Mais Médicos sem mais médicos

Quase mil novos municípios aderiram ao Programa, mas o número de vagas não aumentou.

Crédito: Mídia Ninja

.

Quase mil novos municípios aderiram ao Programa Mais Médicos, mas o número de vagas não aumentou. Essas e outras notícias aqui, em dez minutos.

05 de setembro de 2018

MAIS MÉDICOS SEM MAIS MÉDICOS

No mês passado o governo lançou edital para os municípios aderirem ao programa Mais Médicos. Cerca de 900 solicitaram entrada, o que vai aumentar o número de cidades participantes a cinco mil. Tudo bem. O problema é que o número de vagas para médicos (18,2 mil) continua o mesmo.  Então o que o Ministério da Saúde deve fazer é, ainda este mês, mudar as regras sobre a distribuição de profissionais, o que, evidentemente, está deixando as prefeituras preocupadas com uma possível redução nas suas vagas.

Segundo a matéria de Natália Cancian, na Folha, a proposta é estabelecer uma pontuação e um ranking de municípios prioritários a partir de nove critérios, como tamanho da população, número atual de médicos dentro e fora do programa, IDH e indicadores de saúde. O sanitarista Heider Pinto, que esteve à frente do Mais Médicos entre 2014 e 2016, disse à reportagem que na verdade o programa já tem regras bem estabelecidas e considera a quantidade de pessoas ainda não cobertas por equipes da Estratégia Saúde da Família, bem como o parâmetro de um equipe para até 3.450 habitantes. “Se colocarem um médico para atender mais de 4.000 pessoas, o resultado será muito ruim”, avisa.

Já o ministro Occhi garante que “não haverá radicalização”: “Por exemplo: se tem dez médicos e só tem direito a cinco, não vou tirar cinco. Mas a medida em que forem vencendo os convênios, eu não renovo”. Ah… Ele também diz que a regra vai valer “até alguém inventar uma nova”. A matéria informa ainda que, desde o início do ano, as vagas abertas após o fim dos contratos não têm sido repostas. O último edital para seleção foi em novembro do ano passado, mesmo que, em tese, eles devessem ser abertos a cada três meses. Hoje, daquelas 18,2 mil vagas, há 1,5 mil em aberto, ociosas.

E OS MISERÁVEIS?

A jornalista Eliane Cantanhêde, do Estadão, anda indignada. “Tem dinheiro para tudo, menos para educação, saúde e muito menos cultura e museus”, escreveu ela ontem. “E os miseráveis? A geração de empregos? O dinheiro da Cultura?”, questionou, motivada pelo incêndio no Museu Nacional. Para quem não lembra, Cantanhêde foi uma grande entusiasta do impeachment que derrubou Dilma Rousseff. Na coluna, ela salvou o governo Temer (que, segundo ela, “vestiu uma carapuça que não era sua”, mesmo que os recursos para o Museu tenham caído 85% este ano), mas não poupou os governos Dilma, os oito anos de Lula (apesar de, como dissemos ontem, os investimentos no Museu terem crescido bem entre 2007 e 2010) e até os bancos (“por que não ajudam a preservar os museus públicos?”).

POR QUÊ?

Enquanto isso, a Folha tem uma coluna chamada “Por quê?”, sem assinatura de ninguém, mas escrita por “especialistas” que “traduzem o economês do seu dia a dia, mostrando que economia pode ser simples e divertida”. A ideia ontem foi mostrar que a tragédia do Museu Nacional nos deu a oportunidade de aprender algumas lições. Uma delas é bem ameaçadora. O texto diz que, se não conseguirmos “estancar a crise fiscal”, o que significa “aprovar  uma reforma da Previdência que estanque permanentemente os déficits públicos e redimensionar os  salários dos servidores de elite para caberem dentro da realidade brasileira”, então estaremos perdidos: “os recursos públicos para museus, saúde, educação, saneamento básico, segurança pública vão minguar ao longo dos anos”. Simples e divertido.

XÔ, IDEOLOGIA

Também na Folha, temos hoje um artigo de Marcio Serôa de Araujo Coriolano, presidente da CNseg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização). Dando algumas voltas, ele diz que a discussão sobre a melhor regulação dos planos de saúde é ideológica e “população beneficiária assiste, preocupada, à virulência de um discurso que pretende ameaçar o benefício que eles, ou seus empregadores, vêm sustentando com esforço” . Ele cita especificamente o fato de a ANS ter voltado atrás em relação à sua norma sobre planos com coparticipação e franquia, que, na avaliação de entidades de defesa do consumidor, era uma arapuca para os beneficiários.

E ontem teve audiência pública da ANS para discutir justo essa questão. Ao todo, 24 entidades e instituições apresentaram contribuições – seis delas são de defesa do consumidor. Também teve representantes dos planos, como a FenaSaúde e a Abramge. A ANS vai fazer um relatório com os subsídios coletados.

LÓGICA

Que a atenção primária dá melhores resultados com menores custos e deveria ter mais investimento, a gente já sabe. Agora o setor privado está começando a mergulhar nisso. Na coluna Mercado Aberto, da Folha, Maria Cristina Frias conta que o Hospital Albert Einstein investiu R$ 25 milhões em um centro ambulatorial em São Paulo. É que, em breve, a remuneração vai deixar de ser por procedimentos e passar a ser por cliente. “Esse ambulatório é uma primeira experiência. Para o sistema ser menos oneroso, faz sentido oferecer mais atenção primária (intervenção inicial). A clínica tem investimento menor e deverá dar lucro em sete anos”, diz o presidente, Sidney Klajner.

AMELIA E O NEOLIBERALISMO

“Uma criança de um ano e nove meses morreu na cidade litorânea de Valparaiso, Chile, vítima de uma cruel enfermidade: falta de assistência médica adequada do Estado”. A frase abre o texto de Rôney Rodrigues, no Outras Palavras. A menina se chamava Amelia. Seus pais, Mauricio e Camila, sabem que sua perda não é uma tragédia pessoal e, em um compromisso no Brasil, distribuíram folhetos em que pedem “justiça para Amelia, saúde digna para todas e todos”. Vale a leitura.

NO SUS É MENOR

Um levantamento do Conselho Federal de Medicina mostrou que a disponibilidade de leitos de UTI no SUS é quase cinco vezes menor que nos planos: no SUS, existe 1,04 leito para cada 10 mil habitantes; na saúde suplementar, é a proporção é de 4,84 para cada 10 mil habitantes. A informação é da jornalista Juliana Braga, no Estadão. 

É MOLEZA

“Como se aposentar aos 30 anos com US$ 1 milhão no banco”, diz uma manchete do Estadão, republicando matéria do New York Times (a Folha também deu). O texto conta que a chamada geração do milênio tem adotado omovimento FIRE (palavra que, em inglês, significa demissão e, ao mesmo tempo, é sigla para ‘independência financeira e aposentadoria antecipada’). É um grupo que ganha bem – mais de US$ 100 mil por ano – e se planeja pra poupar boa parte do salário e se aposentar mais cedo, vivendo em lugares mais baratos e com menos luxo. Mas não é como se fossem novos hippies, final, vive-se de investimentos financeiros. Há várias modalidades de FIRE. Às vezes, por exemplo, os precoces aposentados continuam trabalhando em meio período no Starbucks pra obter o plano de saúde da empresa. É o tipo ‘barista FIRE’.

EMPREGO PLENO… E PRECÁRIO

Taxas baixíssimas de desemprego em países ricos podem esconder que dados sobre remuneração, trabalho temporário, empregados pobres e população sob risco de exclusão não melhoraram no mesmo ritmo, diz reportagem do El País. “A menor duração dos contratos é um fenômeno globalque veio para ficar. Tem a ver com as novas tecnologias, que possibilitam a existência desses contratos. E os sistemas produtivos estão se adaptando, com fenômenos como a uberização da economia”, diz Florentino Felgueroso, pesquisador da Fundação de Estudos de Economia Aplicada. Um exemplo da matéria vem da Alemanha, onde até faltam empregados pra tanta vaga, mas o percentual de trabalhadores pobres dobrou desde 2005.

E um estudo da Food Foundation mostrou que, no Reino Unido, quase 4 milhões de crianças são pobres demais para ter uma dieta saudável.

.

ATLAS DO AGRONEGÓCIO

Foi lançada ontem a versão brasileira deste relatório, que examina o setor no Brasil e no mundo. Constatações: apenas 87 corporações com sede em 30 países controlam a cadeia produtiva em todo o planeta, e quem controla a exportação e importação de commodities agrícolas são apenas quatro companhias que investem no mercado financeiro.

PANDEMIA DE SEDENTARISMO

A OMS alerta: um quinto da população mundial se exercita menos do que deveria. No Brasil, é quase metade da população. O mínimo de exercício necessário por semana são 150 minutos de atividade moderada (inclusive andar e subir escadas) ou 75 minutos de atividade intensa.

ACESSO LIVRE

Agências de fomento à pesquisa de 11 países lançaram uma iniciativa de acesso livre exigindo que, até 2020, os artigos de cientistas financiados por elas devem estar abertos para leitura imediatamente após a publicação. Editores protestam. “Se vocês acham que a informação deve ser grátis, vão para a Wikipedia”, disse um representante da Elsevier.

GAROTINHO CONDENADO

O ex-governador do Rio e novamente candidato ao posto Anthony Garotinho foi condenado em segunda instância por formação de quadrilha. Em julho, ele já havia sido condenado em segunda instância por ‘ato doloso de improbidade administrativa’ por desvios na saúde do estado. A pena, após os recursos,  é de  quatro anos e seis meses de prisão e teria de ser cumprida em regime semiaberto.

CUIDADO COM O ANTI-INFLAMATÓRIO

Pesquisadores dinamarqueses investigaram dados de mais de seis milhões de pessoas, coletados entre 1995 e 2016, e mostraram forte associação entre os anti-inflamatórios mais consumidos no mundo todo e problemas cardiovasculares. O uso de diclofenaco levou a 50% mais chances de ter problemas graves, como fibrilação atrial, insuficiência cardíaca e infarto, comparando com quem não usava nenhum anti-inflamatório ‘Aine’ (classe do diclofenato).

PROPINA

A farmacêutica Sanofi  vai pagar mais de US$ 25 milhões para resolver acusações de que suas subsidiárias no Oriente Médio e Cazaquistão subornaram autoridades e médicos para aumentar as compras de seus medicamentos.

HPV

O Ministério da Saúde lançou campanha publicitária para vacinação contra o HPV. A expectativa é vacinar 9,7 milhões de meninas de 9 a 14 anos e 10,8 milhões de meninos de 11 a 14 anos. A prevalência estimada do vírus no Brasil é de 54,3%.

LEITURA

Acaba de sair o novo número da revista Cadernos de Saúde Pública.  Tem artigos sobre aleitamento materno, cobertura vacinal, e saúde bucal, entre outros temas.

Leia Também:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *