MS teme 4,2 milhões de casos de dengue em 2024

• Casos de dengue se multiplicam • Vacina do Butantan é altamente eficaz • Brasil apoiará combate mundial à dengue? • Para identificar o barbeiro • A ameaça da encefalomielite equina • Anvisa facilita para a indústria alimentícia •

Foto: Ministério da Saúde/MS
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O Ministério da Saúde (MS) acredita que o ano será duro no combate às doenças virais transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Em reunião da Sala Nacional de Arboviroses, espaço recentemente constituído pelo MS para enfrentar a ameaça, avaliou-se que o país pode registrar até 4,2 milhões de casos de dengue. Participaram representantes do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Contudo, lembra a Agência Brasil, esse seria o pior cenário — sete vezes mais que a média histórica, de 600 mil casos ao ano. A estimativa considerada mais provável – mas não menos alarmante – é que o Brasil chegue a 1,9 milhões de diagnósticos em 2024. Só em janeiro, foram 217 mil casos da doença: 233% a mais que no mesmo período do ano passado. Somam-se a estes registros um total de 13 mil casos de chikungunya, transmitida pelo mesmo mosquito.

Vacina do Butantan tem 79,5% de eficácia

Uma importante ferramenta para o enfrentamento da doença será a vacina que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. De produção nacional, seus estoques certamente serão mais acessíveis em comparação ao imunizante japonês comprado pelo Ministério – que, ademais, não poderá ser administrado em idosos. De acordo com estudo recentemente publicado no The New England Journal of Medicine, a vacina do Butantan tem eficácia de 79,5% contra a dengue com uma única dose. O resultado da pesquisa é muito positivo e a instituição científica paulista pretende submeter a vacina para aprovação das autoridades sanitárias ainda neste ano.

Brasil pode ajudar a enfrentar a doença a nível global

A vacina, é claro, não pode ser considerada uma panaceia. Para controlar as arboviroses, como explicaram estudiosos ao Jornal da USP, é preciso adotar uma estratégia que integra diversas ferramentas. É preciso combinar “iniciativas como redirecionamento de fármacos, desenvolvimento de vacinas, controle do vetor e programas de vigilância” para efetivamente enfrentar os vírus, dizem eles. Por outro lado, o surgimento de um imunizante brasileiro largamente eficaz pode ser um importante impulsionador da resposta internacional à dengue: hoje, mesmo países como Itália, França e Espanha registram casos da doença, devido a fatores ligados às mudanças climáticas e buscam soluções para o problema. O complexo econômico-industrial da saúde do Brasil pode dar sua contribuição – desde que renovado e fortalecido com investimentos.

Conhecer o barbeiro para enfrentar a Doença de Chagas

O barbeiro, transmissor da Doença de Chagas, vive em praticamente todo o território nacional – mais recentemente, foi avistado até na USP, mas a população nem sempre o reconhece. Para ajudar na identificação do inseto e reduzir os casos de uma doença que ainda causa mais de 4 mil mortes por ano no Brasil, a Fiocruz acaba de lançar o projeto Achou um barbeiro?, oferecendo ferramentas para que a população reconheça o vetor e o entregue em local adequado. Muitos ainda acreditam que é preciso matá-lo imediatamente: as informações oficiais, porém, alertam que isso pode aumentar o risco de infecção e indicam que o espécime seja entregue no Posto de Informação em Triatomíneos (PIT) mais próximo, para que se detecte a presença (ou não) do protozoário Trypanosoma cruzi. Na ferramenta da Fiocruz, já é possível encontrar o endereço de PITs em todos os estados, e o mapeamento segue identificando novos postos.

Encefalomielite equina na Argentina, no Uruguai… e agora no RS?

Doença transmitida pelas aves aos mosquitos, que por sua vez infectam cavalos e seres humanos, a encefalomielite equina está se espalhando pelo Cone Sul. Na Argentina, há um surto reconhecido oficialmente como emergência sanitária pelo governo desde novembro. Dezenas de casos já foram registrados, e levaram a alguns óbitos. Agora, o Uruguai também registrou um caso da doença em um ser humano, o primeiro em tempos recentes. Na última sexta-feira (26/1), o município fronteiriço de Barra do Quaraí, no Oeste do Rio Grande do Sul, confirmou o diagnóstico da doença em um cavalo – levantando o alerta da chegada da encefalomielite equina no país. Por enquanto, não haverá interdição de propriedades ou restrição de eventos agropecuários, dizem as autoridades sanitárias locais. Mas elas alertam para a necessidade de seguir atento aos sintomas da EEO, que afeta principalmente o sistema nervoso e pode gerar febres, cegueiras, convulsões e falta de coordenação motora em humanos e equinos.

Anvisa favorecerá indústria alimentícia?

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) entrou na Justiça contra a decisão da Anvisa, de dar mais um ano para que a indústria alimentícia venda produtos sem a nova rotulagem de advertência. Os rótulos agora devem alertar para quantidades excessivas de sal, açúcar e gordura saturada nos alimentos. Mas em outubro passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), decidiu empurrar a obrigatoriedade para o fim de 2024. “Não podemos admitir que a diretoria de uma agência tão poderosa e importante submeta-se totalmente aos interesses dos empresários, que não tiveram a competência de se adaptar à nova regra no largo tempo dado pela agência”, afirmou Igor Britto, do Idec, à repórter Mylena Melo d’O Joio e o Trigo. A reportagem obteve documentos que apontam que os setores de alimentos e fiscalização da autarquia se posicionaram de forma contrária à flexibilização. Mesmo assim, a Diretoria Colegiada insistiu em favorecer a indústria.

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