“Não há mais lugar seguro em Gaza”, diz a ONU

• O horror do ataque ao hospital em Gaza • Orçamento do Capes sofre contingenciamentos • Colher de chá para a indústria alimentícia • Fome e desenvolvimento infantil • IA no SUS • Pós-graduação pelo Mais Médicos •

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Foto: NBC

A escala dos crimes de guerra perpetrados por Israel cresce em paralelo à intensificação do conflito iniciado na última semana. Pelo menos 500 pessoas foram assassinadas ontem (17/10) por um ataque aéreo israelense a um hospital em funcionamento na Faixa de Gaza, calculam autoridades de saúde palestinas. O saldo de mortos ainda deve crescer, já que milhares – entre eles, muitos que já estavam em estado grave no hospital – foram feridos pelas bombas. Uma agência das Nações Unidas que gere uma escola vizinha, atingida pelos mesmos foguetes, denuncia que “não há mais nenhum lugar seguro em Gaza”. A OMS também se pronunciou condenando o ataque. O massacre é só a última das ilegalidades flagrantes cometidas pelas forças sionistas nessa guerra desigual. A própria ONU alerta que a ordem dada por Israel para que 1 milhão de palestinos saiam imediatamente da parte norte de Gaza viola o direito internacional – e coloca civis em uma situação de “não ter para onde ir, sem ter como escapar das bombas e mísseis, encontrar água e comida ou fugir da catástrofe humanitária”, nas palavras de uma representante da organização.

Governo bloqueia R$116 milhões do orçamento da Capes

O Poder Executivo já bloqueou, em 2023, R$116 milhões em recursos da Capes, revelou a Folha de S.Paulo. Além disso, se aprovada, a proposta de Lei Orçamentária Anual de 2024 proposta pelo governo reduzirá em mais R$128 milhões as verbas da agência, principal fomentadora da pós-graduação no Brasil. Se vistos em perspectiva, os cortes ainda não rebaixam o financiamento da pesquisa às baixas históricas do pós-golpe. Para comparação, no último ano do governo Bolsonaro, o orçamento da Capes foi de R$3,6 bilhões. Neste 2023, a cifra girava em torno de R$5,5 bilhões – maior valor desde 2015 – até os contingenciamentos desta semana. Mesmo assim, o fato é grave e gerou críticas de entidades de cientistas. A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) divulgou nota relatando “preocupação diante dos cortes no orçamento de 2023 e na projeção orçamentária para 2024”. Os pesquisadores também exigem a “recomposição” dos recursos deste ano e um “aumento robusto” das verbas da Capes para o ano que vem.

Anvisa se dobra aos ultraprocessados

Na segunda-feira passada (9/10), como conta matéria d’O Joio e o Trigo, se iniciaria mais uma fase da implementação da nova rotulagem de alimentos. Nela, iriam se tornar muito mais claros os alertas nas embalagens dos produtos alimentícios sobre o alto teor de sal, açúcar e gordura dessas mercadorias. Porém, subitamente, a Anvisa adiou para o ano que vem a obrigatoriedade do novo rótulo, em decisão divulgada no dia em que ela entraria em vigor. A explicação para a súbita mudança, sugere a reportagem, pode estar na série de reuniões da agência com pelo menos sete associações da indústria alimentícia nos últimos meses. Nos encontros, os executivos fizeram pressão pela flexibilização da norma. Lamentavelmente, a Anvisa se dobrou à pressão – para prejuízo da saúde e do bem estar da população brasileira. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) enviou um ofício à agência questionando a decisão e afirmando que “a não aplicação imediata da norma significa que o Estado brasileiro continua promovendo indiretamente o consumo de alimentos ultraprocessados”.

Como a desnutrição impacta o desenvolvimento infantil

Em instigante entrevista à Revista Pesquisa Fapesp, a especialista em desnutrição Gabriela Montenegro-Bethancourt discutiu os impactos dessa condição no desenvolvimento das crianças – e os desafios dos países do Sul Global em erradicá-la. A Guatemala, onde nasceu e trabalha a nutricionista, é o país das Américas com as piores estatísticas: 46,7% de sua população com até 5 anos registra atrasos no crescimento por estar desnutrida. Entre os indígenas, a situação é ainda mais grave. Um estudo que Bethancourt conduziu junto ao povo Kaqchikel aponta que só 12% dos bebês dessa etnia têm uma dieta adequada para sua idade. Com isso, os guatemaltecos “param de se desenvolver conforme a curva esperada de crescimento” e marcam uma das menores médias de altura do mundo. Em toda América Latina, opina a pesquisadora, a insegurança alimentar se alastra, “diretamente associada com à estrutura socioeconômica e aos níveis de desigualdade” dos países. Por isso, não bastam medidas paliativas como a distribuição emergencial de comida. São urgentes as “iniciativas estruturais e políticas públicas de longo prazo que permitam melhorar o acesso a alimentos em quantidade e qualidade suficientes”.

A inteligência artificial pode servir ao SUS?

Nesta terça-feira, foram abertas as inscrições (17/10) de um edital voltado para o financiamento de projetos de Inteligência Artificial que possam ser úteis à saúde pública. A iniciativa está sendo promovida por uma parceria entre Ministério da Saúde (MS), CNPq, Fiocruz e a filantrópica Fundação Bill & Melinda Gates – esta última, sinalizando a questionável influência do setor privado em assuntos de IA e saúde. Em nota, o MS reitera que busca “soluções de IA que atendam às principais necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS)”, especialmente em temas como comunicação de saúde e trajetórias dos pacientes, formulação de políticas públicas e suporte a decisões clínicas. O secretário do MS Carlos Gadelha opina que ações como essa enfrentam “a desigualdade de conhecimento, inovação e base produtiva”, e devem ser estimuladas em países em desenvolvimento. A participação da entidade ligada a um dos empresários mais ricos do mundo, por outro lado, permite questionar se a iniciativa garantirá maior soberania tecnológica e sanitária. Será possível inscrever propostas no edital até o dia 17/11, daqui a um mês.

Mais Médicos inicia encaminhamentos para pós-graduação

Conforme prometido em seu anúncio, no início do ano, o Mais Médicos atrela a adesão ao programa a incentivos e gatilhos de avanço na formação médica do profissional. Aumentar o número de especialistas em Medicina de Família e Comunidade, espinha dorsal da atenção primária em saúde, é o principal objetivo, aliado à necessidade de manutenção do profissional no programa a longo prazo. Agora, a Rede Nordeste de Saúde da Família, iniciativa da Fiocruz do Ceará com secretarias estaduais e municipais, abre 120 vagas de pós-graduação para a região, caracterizada por maior escassez de profissionais. “Os médicos externavam essa vontade de ter mais oportunidade de formação. Incluir o mestrado nessa nova etapa de retomada do programa é um ponto fundamental, inclusive para estimular a sequência dos médicos no programa, que é um objetivo importante dessa retomada”,explica Felipe Proenço, secretário-adjunto de Atenção Primária à Saúde. Para o ano que vem, o ministério da Saúde prevê abertura de vagas para mestrado e doutorado, programada para 2025, mas que podem ser antecipadas para profissionais de qualificações mais avançadas.

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