Negros e periféricos sofrem mais com calor extremo

• A desigualdade racial na crise climática • Órfãos da pandemia indenizados? • 60 milhões de crianças sem nenhuma vacina • Nova infecção na China não traz preocupações • Gastos com maconha medicinal • Nova Zelândia libera tabaco •

Foto: Anthony Behar
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Entrevistado pela Agência Brasil, um geógrafo e pesquisador da Universidade Federal Fluminense ressalta: a onda de calor que o Brasil passa não está afetando a todos da mesma forma. A população dos bairros periféricos, em sua maioria negra, sofre mais. Além de geralmente não contarem com áreas verdes e serem mais adensadas, as regiões de periferia são mais carentes de infraestrutura de água e energia – e o pesquisador da UFF lembra que o acesso a esses dois serviços é essencial para suportar os efeitos dos dias mais quentes. Seu recente estudo sobre as regiões urbanas da Amazônia Legal, hoje em franco crescimento, apontam que o caso de Cuiabá – cidade cujas temperaturas ultrapassaram os 40 ºC na última onda de calor – é um dos mais aberrantes em termos de desigualdade entre brancos e negros no acesso ao esgotamento sanitário, além de possuir um dos planos diretores menos preocupados com a garantia desse direito.

Indenização para órfãos da pandemia

De acordo com a ministra da Saúde Nísia Trindade, o governo Lula está estudando a possibilidade de indenizar os “órfãos da pandemia”, brasileiros menores de idade que ficaram sem os pais no contexto da emergência de saúde ligada ao coronavírus. Segundo uma estimativa realizada pela Fiocruz e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cerca de 40 mil crianças e adolescentes perderam a mãe para a covid-19 no Brasil. Nísia não ofereceu mais detalhes sobre os contornos da futura medida, diz a Carta Capital. O anúncio ocorreu no fim da semana passada, após a cerimônia de lançamento de outra política de reparação: o Governo Federal prepara uma pensão vitalícia para filhos de pessoas com hanseníase que foram encarceradas por sua condição de saúde.

Sem vacina, mortes evitáveis de crianças crescem no mundo

Hoje, há 60 milhões de crianças “zero-dose” no mundo. Esses pequenos, que não receberam nenhuma dose de qualquer vacina, já representam metade dos óbitos infantis por doenças evitáveis pela vacinação, diz um relatório da Gavi. A dilapidação dos sistemas públicos de saúde durante a pandemia, explica uma reportagem do New York Times, é uma das principais causas dessa situação. Consequentemente, estão se multiplicando os surtos de diversas doenças – com resultados funestos para os mais jovens. Se em 2020 apenas 16 países registraram casos de sarampo, em 2022 a cifra triplicou para 47. Globalmente, as mortes subiram em 43%. De Gana ao Paquistão, da República Democrática do Congo ao Iêmen, a vulnerabilidade se agrava com o alastramento do negacionismo: na maioria dos países, a confiança dos pais na vacinação sofreu quedas vertiginosas. Os filhos sofrem as consequências.

OMS: Sem pânico com a gripe na China

Nenhum patógeno novo ou incomum foi encontrado no contexto da atual alta de casos de doenças respiratórias na China, disse Maria Van Kherkhove, diretora do departamento de preparação e prevenção para pandemias da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em entrevista à revista Stat, ela também afirmou que é provável que o surto esteja ligado ao que chama de immunity gap criado pela covid-19. Com o fim das medidas de isolamento do período da pandemia, as crianças chinesas estariam se expondo só agora aos vírus que circulam no país. Consequentemente, subiu o número de novos casos de infecções respiratórias. Os números, ela ainda afirma, são mais baixos que os do pré-pandemia – e não há perspectiva de ver as UTIs lotadas. “Este não é o cenário de dezembro de 2019 ou janeiro de 2020”, ela conclui.

Gastos com canábis medicinal em alta

Em 2015, a partir de uma autorização da Anvisa, foi iniciada a importação de produtos de canábis medicinal para o Brasil. De lá pra cá, os gastos públicos com CBD só cresceram: de 2021 para 2022, a despesa subiu de R$160 mil para R$1,67 milhão a nível federal. O gasto do estado de São Paulo em 2023 também foi recorde. No país, o uso dos medicamentos é liberado, mas a produção é proibida. Por isso, a única saída é a importação. Em entrevista a Outra Saúde, Paulo Fleury já resumiu o cenário: “Da maneira como foram liberados pela Anvisa, os produtos à base de canábis podem causar um impacto financeiro significativo para o SUS. Embora o óleo canabidiol seja extremamente fácil de se produzir, até artesanalmente, o Brasil só pode adquirí-lo de empresas estrangeiras – e de maneira geral o faz de multinacionais norte-americanas. Uma dose pode custar R$ 1,5 mil reais. É um sintoma do colonialismo que ainda enfrentamos”.

Nova Zelândia recua no combate ao tabaco

O novo governo da Nova Zelândia cancelou a proposta da ex-primeira-ministra Jacinda Ardern de introduzir uma das mais rigorosas leis antifumo do mundo. Além de reduzir drasticamente o número de estabelecimentos autorizados a vender produtos de tabaco, a legislação aprovada pelo Partido Trabalhista de Ardern proibia indefinidamente sua comercialização a pessoas nascidas a partir de 2009 – protegendo os mais jovens do assédio da indústria do tabaco. Desde a criação da lei, os dados mostram que a porcentagem de fumantes havia caído para 8% da população neozelandesa, o menor nível da história. Mas as eleições do último mês azedaram o plano. Ontem, no mesmo dia em que assumiu a direção do país, o novo primeiro-ministro conservador Christopher Luxon reverteu a medida. Ele alega querer recuperar a arrecadação perdida com a queda na venda de cigarros – ignorando que, por outro lado, os gastos com saúde pública só crescem com o aumento do tabagismo.

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