Mais pressão pela frente

Paulo Guedes quer encerrar todas as políticas emergenciais até junho. Milhões de informais ainda não conseguiram receber benefício. Bolsonaro: “Quem não quiser trabalhar, que fique em casa”

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O ministro da Economia quer que todas as políticas emergenciais para o combate à pandemia terminem em junho. Preocupado unicamente com o aspecto fiscal, seu limite parece ser a cifra de R$ 600 bilhões de déficit no orçamento. Olhando para os números, Paulo Guedes quer um programa de “retomada controlada” que parta de protocolos feitos pelo Ministério da Saúde para fábricas e comércios e testagem em massa da população. 

Ontem, a Secretaria de Política Econômica da pasta divulgou que cada semana de isolamento custou R$ 20 bilhões à economia. A projeção é que o PIB brasileiro feche 2020 com queda de 4,7%. A previsão anterior era irreal, de alta de 0,02%. O documento alerta que as projeções podem piorar na hipótese bastante realista de o isolamento social se prolongar para além de 31 de maio. “Caso o isolamento seja estendido os resultados seriam muito piores, e quanto maior a extensão do isolamento mais lenta deve ser a recuperação e pior a trajetória de longo-prazo, diante do aumento do impacto no endividamento da economia, e da falência de empresas e destruição de empregos”, diz a nota da Secretaria.

Folha teve acesso a dados internos do Ministério que mostram que empresas de pequeno porte, que respondem por mais de 80% dos postos formais de trabalho, registram um índice de falência sem precedentes. Acontece que o próprio governo admite internamente que demorou em estruturar mecanismos de garantias que dariam a essas empresas acesso a crédito.

Até agora, a segunda parcela do auxílio emergencial de R$ 600 não foi paga à população. Os depósitos deveriam ter sido feitos a partir de 27 de abril. O governo agora coloca a culpa na falta de cédulas. O atraso seria uma forma de garantir o funcionamento normal do sistema bancário até que R$ 9 bilhões sejam impressos pela Casa da Moeda. A previsão é que o dinheiro só termine de ser impresso no fim de maio… 

Além do atraso, milhões aguardam o fim da análise dos pedidos para conseguirem receber o benefício. As reclamações sobre o sistema da Caixa se acumulam. Mas para Jair Bolsonaro, o governo não cometeu nenhuma erro no pagamento do auxílio e a culpa é… da população. “Teve muita gente que deu golpe, teve gente que usou protocolo de filho duas vezes, dois irmãos, um montão de coisa. Tem de ver caso a caso. Mas ninguém fala que 40 milhões receberam. Tem erro também, erro do próprio interessado. Não existe falha nossa”, afirmou ontem. Sobre o isolamento, voltou a deixar bem clara sua visão de liderança: “O povo tem de voltar a trabalhar. Quem não quiser trabalhar, que fique em casa, porra. Ponto final”.

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