Mortos de fome

Segundo Oxfam, Brasil está prestes a se tornar novo epicentro de uma grave crise: a fome no mundo

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Até o fim deste ano, o mundo pode vir a se deparar com a morte diária de 6 a 12 mil pessoas por fome. O alerta vem da ONG Oxfam, em um relatório divulgado ontem. No pior cenário, seriam mais óbitos diários por fome do que pelo coronavírus. O documento, porém, não sugere que o remédio contra a pandemia (medidas de prevenção e contenção) sejam piores do que o vírus, como afirmam alguns governantes. “Cabe aos Estados garantir a sobrevivência dessas pessoas e, ao mesmo tempo,  dar condições para que o isolamento seja posto em prática, diz ao Globo Maitê Gauto, da organização.

Países como Brasil, Índia e África do Sul estão entrando em situações críticas durante a pandemia, e o Brasil pode se tornar um dos epicentros da fome no mundo. Por aqui, diz o texto, em junho só haviam sido distribuídos 10% do auxílio prometido pelo governo federal aos trabalhadores e às empresas via Programa Emergencial de Suporte ao Emprego (PESE).  “Os riscos de disparada da fome no país são imensos quando o Estado brasileiro falha em garantir as condições mínimas de sobrevivência a todas as pessoas impactadas pela pandemia. Não basta criar programas de proteção, o que muda a vida das pessoas é fazer os recursos chegarem na ponta”, reforça Gauto, na Rede Brasil Atual.

O problema tende a ser muito pior nos países que hoje já são os focos da fome e da insegurança alimentar no mundo, em geral marcados por conflitos. O Conselho de Segurança da ONU aprovou este mês uma resolução sobre um cessar-fogo global durante a pandemia, e apelos nesse sentido têm sido feitos desde março. O Iêmen, devastado por cinco anos de guerra, tem dois terços da população passando fome e mais de dois milhões de crianças sofrendo de desnutrição moderada ou grave. No Afeganistão, onde já havia 2,5 milhões de famintos no ano passado, houve acréscimo de mais um milhão com a pandemia. Hoje, 10 países e regiões concentram os piores cenários de fome extrema: Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Venezuela, Sahel, Etiópia, Sudão, Sudão do Sul, Síria e Haiti. Juntos, representam 65% das pessoas que enfrentam situações de fome no mundo. 

Enquanto isso, ainda segundo a ONG, oito das maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo pagaram mais de US$ 18 bilhões a seus acionistas só este ano. Em comparação, em maio a ONU fez um apelo por doações: pretendia chegar a US$ 6,7 bi para ajudar dezenas países de baixa e média renda a proteger as populações da covid-19 e da pobreza extrema. 

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