O que pensa a futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos

Anunciada ontem, Damares Alves é pastora evangélica e assessora de Magno Malta. Essa e outras notícias aqui, em dez minutos.

Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil
.

A MINISTRA DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS

É difícil pinçar, das reportagens que já saíram, só algumas das informações mais relevantes ou negativamente impressionantes sobre a titular do (novo) Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Damares Alves é advogada, pastora evangélica e assessora de Magno Malta (por sinal, ele está triste por não ter um ministério para chamar de seu). Foi anunciada ontem por Onyx Lorenzoni e deu sua primeira entrevista coletiva ao lado do deputado eleito Julian Lemos (PSL-PB), que foi acusado de agressão pela irmã e pela ex-mulher, como lembra o Jornal do Brasil.

Ela fez uma fala, digamos, quase normal para o cargo. Disse que vai protestar contra empresas que paguem salários diferentes para homens e mulheres, que precisamos mudar a realidade do Brasil (porque o país ganhou o título de “pior país da América do Sul” para se nascer menina), que vai dialogar com movimentos LGBT. Afirmou ainda que o ministério vai ter uma secretaria dedicada às crianças e que vai “propor um pacto pela infância”, embora não tenha dado detalhes (imaginamos se será, por exemplo, se opondo à ideia da redução da maioridade penal).

Porém… afirmou que não vai lidar com aborto, mas com políticas de planejamento familiar. Porque “se a gravidez é um problema que dura só nove meses, o aborto é um problema que caminha a vida inteira com a mulher”. Você leu certo. “Essa pasta não vai lidar com o tema aborto, vai lidar com proteção de vida e não com morte”, declarou.

A Funai, que até ontem não se sabia para onde ia, agora terá essa pasta como destino. Damares se esquivou da pergunta sobre demarcações de terras: “Demarcação de área é um tema delicado, um tema polêmico […] Esse novo governo vem com novas propostas”. Todo mundo lembra de Bolsonaro afirmando que não ia demarcar um milímetro. A defesa da nova ministra foi: “Ele tinha embasamento para isso. Eu, particularmente, questiono algumas áreas indígenas, mas isso é um assunto que vamos falar muito e vamos discutir”.

Além da coletiva, ela deu uma entrevista ao Globo pintando um autorretrato até razoável. Diz que quer trazer para o ministério os “invisíveis”: “os ciganos, a mulher ribeirinha, a mulher seringueira, cortadora de cana, que cata siri, que quebra coco, que colhe açaí. Essas mulheres de mãos calejadas não estão no protagonismo e as políticas públicas nem sempre chegam nelas”. Que precisa colocar travestis nas universidades. Que o casamento homoafetivo é uma conquista praticamente definida. Afirma que, por natureza, a mulher nasce para ser mãe e o homem para ser provedor, mas alivia, reconhecendo que “a raça humana mudou”. Mas quando a conversa sobre gênero engrena, logo começa: “Todos os meninos vão ter que entregar flores para as meninas nas escolas, para entender que nós não somos iguais. Quando a teoria de gênero vai para a sala de aula e diz que todos são iguais e que não tem diferença entre menino e menina, as meninas podem levar porrada, porque são iguais aos meninos”.

As mais razoáveis dessas declarações chegaram a fazer com que, no Jornal GGN, Luiz Nassif classificasse Damares como “a pastora com ideias modernas“.

Mas se várias das falas de ontem já deixam ver que não é bem assim, as do passado então… O  Estadão recuperou uma pregação que ela fez em 2013 na Primeira  Igreja Batista, em Campo Grande. “Não são os deputados que vão mudar essa nação, não é o governo que vai mudar esta nação, não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja evangélica, quando clama. É a igreja evangélica, quando se levanta”, emocionou-se, ao lembrar o dia em que a bacada evangélica barrou a lei que poderia descriminalizar o aborto. É porque, segundo ela, a vitória se deu após uma noite de orações na Câmara. Na mesma palestra, ela negou que aborto seja uma questão de saúde pública e que milhares de mulheres morram em procedimentos inseguros. “Eles manipulam os dados, as estatísticas, as informações para impor na sociedade brasileira uma cultura de morte”.

No maior estilo medo-do-kit-gay, mostrou aos fiéis livros infantis sobre igualdade de gênero e tolerância que supostamente eram distribuídos pelo Ministério. “A homossexualidade, ela é aprendida a partir do nascimento, lá na infância. A forma como se lida com a criança. Mas ninguém nasce gay”.

Ainda na pregação, falou também também de bebês indígenas que foram ‘salvos’ por missionários – ela própria tem uma filha adotiva indígena. A futura ministra explicou ontem essa ‘salvação’: “assessorando a CPI da Funai, descubro que alguns povos no Brasil, por uma questão cultural, ainda matam crianças porque não sabem o que fazer com elas quando nascem com alguma deficiência física ou mental”. Mas Saulo Feitosa, que é professor da UFPE e já foi do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) disse ao El País que os casos de abandono são esporádicos, muito menores do que os do mundo urbano. E que a atuação de Damares vai no sentido de retratar povos indígenas como comunidades bárbaras, para facilitar a desterritorialização dos povos tradicionais do país. Na coletiva, Damares afirmou que “o índio é gente e precisa ser visto de uma forma como um todo. Índio não é só terra”.

CONTRA A DESISTÊNCIA

O governo federal quer endurecer as regras pra quem desistir do Mais Médicos, diz a Folha. Hoje, desistentes não precisam devolver o valor das passagens aéreas e da ajuda de custo (que pode chegar a R$ 35,4 mil) se ficarem no programa por ao menos seis meses, mas a ideia agora é que o valor seja devolvido de forma proporcional ao tempo em que o médico esteve no programa.

E, no mesmo jornal, as condições precárias de uma unidade de saúde na terra indígena Massacará, na Bahia: “As fezes de morcego pesaram, e o teto desabou“.

Aliás, as inscrições para este edital terminam hoje, e, até ontem à tarde, restavam 115 vagas abertas. As regiões indígenas e os estados do Nortesofrem com a falta de inscrições, como mostra o Brasil de Fato. Até agora, o Amazonas é o estado da região Norte onde sobram mais vagas.

Em tempo: ontem falamos aqui sobre o programa de voluntários que estão substituindo temporariamente os médicos cubanos no Ceará. Um leitor nos avisou que por trás dessa mobilização eestá Mayra Pinheiro, a mesma que vaiou os cubanos quando eles começaram a chegar no Brasil, e a mesma que vai assumir a SGTES e será responsável pelo Mais Médicos.

CONFLITO DE INTERESSES

Está sob investigação no TCU uma compra no valor de R$ 220 milhões feita pelo Ministério da Saúde. Rodrigo Silvestre era servidor do laboratório paranaense Tecpar até que, em 2016, foi cedido à Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério. Lá, participou do processo de contratação do Tecpar para distribuir um medicamento contra o câncer para o SUS, que acabou saindo por um valor muito maior do que o de mercado. E agora ele voltou à Tecpar – promovido a diretor industrial. Silvestre disse ao Estadão que não houve conflito de interesses e que não é o primeiro funcionário de laboratório público a atuar no ministério e depois retornar para o posto de origem.

UM BILHÃO

E em Canoas (RS), o Ministério Público investiga suspeitas em um contrato de R$ 1 bilhão para a gestão da saúde. Foram expedidos quatro mandados de prisão para pessoas ligadas ao Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp), que administra os hospitais universitários, o Pronto Socorro, duas unidades de pronto atendimento e quatro de atendimento psicossocial. Segundo o Zero Hora, foram detectados “superfaturamento de medicamentos em até 17.000%, utilização de laranjas e testas de ferro do chefe do esquema na direção do Gamp, além do pagamento de viagens de férias pagas com dinheiro público da saúde de Canoas”. Também houve desvio de pelo menos R$ 40 milhões da prefeitura para pessoas do Gamp.

PARA ONDE APONTAM AS PESQUISAS

Afinal, comer alimentos orgânicos pode prevenir cânceres? Só há duas pesquisas de grande amplitude e elas não são conclusivas, mas a última sugere fortemente que sim, como mostra a matéria do New York Timesrepublicada no Estadão. Ela investigou 70 mil franceses por cinco anos. Quem comia mais orgânicos teve em média 25% menos câncer. Como essas pessoas  costumam ter outros comportamentos saudáveis, os pesquisadores fizeram ajustes para levar em conta estas diferenças, mas ainda assim os resultados são bem expressivos. Não foram testados os níveis de agrotóxicos no organismo dos participantes, então são necessários mais estudos.

A outra, de 2014, encontrou um risco bem menor de ter linfoma não-Hodgkin entre mulheres que disseram consumir normalmente alimentos orgânicos. Mas, para outros cânceres em geral, não houve mudança no risco e, para câncer de mama, ele foi mais elevado entre essas mulheres. É que há muitos outros fatores em jogo além da alimentação. Esse índice de câncer de mama, por exemplo, pode ser explicado pelo fato de que mulheres mais ricas, com maiores condições de adquirir alimentos orgânicos, também têm em geral fatores de risco  para câncer de mama, como o fato de terem menos filhos.

O CASO SOUZA CRUZ

Até 2002, a Souza Cruz colocava nos maços de cigarro um cartão que os consumidores podiam usar para cobrir aquelas imagens de advertência que vêm neles. Agora, pode ser condenada pelo STJ a pagar R$ 1 milhão. O argumento da empresa é, veja só, que não era ela quem escondia o alerta, mas os consumidores, se quisessem.

A PRIMEIRA PANDEMIA

Uma descoberta valiosa foi feita por uma equipe de geneticistas. Eles encontraram o cadáver de uma jovem camponesa enterrada há cinco mil anosna Suécia e, no DNA dos seus dentes, a cepa da bactéria Yersinia pestis, que tem as mesmas variantes genéticas que atualmente tornam a peste pulmonar letal. Os pesquisadores acreditam que estão diante de  indícios da primeira grande pandemia da humanidade: justo há cinco mil anos, por razões desconhecidas, houve uma brusca redução da população, de 30% a 60%, como a que aconteceu mais tarde com a Peste Negra.

Leia Também: