Mortes maternas entre negras são o dobro que entre brancas

• Mortes maternas e desigualdade racial • Para entender os 10 anos de surtos de chicungunha • Norte terá campanha de vacinação especial • Internação compulsória no Rio? • Reparação aos encarcerados por hanseníase •

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Dados apresentados pelo Ministério da Saúde, através da pesquisa Nascer no Brasil II: Inquérito Nacional sobre Aborto, Parto e Nascimento, realizada em parceria com a Fiocruz, mostram uma faceta perversa da política de cortes em despesas sociais e precarização do trabalho. O número de mortes maternas entre mulheres negras é 100% maior em comparação com mulheres brancas. “Em 2016, as mortes maternas de negras somavam 119,4 por 100 mil nascidos vivos, enquanto as de mulheres brancas eram 52,9. Durante a pandemia, em 2020 e 2021, as proporções aumentaram: 194,8 em mulheres negras e 121 para brancas em 2021. No ano anterior, 127,6 negras e 64,8 brancas”, informa a Agência Brasil. Ou seja, o número também aumentou entre mulheres brancas, em alguma medida também afetadas pela dinâmica supracitada. Os dados deixam o Brasil mais distante do objetivo de reduzir a mortalidade materna (que significa óbitos de mães até 42 dias após o parto) para 30 por 100 mil até 2030.

Chicungunha, 10 anos: pesquisadores estudam surtos

Uma pesquisa coordenada pela médica Ester Sabino, da Universidade de São Paulo (USP), ao lado de acadêmicos de outros países, tenta decifrar as características geradoras das epidemias do vírus chicungunha. Transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, a doença já registrou sete surtos desde que foi introduzida no Brasil, em 2014. Em dois artigos publicados em revistas internacionais, os pesquisadores concluem que o período mais quente e chuvoso na maior parte do país, entre fevereiro e junho, é o momento mais corriqueiro dos surtos. Além disso, parece haver um padrão de imunização coletiva em locais atingidos pela doença, uma vez que o fenômeno dificilmente se repete em um mesmo território.

A pesquisa também relata que cerca de 60% dos municípios brasileiros já tiveram algum surto de chicungunha, indicativo de que ainda teremos outros, como provavelmente ocorre em 2023, ainda que não esteja devidamente mapeado. Outro dado preocupante é que o patógeno parece se adaptar à evolução das capacidades de defesa do organismo das pessoas infectadas. “Vimos alterações genéticas que, em outros vírus, já foram associadas ao aumento da capacidade de replicação e de adaptação ao hospedeiro”, falou o virologista Luiz Alcântara, pesquisador do Instituto René Rachou, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais, à Revista Fapesp.

No total, o Brasil já registrou 1,2 milhão de casos e cerca de mil mortes por chicungunha, doença de características similares à dengue. Mulheres, crianças e idosos são o público mais atingido, o que sugere um caráter doméstico de sua proliferação.

Ministério inicia campanha contra gripe no Norte

Com a chegada do inverno amazônico, diferente do restante do país, o Ministério da Saúde começou nesta quarta uma nova campanha de vacinação contra os três tipos de gripe mais comuns do país. São cerca de 7 milhões de doses disponibilizadas, com amplo leque de perfis populacionais colocados na lista de preferência da imunização. Trata-se de versão menos atual da vacina, o que o Ministério promete mudar no ano que vem. Mesmo assim, a proteção é garantida. O Norte do país já teve campanha de vacinação em abril, mas o governo afirma que agora se iniciará período mais chuvoso e, portanto, propício para aumento de casos de gripe. No restante do país, a campanha começará em abril de 2024.

Abrasco se posiciona contra internações compulsórias no Rio

Diante da falta de soluções para o aumento da miséria e da população de rua nos últimos anos, a prefeitura do Rio de Janeiro anunciou a intenção de avançar no uso do mecanismo da internação compulsória de dependentes químicos. Trata-se de medida direcionada à população de rua, dentro de tradicional visão higienista que ignora determinantes sociais do fenômeno. Em nota, a Abrasco destacou o fracasso histórico de tais medidas e defende uma política de acolhimento integrada a outras políticas públicas de fomento ao bem estar social. “Atualmente, políticas públicas focadas na repressão já acumulam inúmeras evidências científicas de seus efeitos desastrosos na solução do problema, tanto para os sujeitos diretamente afetados quanto para suas cidades, visto que são estratégias geradas e impulsionadoras de problemas sociais mais amplos: aumento da desigualdade, da criminalidade e do distanciamento do acesso aos cuidados em saúde para esta população”, critica a entidade.

Reparação a pacientes de hanseníase encarcerados

Antigamente conhecida como lepra, a hanseníase, transmitida por uma bactéria em ambientes de saneamento deficiente, foi uma doença geradora de fortes estigmas sociais. Por muito tempo, tendo causas e curas desconhecidas, gerava o isolamento de seus portadores e pânico na sociedade. Com muita frequência, os doentes eram isolados compulsoriamente e alguns leprosários ficaram marcados como espaços de ostracismo e maus tratos.

Nesta sexta, 24/11, o Estado brasileiro fez um gesto de reparação ao sofrimento causado por esta doença que hoje é facilmente tratável no SUS. O presidente Lula sancionou lei que oferecerá uma pensão de pelo menos um salário mínimo para parentes de pessoas que foram forçadamente postas em isolamento, prática legalizada no Brasil entre 1920 e 1986.

“Nenhum dinheiro no mundo é capaz de compensar ou apagar as marcas que a segregação provocou na alma e no coração das pessoas portadoras de hanseníase e família. Estender aos filhos o direito à pensão especial, é dar mais um passo importante na reparação de uma dívida enorme. O Estado brasileiro falhou com essas crianças, com essas famílias, é preciso mais uma vez reconhecer e pedir desculpas a elas”,afirmou Lula. A lei anterior garantia a pensão apenas às próprias vítimas da doença colocadas em isolamento.

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