O anúncio de Doria

Governador promete vacina em dezembro – mas resultados da CoronaVac ainda não saíram. Para governadores, se mantida essa ideia, pode haver ‘turismo da vacina’

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O governador João Doria (PSDB) afirmou que a vacinação em São Paulo acontecerá no mês que vem. “Por que iniciar em março se podemos fazer no mês de janeiro, como outros países começam a fazer agora, no mês de dezembro?”, questionou. As afirmações foram feitas ontem no aeroporto, onde o tucano foi receber 600 litros do princípio ativo da CoronaVac que serão usados para produzir um milhão de doses. No total, SP negociou 46 milhões de doses com a Sinovac – o suficiente para vacinar toda a população do estado. 

O anúncio de Doria causou uma onda de preocupação entre governadores, de acordo com a coluna Painel. Eles temem que o descompasso entre a campanha paulista e o cronograma nacional de vacinação do Ministério, que começa em março, seja um estímulo para que pessoas de outros estados viajem até São Paulo para tentar receber o imunizante. Ao que parece, o incômodo não é com o tucano, mas com o governo federal. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) aposta que a pressão popular vai fazer com que Jair Bolsonaro reveja sua posição contrária à incorporação da CoronaVac ao Programa Nacional de Imunizações. “Senão haverá desgaste em sua popularidade”, disse ela.  Governadores como Renato Casagrande (PSB-ES) e Wellington Dias (PT-PI) também pressionam. 

E há outros sinais de como se dará o comportamento social diante da realidade cada vez mais próxima de uma vacina. Um grupo do Ministério Público de São Paulo encaminhou ao procurador-geral do estado pedido para que a instituição defenda a inclusão dos procuradores como grupo prioritário para receber a imunização. Dizem que “não é uma questão de egoísmo” já que trabalham em atividades com contato social. O procurador-geral Mário Sarrubbo é contra. Em áudio vazado, ele afirma que o pleito “não tem o menor cabimento” e que os procuradores precisam entrar nas regras gerais. Elas serão conhecidas na segunda-feira, de acordo com Doria.

O prazo do governador abriu nova rodada de especulações, já que a viabilidade da campanha depende, até que se prove o contrário, da aprovação do imunizante pela Anvisa. Mas UOL afirma, com base na leitura da lei 13.979, que prefeitos e governadores podem adotar no âmbito de suas competências e com base em evidências científicas “autorização excepcional e temporária para a importação e distribuição de quaisquer materiais, medicamentos, equipamentos e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária sem registro da Anvisa considerados essenciais para auxiliar no combate à pandemia”. A reportagem também destaca um trecho que diz que para obter tal autorização o produto teria que ser registrada por pelo menos uma das agências reguladoras dos EUA, da União Europeia, do Japão ou da… China. 

De qualquer forma, o diretor do Butantan informou ontem que pretende apresentar à Anvisa os resultados de eficácia da CoronaVac até o próximo dia 15. Disse também que o instituto vai buscar o registro definitivo, não o emergencial para grupos específicos anunciado pela agência reguladora anteontem.