O blefe de Arthur Lira sobre a Saúde

• Situação dos yanomami hoje • Transferência de renda reduz mortes • Internações de motociclistas aumentam • “Plante comida, não tabaco” • Cirurgia bariátrica em crianças •

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A sanha de se apropriar de todos os recursos disponíveis no país – financeiros, naturais, territoriais – continua a orientar os esforços políticos do chamado “centrão”. Depois de impor retrocessos legislativos e administrativos que poderiam jogar todos os compromissos e leis ambientais nacionais no lixo, capazes de produzir uma tragédia que seria de toda a humanidade, Arthur Lira mostra que quer um pouco mais. Sem nenhum compromisso com o programa de governo eleito nas urnas, o presidente da câmara plantou a boataria de que estaria a cobiçar para seu partido e bloco aliado os três ministérios do União Brasil. 

Se consideramos que o partido que fundiu PSL e DEM mostra pouca utilidade em defender pautas referentes às necessidades essenciais do povo e desafios civilizatórios do nosso tempo, em especial ambientais, a iniciativa parece uma esperteza óbvia. No entanto, o homem que blindou Bolsonaro do impeachment mandou dizer que quer também o ministério da Saúde – talvez o mais importante e produtivo de um governo que fala em reconstrução. Por ora, parece um blefe, daqueles que beiram o deboche. Resta aguardar a reação do governo Lula, que nos últimos minutos de ontem conseguiu aprovar a MP da Esplanada, mas cuja articulação política tem se mostrado pouco habilidosa em enfrentar o previsível jogo sujo de um Congresso essencialmente oligárquico.

Enquanto isso, sofrimento indígena prossegue

Alvo de uma deliberada política de morte de Bolsonaro, sob a bênção do líder máximo da política fisiológica, os yanomami seguem em sua luta por sobrevivência. Em entrevista à AFP, Nísia Trindade deu uma atualização de sua situação e reconheceu a lentidão do processo de recuperação de indicadores básicos de saúde. “Tivemos melhorias, sim, vimos uma recuperação nas taxas de desnutrição, que era uma das situações mais drásticas que encontramos. Mas ainda temos um grande número de casos de malária, 6.735 neste ano, com oito óbitos”, declarou. Antes disso, em sua viagem à Genebra para participar da 76ª Assembleia Mundial da Saúde, a ministra apresentou uma resolução na qual coloca a saúde indígena como prioridade. “Essa resolução representa que será possível, primeiro, um reconhecimento de que existe uma questão específica dos povos indígenas, que resoluções gerais não dão conta. Em muitos países, como o Brasil, indicadores como mortalidade infantil, mortalidade materna, expectativa de vida, são dos mais baixos entre os indígenas, em relação à população como um todo”, explicou Nísia.

Programas como Bolsa Família reduzem mortes de mulheres e crianças

Programas de transferência de renda direcionados à redução da pobreza têm mostrado eficácia na redução das mortes entre mulheres e crianças pequenas, de acordo com uma análise recente envolvendo mais de 7 milhões de pessoas em 37 países. Segundo o jornal NY Times, resultados indicam que os países que implementaram esses programas observaram uma diminuição de 20% na taxa de mortalidade entre as mulheres e de 8% nas mortes de crianças com até 5 anos. Foi constatado ainda que essas reduções independem das condições impostas para o recebimento do dinheiro – como exigência de frequência escolar (caso do Bolsa Família) e outras. Programas que alcançaram uma maior proporção da população ou distribuíram quantias maiores de dinheiro apresentaram benefícios ainda maiores. Países com sistemas de saúde precários e altas taxas de mortalidade foram os que apresentaram a maior redução nas mortes. Esses resultados destacam o impacto da pobreza na saúde e ressaltam a necessidade dos programas de transferência de renda como uma estratégia global.

Acidentes de trânsito com motociclistas aumentaram em 10 anos

A taxa de internação de motociclistas após acidentes de trânsito aumentou 55% ao longo de uma década. Os dados são de hospitais do SUS e seus conveniados, e compreendem o período entre 2011 e 2021. Embora o número de mortes não teve aumento significativo – caíram ligeiramente de 5,8 por 100 mil para 5,7 por 100 mil –, há dois dados que precisam ser decifrados a respeito delas. Primeiro: hoje motociclistas são 35,3% das vítimas fatais no trânsito, e em 2011 eram 26,6%. Segundo: 49,5% das mortes acontece na via pública, não nos hospitais – ou seja, ou o acidente foi muito grave ou o atendimento falhou. A falta de atenção parece ser o motivo mais significativo, segundo médicos ouvidos pela Folha. Há ainda outras informações importantes: o Nordeste é a região que tem mais estados com alto índice de internações entre motociclistas. Também é lá onde menos se usa capacete: apenas 68,6% deles afirmou utilizá-lo. O perfil dos internados em geral é de homens, negros, na faixa de 20 a 29 anos.

E se plantássemos alimentos em vez de tabaco?

Um estudo realizado na Unicamp revelou que se o Brasil utilizasse 30% das terras dedicadas ao cultivo de tabaco para produzir arroz, haveria um aumento de 723,6 mil toneladas na safra anual. Além disso, a mesma porcentagem de terra poderia gerar 300 mil toneladas a mais de trigo por ano. O plantio de tabaco no Brasil ocupa a mesma área que toda a produção de vegetais, legumes e frutas consumidos no país – o que tornaria a transição uma vantagem também para a segurança alimentar. No entanto, a mudança requer investimentos e apoio, além de financiamento para as famílias produtoras de tabaco. O estudo destaca que a produção de tabaco no sul do Brasil é uma tragédia humanitária, com exposição a agrotóxicos e riscos de intoxicação. O estudo acompanha a campanha global promovida pela OMS em 2023: “Precisamos de alimentos, não de tabaco”. A nota técnica encomendada pela ONG ACT destaca a importância de garantir opções de produção para as famílias envolvidas no cultivo de tabaco, em conformidade com a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da OMS. Implementar ações nesse sentido traz ganhos sociais e econômicos, beneficiando a saúde da população em geral.

EUA: cirurgia bariátrica em crianças e adolescentes cresce 100% em 5 anos

Uma das epidemias contemporâneas, a obesidade se alastra na população do mundo, a ponto de se prever que até um terço da humanidade estará acima do peso até 2035. Mesmo entre jovens, os índices têm se agravado nos últimos anos. As explicações são múltiplas: alimentação inapropriada com altas doses de ultraprocessados, sedentarismo e uso intensivo de telas como entretenimento são causas centrais deste problema de saúde coletiva. Nos EUA, a situação chegou a tal ponto que a Associação Pediátrica Americana do país fez uma atualização de suas resoluções após 15 anos, de maneira que medidas tidas como polêmicas entre especialistas, como cirurgias bariátricas e metabólicas, passaram a ser oficialmente recomendadas. Como mostra matéria de O Globo, a decisão apenas referendou um fenômeno que já estava em andamento, uma vez que entre 2016 e 2021 o número dessas intervenções cirúrgicas em tal público passou de 726 a cerca de 1.300.

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