Saúde yanomami: garimpo segue à espreita

• Saúde yanomami alerta: garimpo segue à espreita • O crescimento da febre oropouche • MS investe no combate à hanseníase • As desigualdades climáticas, explicitadas • Saúde antirracista, em documentário •

Foto: Adriano Machado
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É preciso agir mais, e com urgência, pela saúde dos yanomami, conclama um revelador relatório lançado pela Hutukara Associação Yanomami na sexta-feira (26/1). Há um ano, foi declarada uma emergência de saúde pública na Terra Indígena Yanomami (TIY) e boa parte do garimpo ilegal foi expulsa. Contudo, relata o documento, garimpeiros invadiram a área novamente ainda no segundo semestre de 2023 – e as áreas desmatadas voltaram a crescer a partir de agosto. O relatório ressalta o papel do garimpo como “fator de desestabilização do serviço de saúde na TIY”, por meio da “disseminação de doenças infectocontagiosas, do aumento da violência e da contaminação por mercúrio”.

Como garimpeiros impedem trabalho da Saúde

Um trecho do documento trata especificamente da relação entre garimpo e Saúde. Em parte devido ao incêndio de postos de saúde por garimpeiros, relata, “profissionais de saúde têm evitado realizar visitas em muitas aldeias, com sérias implicações para a realização de ações fundamentais de atenção básica”. Estão comprometidas, entre outras, “vacinação, busca ativa de malária e pré-natal”. Os militares? “Só protegem os quartéis”, denuncia Davi Kopenawa. Uma série de medidas é indicada pelo relatório para reduzir as mortes na região e enfrentar a emergência sanitária. O documento, que merece leitura, está na íntegra aqui.

Febre oropouche segue desconhecida — mas alastra-se

Dados oficiais do estado do Amazonas indicam que o Brasil vive um surto da febre oropouche. Foram 223 diagnósticos só nas duas primeiras semanas de 2024, contra 424 em todo o ano de 2023. Frente à escalada, a Fundação de Vigilância de Saúde (FVS) emitiu um alerta epidemiológico para a doença. A febre oropouche é uma doença infecciosa transmitida pelo mosquito maruim. Pouco conhecida da população em geral, seus casos se concentram na região Norte. Seus sintomas são muito parecidos com os de arboviroses como a dengue e a zika. Por conta dessa semelhança, especialistas acreditam que a doença já pode ter se espalhado para estados de outras regiões do país. Os casos no Amazonas refletiriam “apenas a ponta do iceberg”, diz uma epidemiologista do Hospital Alberto Einstein. Sinais do surgimento dessa crise já estavam no ar: a Fiocruz Amazônia já havia detectado que, no ano passado, em Roraima, houve “mais casos confirmados para oropouche do que para dengue”.

R$55 milhões contra a hanseníase

O Ministério da Saúde (MS) anunciou na semana passada o investimento de R$55 milhões no combate à hanseníase. Os recursos se dividirão em três frentes: R$ 50 milhões serão repassados para municípios onde a doença é endêmica, R$ 4 milhões serão dedicados à pesquisa de novos medicamentos e o valor restante impulsionará um edital para ações de enfrentamento ao estigma e à discriminação, de acordo com a Agência Brasil. O MS ainda informou que está financiando, “juntamente com a Fiocruz, o ensaio clínico para avaliar a eficácia da Lepvax, primeira vacina específica para hanseníase do mundo, que aguarda liberação da Anvisa para prosseguir os testes”. Como informou Outra Saúde na semana passada, 96,3% dos casos de hanseníase nas Américas são registrados no Brasil – que ainda enfrenta entraves de detecção da doença mesmo em regiões de alta endemia.

Calor extremo não afeta igualmente a todos

“Os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursos de adaptação”, explica um físico da UFRJ a uma reportagem da BBC. No Brasil, esses segmentos mais atingidos tem raça, gênero e idade: negros, mulheres e idosos são mais afetados pelo calor extremo no país, conclui o estudo, de que participam o pesquisador da UFRJ e outros estudiosos de instituições como a Fiocruz e a Universidade de Lisboa. Nestes grupos está a maioria dos 48 mil brasileiros que morreram em decorrência de aumentos bruscos na temperatura, segundo dados inéditos reunidos pela pesquisa. Além disso, as ondas de calor estão se tornando cada vez mais frequentes, longas e extremas. Por isso, para os autores do estudo, é preciso instalar sistemas de alerta à população sobre a proximidade desses eventos climáticos – do contrário, as “mortes por efeito das altas temperaturas, que poderiam ser prevenidas, vão aumentar ano a ano”, alerta um especialista.

Nas telas, a saúde antirracista das favelas

Neste domingo (28/1), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Movimento Negro Unificado lançaram em conjunto o documentário Saúde antirracista na favela, é possível? na Arena Dicró, no Rio de Janeiro. Em nota, a Cooperação Social da Presidência da Fiocruz conta que o filme debate a “importância da perspectiva da raça quando são analisados os serviços oferecidos pelo SUS e a experiência das pessoas que moram em territórios de favelas”. Também traz entrevistas com pesquisadores, lideranças comunitárias e promotores populares de saúde formados por oficinas do projeto – que foi desenvolvido em parceria com coletivos locais. O projeto também gerou a Cartilha Saúde na Favela numa Perspectiva Antirracista. Lançada no fim do ano passado, ela pode ser conferida aqui. Confira o teaser do documentário.

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