Mulheres são mais atendidas por transtornos mentais

• A saúde mental das mulheres • Dignidade menstrual e inovação em absorventes • Mais uma ameaça na PEC do Plasma • Plano Nacional de Inteligência Artificial • Conferência estadual de CT&I •

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Um estudo da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto analisou mais de 8 mil atendimentos psiquiátricos do ambulatório do Hospital de Base da cidade e fez apontamentos similares a outras pesquisas voltadas à saúde mental das mulheres. Atestou que cerca de 75% dos atendimentos são voltados a pessoas do sexo feminino, que se queixam de ansiedade, tristeza, irritação, dentre outros fatores associados ao estado psicológico. A idade média das pacientes é 45 anos e vivem em uma macrorregião que abarca mais de 100 municípios. “Observamos que, na maioria dos casos, quem busca o atendimento são donas de casa bastante acometidas de quadros depressivos e ansiosos, o que traz à tona, mais uma vez, a discussão sobre o acúmulo de papéis e funções pelas mulheres. Também vale destacar que se trata de um grupo de risco para transtornos mentais por serem mais vítimas da violência doméstica”, explicou Gerardo Araújo, professor do Departamento de Ciências Neurológicas, Psiquiatria e Psicologia Médica da Famerp.

No dia 8 de março, o Outra Saúde publicou depoimentos de 8 mulheres a respeito de seus desejos relativos a melhores políticas e práticas em saúde.

Como inovar na produção de absorventes

Uma reportagem da Revista Fapesp descreve diferentes iniciativas organizadas por mulheres para garantir não só a chamada dignidade menstrual como incentivar o uso de produtos sustentáveis. Composto parcialmente por derivados do plástico, os absorventes tradicionais deixam um grande rastro de acúmulo de lixo e pouca chance de reciclagem em seu processo de descarte. Sabendo disso, mulheres de diferentes universidades ou startups tentam criar novos tipos de absorventes, biodegradáveis e produzidos a partir de folhas, fibras ou papéis reciclados.

Ainda que alertem para a imperfeição de processos produtivos de bioderivados, que também podem deixar rastros de insustentabilidade, as inovações visam tornar mais acessíveis o uso de itens de higiene usados em imensa escala. “Por isso, temos que pensar em múltiplas soluções, seja o absorvente biodegradável, o de pano ou a calcinha absorvente. A opção mais adequada vai depender do padrão, da necessidade e do momento de vida de cada pessoa”, explicou Marta Tochetto, professora do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria.

Além disso, há uma forte questão econômica, que dificulta a garantia de “dignidade menstrual” de ao menos 15 milhões das 60 milhões de brasileiras que menstruam. “Ainda não chegamos a uma solução tecnológica no país que permita aos absorventes sustentáveis ficarem mais baratos do que os tradicionais”, afirmou Rafaella de Bona Gonçalves, que desenvolveu seu próprio de absorvente biodegradável em parceria com a EcoCiclo. Apesar de prever a distribuição gratuita de absorventes, inclusive na Rede Farmácia Popular, o governo federal ainda não incluiu tal questão em sua pauta de investimentos produtivos.

Alteração irregular em texto da PEC do Plasma

Aprovada no final do ano passado, a PEC 10/2022 pode tirar o caráter constitucional do monopólio estatal sobre estoques de sangue e seus derivados. Agora, a chamada PEC do Plasma pode ir à votação na Câmara, mas uma questão regimental pode adiar este momento temido por todo o movimento social ligado à saúde. Segundo o senador Marcelo Castro (MDB-PI), o texto aprovado na CCJ cometeu um contrabando: ao contrário do que estaria combinado, ficou suprimida qualquer referência clara à proibição de comercialização de sangue.

“O ponto de vista que nós defendíamos foi derrotado. Isso é da democracia, isso é legítimo. Mas o que está escrito no texto (eu posso submeter o texto a 100 professores de português, e eu duvido que um professor de português interprete diferente) está permitindo que o sangue humano, o plasma humano, seja comercializado”, disse o senador. Daniella Ribeiro, (PSD-PB), que deu parecer favorável ao projeto, lamenta e nega o ocorrido. Mas a questão levanta suspeitas de todo tipo, uma vez que todos os críticos apontam que a ideia da PEC é justamente liberar o comércio de hemoderivados.

Conforme mostrou o Outra Saúde, não só se trataria apenas de uma ferida ética na gestão de uma substância vital para atendimentos médicos variados, inclusive de emergência, mas um golpe numa iniciativa estratégica do governo brasileiro – que em 2023 retomou investimentos na Hemobrás. Estatal criada em 2004, a Hemobrás visa não só garantir a suficiência dos estoques nacionais como também desenvolver a produção de fármacos derivados do sangue, o que se relaciona diretamente com o avanço do chamado Complexo Econômico Industrial de Saúde e a chamada nova industrialização do país.

Lula pede Plano Nacional de Inteligência Artificial

Marcada para os dias 4, 5 e 6 de junho, a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação tem a chance de recolocar o Brasil no prumo de políticas de Estado à altura de uma inserção econômica global menos dependente. O desafio, sem dúvidas, é grande, mas faz parte do esforço geral do governo federal de criar uma nova política de desenvolvimento econômico, conforme delineado no Novo PAC e na chamada Neoindustrialização.

Em reunião do Conselho Nacional de CT&I, Lula pediu iniciativas a respeito da inteligência artificial, nova fronteira tecnológica que ressignificará praticamente todos os ramos da economia e da administração pública. “Tem que colocar no papel o que nós queremos, o que o Brasil pode fazer, ou o país vai ficar a reboque do que sobrar, do que os outros países fizerem. Temos que pensar em como essa tecnologia vai resultar na qualidade no emprego do povo brasileiro, em quantas milhões de pessoas podem ficar marginalizadas se não forem preparadas nesse novo modelo”, afirmou o presidente.

Conferência estadual de CT&I é marcada por nova terapia de leucemia

Terminou na última semana a etapa estadual das Conferências de Ciência, Tecnologia e Inovação. Em São Paulo, a mesa de quinta-feira ficou marcada pela apresentação ao público de um novo tratamento de leucemia com as células Car-T. Já testadas em um grupo de 20 pacientes com relativo sucesso, a nova terapia parte para uma nova etapa que demandará 80 voluntários. “Essa forma de terapia celular pode mudar a forma de tratamento de leucemias resistentes, mas o custo é quase proibitivo para um país como o nosso”, disse o hematologista Diego Clé, referindo-se à estimativa de cerca de 2 R$ milhões por paciente. Por sua vez, Esper Kallás, presidente do Instituto Butantan, usou do exemplo para manifestar apoio aos projetos nacionais de desenvolvimento da indústria de saúde. “O produto nacional vai custar 1/6 do importado”, projetou. A terapia contra a leucemia é um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, apoiado pela Fapesp e o Ministério da Saúde.

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