O efeito Trump – no meio ambiente

Mesmo que não se concretize, o simples o posicionamento de Trump já abala as promessas de outros países no Acordo de Paris. Essas e outras notícias aqui, em 12 minutos

.

O EFEITO TRUMP – NO MEIO AMBIENTE

Segue a Conferência do coima da ONU, na Polônia. No Vox, David Roberts escreve que se trata do encontro mais importante desde que o Acordo de Paris foi elaborado, em 2015. E dos EUA vem o problema de que Donald Trump se comprometeu a sair do Acordo. Mesmo que a saída não se confirme, só o posicionamento já basta pra mudar um tanto o curso dos acontecimentos.

É que o acordo é mais centrado na confiança, na transparência e na pressão dos países do que em sanções formais para o caso de fracasso em cumprir as promessas.  Basicamente, “os países agem porque acreditam que os outros vão agir. Mas se um grande país, responsável por quase 15% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, adular todo o processo e sair …”

Roberts cita um outro autor, Curtin, que fala desse efeito em outros países. Como o Brasil. “Na Austrália, o efeito Trump foi repetidamente citado para apoiar o abandono da legislação para cumprir o compromisso de Paris. Na Turquia, o presidente Erdoğan anunciou que não iria ratificar o Acordo de Paris, ‘depois desse passo dado pelos Estados Unidos’. No Brasil, enquanto isso, o presidente recém-eleito Jair Bolsonaro twitou um artigo defendendo a retirada de Trump no dia seguinte à decisão, e prometeu seguir o Presidente Trump retirando o Brasil do Acordo de Paris”. Ele diz ainda que em outros lugares há tensões internas e/ou tendências a se afastar dos compromissos firmados: Japão, Indonésia, Turquia, Coreia do Sul, Rússia, China, Índia.

O QUE SE COME

E o New Food Economy também fala da Conferência do Clima, mas a partir de um ponto que ninguém leva em consideração: o menu. É que, embora o setor de energia seja o maior responsável pelo aquecimento global, outras áreas têm enorme importância, como o setor agrícola, que responde por 9% das emissões, só nos EUA. E o impacto pecuária ultrapassa esse percentual, porque a maior parte da produção agrícola é para consumo animal, porque tem a energia para fazer fertilizantes, para transportar ração… Recentemente,  um estudo descobriu que as cinco principais empresas de carnes e laticínios usam mais carbono do que a Exxon, a Shell ou a BP.

Só que as questões relacionadas a alimentação e agricultura não têm nenhum destaque na programação. E, quando se olha para as ofertas  do cardápio para os participantes, as opções com carne são o dobro das sem carne. “Se a organização de uma conferência climática internacional tivesse optado por um cardápio livre de carne, isso teria sinalizado que os principais políticos estão prontos para considerar o papel que o consumo de carne desempenha no aquecimento global. Mas parece que ainda não estamos lá”, diz o texto.

TRISTE ANIVERSÁRIO

Ontem fez 34 anos que um vazamento em um tanque subterrâneo da fabricante de agrotóxicos Union Carbide, na Índia, lançou ao ar 40 toneladas do gás isocianato de metila na cidade de Bhopal e causou o mais grave desastre industrial da história. Mais de 8 mil pessoas morreram e 150 mil foram intoxicadas. É por isso que o 3 de dezembro ficou sendo o Dia Internacional da Luta contra os Agrotóxicos.

A LISTA DE BOLSONARO

Ontem foram anunciados todos os ministérios de Bolsonaro, e se confirma uma diferença em relação às suas promessas de campanha: ele anunciava 15, mas serão 22, incluindo Banco Central (BC) e Advocacia-Geral da União (AGU). Esses dois devem perder o status de ministério ao longo da gestão.

O Ministério do Trabalho caiu mesmo, e suas atribuições vão se dividir entre os ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Cidadania e Economia. “Passa a estar contido, majoritariamente, no Ministério da Justiça. Lá está, com certeza, a secretaria que cuida das [concessões de] cartas sindicais, que foi foco de problemas. Ela vai estar sob controle do doutor Moro. No Ministério da Economia, vai estar a questão da fiscalização e políticas públicas para o emprego, e há uma parte menor no Ministério da Cidadania, como a Secretaria de Economia Solidária”, disse Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa-Civil.

O desmembramento é incompatível com a Constituição, segundo parecer da AGU, que diz:  um “eventual desmembramento e dissolução das atribuições do Ministério do Trabalho iria prejudicar a realização de ações que geram emprego e renda, contrariando o que consta no caput do artigo 37 da Constituição”.

Também deixaram de existirSegurança Pública; Desenvolvimento  Social; Cultura; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Planejamento; Esporte; Integração Nacional; e Cidades. A segurança pública foi para o superministério da Justiça. O do Transporte virou de Infraestrutura. Foi criado o da Cidadania (que mistura Desenvolvimento Social, Esporte, Cultura e parte do Trabalho) e o do Desenvolvimento Regional (que junta Integração Nacional e Cidades).

Como já tinha sido dito, o do Meio Ambiente e o da Agricultura continuam separados – a união deles foi ventilada por Bolsonaro durante a campanha, pegou muita gente de surpresa após a eleição e acabou sendo deixada de lado. Se para comandar a Agricultura o nome de Tereza Cristina já está certo, falta definir o do Meio Ambiente.

E o Ministério dos Direitos Humanos fica. Vai ter uma secretaria para políticas para mulheres, população LGBT e igualdade social.  O nome para comandar a pasta ainda não foi anunciado, e sabe-se lá como vai ser a atuação.

Diante das projeções de que a base do governo no Congresso, vai ser instável, Lorenzoni falou que o relacionamento entre Executivo e Legislativo vai ser diferente, que estão “criando um novo mecanismo que não existe“, sem toma-lá-da-cá,
“uma nova lógica de relacionamento de construção de maioria que passa primeiro na relação com as bancadas, depois frentes parlamentares e vamos ter coordenadores regionais”.

O presidente eleito deve se reunir esta semana com as bancadas de quatro partidos: PR, MDB, PRB e PSDB. Segundo a Agência Brasil, os encontros podem gerar uma base de 126 apoios. Por enquanto, só o próprio partido de Bolsonaro oficializou apoio.

DOADORES

Lupa checou quem foram os doadores das campanhas dos futuros ministros que hoje atuam no Congresso. Como Mandetta, da Saúde. Em sua última campanha, em 2014, ele arrecadou R$ 2,114 milhões. Da Amil vieram R$ 100 mil; outros R$ 100 mil vieram do empresário do setor de informática João Roberto Baird, preso recentemente pela Operação Vostok da Polícia Federal. Na eleição anterior, um grupo de 19 empresas forneceu quase R$ 1  milhão. Três doaram volumes grandes, as três de construções.

Tereza Cristina recebeu um dinheiro considerável de empresas do agronegócio – quase dois milhões de três empresas. O agro também ajudou a financiar Onyx Lorenzoni. E ele recebeu ainda uma boa quantia (460 mil, em quatro eleições) da fabricante de armas Taurus.

E SE O EXÉRCITO ACABASSE?

Certo, cada caso é  um caso, mas a matéria do El País sobre a Costa Rica dá o que pensar. Este sábado teve festa pra comemorar os 70 anos da abolição do Exército, uma decisão que trouxe ganhos para além da imagem de pacifista. Uma pesquisa da Universidade da Costa Rica mostrou, em números, como aumentou o investimento social, que simplesmente quintuplicou nos 25 anos posteriores à medida: de 2,6% do PIB, passou a 13,4%. Saúde e educação foram especialmente beneficiadas. O número de escolas triplicou, assim como a porcentagem de seguridade social da população. Como uma bola de neve do bem, esses avanços impactaram o crescimento médio da economia, que dobrou no período.

DISPARIDADES

Os médicos que se inscreveram para substituir os cubanos têm até o dia 14 para se apresentar. No Rio Grande do Sul, um dos municípios mais atingidos pela saída dos cubanos é São Gabriel, com 60 mil habitantes, em que 80% da população depende só do SUS. Dos 13 médicos inscritos para ocupar as novas vagas, só um já se apresentou e três já informaram desistência. Os postos de saúde estão com 50% da capacidade e as unidades do interior estão sem atendimento médico. Pacientes acamados que recebiam visitas domiciliares estão totalmente desassistidos.

E na capital paulista, por enquanto, só houve uma desistência entre os 78 inscritos; 49 profissionais já se apresentaram para trabalhar e ainda faltam 29. As primeiras vagas preenchidas ficam nas nas regiões centro-oeste e sudeste ou nas proximidades de estações de trem e metrô. Já as remanescentes ficam nas regiões periféricas. “O ideal seria ter mais vagas alocadas na região central, seria mais fácil. Quem mora em São Paulo sabe da dificuldade em ir nessas regiões mais complicadas de transporte público e carro”, disse ao Estadão o primeiro a escolher sua UBS, Allan Mesquita Brito.

O futuro ministro da saúdeMandetta, disse que está esperando o dia 14 para avaliar a tentativa de preenchimento das vagas, segundo a coluna de Mônica Bergamo na Folha. Ele acredita que os editais deveriam recrutar primeiro para as áreas vulneráveis, e prometeu estudar medidas adicionais caso as vagas não sejam definidas. Rejeita convocar recém-formados que usaram o Fies, mas considera oferecer abatimento da dívida de quem for. Outra opção seria mandar médicos das Forças Armadas.

NÃO ESTÁ FÁCIL

Na Andaluzia, um partido de extrema-direita passou de zero a 12 deputados no parlamento. O Vox quer revogar a lei contra a violência de gênero – uma espécie de Lei Maria da Penha da Espanha –  “e de qualquer norma que discrimine um sexo em relação ao outro”. Vai além: defende uma “perseguição efetiva” a falsas denúncias, que representam apenas 0,1% do total. Também quer suprimir da saúde pública o aborto, que considera “alheio à saúde”; defende o fim do casamento igualitário e a supressão de “órgãos feministas radicais subvencionados”.

ORDEM NA CASA

A OMS vai criar um grupo de trabalho pra avaliar os riscos de modificações genéticas. O anúncio vem na esteira dos bebês geneticamente modificados do cientista chinês He Jiankui. As modificações “não podem simplesmente ser feitas sem regras claras”, segundo afirmou o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus em comunicado à imprensa.

E o cientista está sumido desde a quarta-feira, quando falou publicamente sobre seu experimento. Há boatos de que esteja em prisão domiciliar, mas ninguém sabe.

Uma lista de 15 detalhes problemáticos da pesquisa estão na Atlantic. Exemplos: ela não abordou uma necessidade médica que não tivesse outro jeito de ser atendida, a edição genética foi mal executada e houve problemas com o consentimento informado dos participantes.

MAIS UM EFEITO

A epidemia de opiáceos nos EUA é tema de boas reportagens há muito tempo. Chama a atenção o papel da indústria farmacêutica nisso tudo, já que a maior parte das pessoas atingidas começa com remédios para dor. E o Star Tribune traz dados desconcertantes: em Minnesota, o abuso de drogas por parte dos pais se tornou a principal razão pela qual as crianças têm sido retiradas de suas famílias. Só entre 2015 e 2017, foram seis mil casos. O número representa um terço do total das remoções – há uma década, era uma cada dez. Além disso, aumentou o número de recém-nascidos expostos a opióides no útero: são 1.600, mais que o dobro do que em 2013.

O principal analgésico apontado como culpado pela crise é a Oxicodona, da Purdue Pharma. O remédio vicia nada menos do que 10% das pessoas que o utilizam. E o El País espanhol fala sobre a família Sacklers  – ou do “império”, como chama -, que está por trás dele. Ao mesmo tempo em que a farmacêutica paga pesquisadores e médicos para dizerem que a culpa não é sua, mas dos consumidores,  os Sacklers limpam seu nome com filantropia.

CRESCENDO MAIS

A farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) vai comprar a Tesaro  por US$ 5,1 bilhões. Com isso, ganha uma classe de medicamentos contra o câncer chamada de inibidores de PARP. Acredita-se que os inibidores de PARP funcionem em cânceres de ovário e próstata e estão sendo estudados em combinação com drogas de imunoterapia.

MUSEU NACIONAL

Faz três meses que um incêndio tomou o Museu Nacional, no Rio. Logo no dia seguinte, Michel Temer anunciou a criação de uma “rede de apoio econômico” para auxiliar a reconstrução do espaço. Foi por escrito. Mas, como mostra Agência Lupado papel não saiu.