As acusações de abuso sexual envolvendo funcionários da OMS no Congo

Comissão independente nomeada pela entidade descobriu que dezenas meninas e mulheres recebiam promessas de trabalho ­– e até de água limpa – em “troca” de relações sexuais.

Foto: Vincent Tremeau / Banco Mundial
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Uma comissão independente da OMS concluiu que havia pelo menos 21 funcionários da entidade entre 83 trabalhadores que abusaram sexualmente de meninas e mulheres na República Democrática do Congo, enquanto combatiam o surto de ebola de 2018-2020. 

As acusações vieram à tona pela primeira vez no ano passado, em uma investigação da New Humanitarian e da Thomson Reuters Foundation. Logo em seguida, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, nomeou a comissão. Já em maio deste ano, a Associated Press revelou que um alto funcionário da organização, Michael Yao, foi informado de várias denúncias de abuso ainda em 2019, mas não tomou nenhuma medida a respeito.

Os autores do novo relatório descobriram nove acusações de estupro, e mais de 50 entrevistadas relataram algum tipo de abuso ou exploração sexual: elas recebiam promessas de trabalho em troca de sexo ou eram coagidas a se relacionar sexualmente com esses homens para manter seus empregos. “Todo mundo fazia sexo em troca de algo. Era muito comum. Ofereceram-me sexo até se eu quisesse pegar uma bacia de água para me lavar no acampamento-base”, denuncia uma delas. A maior parte das vítimas são mulheres e meninas, mas 12 homens também têm relatos nesse sentido. Além dos funcionários da OMS, havia outros ligados ao Ministério da Saúde do país e a entidades como Unicef e ALIMA.

A diretora-regional da OMS na África, Matshidiso Moeti – que supervisionou pessoalmente parte da resposta ao ebola – disse que o relatório a deixou “humilhada e horrorizada“. Tedros Ghebreyesus disse que é uma “leitura angustiante” e pediu desculpas diretamente às vítimas: “Sinto muito pelo que foi feito a vocês por pessoas que foram contratadas pela OMS para servi-las e protegê-las. É minha maior prioridade que os perpetradores não sejam desculpados, mas responsabilizados”, disse, prometendo uma “reforma completa das políticas e processos” para lidar com a exploração e o abuso na organização. De acordo com ele, a OMS está rescindindo os contratos de quatro abusadores que ainda trabalham na agência e vai encaminhar as acusações de estupro.

A comissão fez uma série de recomendações à OMS, incluindo reparações às vítimas, testes de DNA para verificar a paternidade dos abusadores (já que houve gestações) e uma revisão das práticas de contratação e das formas como o sistema de justiça interno responde às denúncias. No entanto, como nota o Health Policy Watch, o relatório deixou uma pergunta em aberto: as investigações vão continuar, para apurar as denúncias de omissão da alta administração da OMS nesse caso?

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