador Omar Azis (PSD-AM), que tem apoio do governo, ocupe a presidência da CPI. Ele já se posiciona de maneira contemporizadora: “Não tem governo, seja de direita, centro ou esquerda, que não tenha cometido equívocos nessa pandemia. Em todos os estados, está tendo morte. O João Doria (PSDB, governador de São Paulo) é 100% contrário ao pensamento do Bolsonaro. São Paulo, por acaso, está vivendo um mar de rosas?”, disse na sexta. 

Para a relatoria, o nome mais forte é o de Renan Calheiros (MDB-AL), que mostra postura mais combativa: “A CPI vai investigar os fatos determinados e fatos conexos. Num aprofundamento da investigação, saberemos se podemos responsabilizar alguém. Se responsabilizarmos, isso terá consequências penais, civis, administrativas. Mas não dá para antever o que vai acontecer, seria um mero exercício de futurologia”, disse ao Valor.

Membro da CPI, o senador Tasso Jereissati também falou. Em entrevista à Folha, o tucano foi contundente: “Não há dúvida nenhuma que um dos principais culpados pela situação a que nós chegamos é o governo federal”. Para ele, a CPI pode provocar uma mudança “para melhor” em Jair Bolsonaro “que mudou em relação à vacina, mas não mudou em relação ao afastamento social”. “Se no andamento da CPI, por exemplo, houver provas de que a atuação da Presidência da República obstruiu e boicotou um processo de afastamento social, isso pode realmente forçá-lo ou, pelo menos, pensar duas vezes para se portar de maneira diferente”, disse.

Essa entrevista foi publicada na sexta-feira. Pois bem: no sábado, o presidente parece ter dado um recado para seus críticos. Não só ignorou os protocolos sanitários, dispensou o uso de máscara e provocou aglomeração em uma viagem à Goianápolis (GO) – como levou a tiracolo o ex-ministro Eduardo Pazuello. Está para sair a nomeação do general da ativa para o comando da Secretaria Especial de Modernização do Estado, ligada à Secretaria-Geral da Presidência. 

Leia Também: