Novo Farmácia Popular terá de lidar com desigualdades regionais

• Desigualdades no Farmácia Popular • Mercúrio em peixes na Amazônia • Terapia celular brasileira para câncer • Como reverter baixa vacinação infantil? • Entraves ao aborto previsto em lei •

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Auditoria do TCU informa que os cinco estados mais ricos do país (SP, RJ, MG, RS e PR), concentradores de 54,2% da população, receberam 72,23% dos recursos do programa Farmácia Popular, destruído por Michel Temer a partir de 2017. Em vias de ser relançado, o programa pretende retomar os antigos níveis de fornecimento de remédios à população. Hoje, cerca de 25% dos brasileiros recorrem ao programa, que fornece medicamentos de tratamentos básicos em saúde ou condições de alta incidência, como hipertensão e diabetes. Como mostrou a mídia, Bolsonaro desfalcou o pouco que restou do orçamento do programa para financiar o orçamento secreto. “A gente tem estudos que demonstram que o gasto com o programa traz benefícios com redução de hospitalizações e com impacto na redução da mortalidade por doenças que podem ser tratadas. Do ponto de vista de saúde pública é um programa que teve impacto populacional muito positivo. Mas é evidente que, como qualquer programa, pode ser e deve ser aprimorado”, disse Adriano Massuda, sanitarista e professor da FGV, ao Uol.

As sequelas do garimpo na alimentação

Uma nota técnica produzida por organizações diversas, como Fiocruz e Greenpeace, afirma que a concentração de mercúrio em peixes de estados amazônicos apresenta níveis nocivos ao organismo humano. A pesquisa se deu tanto com peixes carnívoros como não carnívoros de seis estados amazônicos, o que atesta a disseminação do metal tóxico, usado na busca por ouro em leitos de rio, em diversas espécies e ecossistemas locais. “Assim como está acontecendo na terra indígena yanomami, que está tendo uma força-tarefa do governo federal para retirar os garimpeiros de lá, esse mesmo processo tem que ser estendido a outras áreas da Amazônia que estão conflagradas pela presença de garimpos ilegais”, denunciou Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz, em matéria publicada pela Folha.

Ciência brasileira: Nova terapia celular cura câncer em um mês

Um novo tratamento de câncer passou a ser testado no Brasil a partir da parceria entre a Fapesp (financiadora), USP, Instituto Butantan e Hemocentro de Ribeirão Preto e já apresentou um resultado promissor: o paciente Paulo Peregrino, de 61 anos, conseguiu curar um câncer contra o qual lutava há 13 anos. O tratamento consistiu no uso das células CAR-T, a partir de uma técnica de multiplicação dos linfócitos de tipo T do nosso sistema imunológico. Introduzidos no organismo, atacam com mais força as células cancerígenas. Além da remissão total de Paulo, todos os outros 13 pacientes que participaram do teste tiveram recuo de ao menos 60% de seus cânceres. O tratamento ainda é muito caro e só existe na rede privada, onde custa cerca de R$ 2 milhões. O estudo que pode levar à aprovação desta nova terapia está calculado em torno de R$ 60 milhões e já foi apresentado ao ministério da Saúde, com previsão de potencial economia de R$ 140 milhões, considerando os custos atuais.

Fiocruz busca combater hesitação à vacinação infantil

A descrença na ciência e nos tratamentos em saúde, desenvolvidos por instituições construídas ao longo de décadas nos mais variados tecidos sociais, continua a produzir uma tragédia sobre aqueles que não podem se pronunciar ao mundo: as crianças. Foram mais de 2 mil mortes por covid no Brasil nesta população, boa parte dela após a disponibilidade da vacina, que contou com entraves sem nenhuma base científica da parte do governo Bolsonaro. Como mostrou Outra Saúde, o ex-ministro Marcelo Queiroga sabotou a vacinação infantil contra covid. E a tragédia segue a se ampliar: segundo a OMS, cerca de um quarto da população infantil não tomou nenhuma vacina em 2021. Agora, a Fiocruz lança o “Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais”, a fim de alcançar os antigos índices de vacinação, que já chegaram a 97% no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, 81% dos médicos relatam receber pais – vacinados – que declaram indisposição de imunizar seus filhos. No momento, a campanha de vacinação contra a gripe segue em baixa, ao passo que o número de internações de crianças por problemas respiratórios bate recordes, o que terá tudo para se intensificar no inverno brasileiro.

Pandemia e bolsonarismo, obstáculos ao direito ao aborto legal

Um estudo realizado pelo Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação Técnica em Gênero e Saúde (MUSA) do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da UFBA, em conjunto com o Grupo Curumim Gestação e Parto e o Ipas Brasil, atesta que o acesso ao aborto legal foi dificultado no país no período da pandemia. “As unidades que realizam o procedimento no estado estão localizadas na capital ou em grandes centros urbanos e isso se transforma em uma barreira de acesso às pessoas com capacidade de gestar, que residem no interior e precisam do serviço”, explicou Paloma Silveira, bióloga e professora, ao Brasil de Fato. Alvo dos discursos de pânico moral do bolsonarismo, o direito ao aborto no país foi afetado por uma combinação de fatores, que vão desde o desfinanciamento da atenção básica e redução das equipes nas unidades de saúde do país até a própria estigmatização social incentivada pelo seu espectro político. A portaria 2.561, de 23 de setembro de 2020, que passou a praticamente exigir uma investigação policial antes da concessão do direito ao procedimento em casos previstos em lei, talvez tenha sido o entrave mais decisivo à questão.

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