Meta da OMS era singela, mas mundo passa longe de cumpri-la

Mais de seis bilhões de doses já foram administradas no mundo. Daria para cada país ter vacinado totalmente quase 40% de suas populações – mas nem o objetivo da OMS, de que todos chegassem a 10%, foi alcançado. Em nações de baixa renda, menos de 2% das pessoas estão protegidas.

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Mais de seis bilhões de doses contra a covid-19 já foram administradas no mundo. Se todas fizessem parte de um regime de duas doses e tivessem sido distribuídas de forma equânime, cada país teria conseguido vacinar totalmente quase 40% de suas populações. É um número excelente, muito superior à singela meta estabelecida pela OMS em maio: a de que, até o fim de setembro, 10% da população de cada país deveria ser vacinada. No entanto, mais de 50 nações ainda não bateram esse percentual. E menos de 2% das pessoas em países de baixa renda receberam ao menos uma dose. Considerando as evidências recentes de que a proteção conferida aos mais vulneráveis é menos robusta, esses números são ainda piores. 

As promessas de doação – o governo dos Estados Unidos anunciou recentemente que vai disponibilizar mais 500 milhões de doses, e o da França, 120 milhões – são boas, mas demoram a se concretizar. No caso do governo Joe Biden, uma doação de 600 milhões já tinha sido anunciada no começo do ano, mas só um sexto foi entregue até agora. “O que precisamos é de uma ajuda realmente robusta e sustentável para que sejam entregues agora – não em seis ou 12 meses”, pediu o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.

Na semana passada, falamos aqui sobre a retomada das exportações da Índia, que deve acontecer agora em outubro e pode imprimir velocidade à distribuição para os países de baixa renda. Porém, até em relação a isso paira incerteza. Isso porque o país deve finalizar nos próximos meses a produção de 600 milhões de doses do imunizante da Janssen para exportação, mas, de acordo com os contratos vigentes, essas vacinas devem ir para os Estados Unidos e a Europa, onde não falta vacina.

Há uma pressão de entidades da sociedade civil para que os contratos sejam revistos e as doses sejam revertidas para onde são efetivamente necessárias. A própria Índia, que decidiu retomar as exportações após ultrapassar sua primeira e gigantesca onda com a Delta, não está em situação muito confortável: tem apenas 16% da população vacinada. “O fato de essas doses estarem sendo produzidas com mão de obra indiana, em solo indiano, nos dá o direito de dizer algo sobre para onde elas vão. E queremos que eles vão para a Índia, para a União Africana e para a Covax Facility – e para nenhum outro lugar. A história recente sugere que a J&J não estabelecerá prioridades racionais e humanas, a menos que os obrigemos a isso”, diz Achal Prabhala, coordenador do Projeto AccessIBSA, no The Caravan.

A Biological E, empresa indiana que está produzindo as doses da Janssen, não sabe para onde elas irão. O governo da Índia e a Johnson & Johnson ainda não deram nenhuma indicação nesse sentido.

Na última sexta-feira, a  a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, usou sua fala na Assembleia-Geral das Nações Unidas para criticar o excesso de discursos – e a escassez de ações. “Quantas mais variantes do covid-19 devem chegar antes que um plano de ação mundial de vacinação seja implementado?  Quantas mais mortes devem ocorrer antes que 1,7 bilhão de vacinas em excesso na posse dos países avançados do mundo sejam compartilhadas com aqueles que simplesmente não têm acesso? (…) Optamos por não fazê-lo. Não é porque não temos o suficiente, é porque não temos a vontade de distribuir o que temos“, disse. Segundo o colunista do UOL, ela “chacoalhou” a ONU. Resta saber se o sacolejo vai ser capaz de gerar movimento contínuo.

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