Mais Médicos: o drama continua

Mais de 1,4 mil postos permanecem sem profissional – em especial no Norte e Nordeste. Leia também: a inflação dos planos de saúde; voláteis comprimidos contra a Hepatite C; a dancinha de Fabrício Queiroz.

Valter Campanato / Agência Brasil
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DRAMA CONTINUA

Na tarde da sexta, o Ministério da Saúde divulgou novos números do Mais Médicos. Ainda restam 1.462 vagas sem profissionais. Destas, 842 não tiveram sequer inscritos. O Estadãotabulou os dados para descobrir quais são os estados mais afetados pela falta de interesse dos médicos brasileiros e descobriu que 85% das vagas sem inscritos ficam no Norte e no Nordeste do país. Amazonas e Pará concentram 51% delas. 

Apesar do drama, para Diogo Sampaio, vice-presidente da Associação Médica Brasileira, o índice de preenchimento pode ser caracterizado como “fantástico”… 

Agora, a esperança é que as vagas sejam preenchidas por brasileiros e estrangeiros formados no exterior. A abertura do sistema para a escolha das vagas pendentes deve acontecer entre 23 e 24 de janeiro para os brasileiros e nos últimos dias do mês para os estrangeiros. Não está claro o que o governo pretende fazer caso o processo falhe em atrair médicos para todos os locais que antes eram atendidos por cubanos.

O fim da parceria entre Cuba e Brasil aconteceu em 14 de novembro, deixando 8.517 postos de trabalho vazios. E o El Paísmostra que é possível que as coisas fiquem piores. É que o desfalque de médicos nas equipes impacta a transferência de recursos do governo federal para as prefeituras. Se uma equipe fica incompleta por 60 dias, pela regra o Ministério deve suspender o repasse. “É com essa verba que a gente garante o custeio das equipes. O município não tem a menor condição de financiar sozinho”, afirmou Januário Carneiro, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Amazonas. No estado, 217 equipes que atendem 46 municípios e sete distritos sanitários indígenas correm o risco de ficar sem cofinanciamento.

Ainda de acordo com o El País, está em fase de ajustes uma minuta de portaria para estender o prazo dos atuais 60 dias para 12 meses. Mas segundo Maria Dalva dos Santos, secretária municipal de saúde de Embu-Guaçu (SP), que continua com metade das vagas em aberto depois da saída dos cubanos, o conselho de secretários de São Paulo está em contato permanente com o Ministério para evitar a suspensão dos repasses, mas “ninguém dá retorno”.   

PLANO

O ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta quer criar um terceiro turno para o atendimento em postos. E admite que a medida pode requerer recursos adicionais, o que entra em contradição com o discurso da campanha de Bolsonaro de que o SUS não teria um centavo a mais. 

Os municípios – responsáveis pelos pelo atendimento básico – já comprometem mais do que o mínimo constitucional em saúde. Alguns têm condições de bancar o modelo, mas muitos não conseguem sem recursos federais. A proposta é inspirada na experiência de Porto Alegre, que tem três postos funcionando até as 22h a um custo adicional mensal de R$ 100 mil por unidade. O restante fica aberto das 8h e às 17h. 

REALIDADE E OFICIALIDADE

O Ministério da Saúde mandou um aviso aos estados na semana passada: enviará 2,2 mil caixas de sofosbuvir, medicamento usado contra a hepatite C, com vencimento em 28 de fevereiro para que sejam ministradas até 25 de fevereiro. O lote custou R$ 18 milhões – ou US$ 49,46 por comprimido.

Coordenações estaduais que aguardam a chegada do remédio desde o ano passado protestaram, segundo o Estadão. O jornal apurou que alguns estados avaliam recusar o tratamento, alegando não haver tempo suficiente para distribuir os medicamentos. 

Na mesma semana da crise, o governo criou um “julho amarelo” para concentrar ações de combate às hepatites virais. A decisão foi publicada no diário oficial na sexta. Em 2017, o país somou mais de 40 mil casos da doença. Existem cinco tipos de hepatite (A, B, C, D, E). O tipo C, para o qual não há vacina, é o que mais mata no país, sendo responsável por 70% dos óbitos.  

NO PÁREO

O ex-ministro da saúde, Ricardo Barros, anunciou sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados no sábado. Segundo a Agência Estado, o PP – partido de Barros – e o MDB querem diminuir a força do DEM no governo. (Ou barganhar em melhores condições comissões parlamentares, acrescentamos. Barros já foi presidente da poderosa comissão de orçamento.) Candidato à reeleição, Rodrigo Maia é o favorito na disputa e conta com o apoio de Bolsonaro. 

FARRA

O Congresso está em recesso. Mas o mandato parlamentar só termina no fim de janeiro. Aproveitando que têm a caneta na mão, suplentes de deputados federais que não se reelegeram resolveram nomear assessores para ‘trabalhar’ durante o curto período. É o caso de Júnior Coringa (PSD-MS), que assumiu o mandato na vaga deixada pelo ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta. Ele nomeou nove funcionários para atuarem na capital e em Campo Grande, sua cidade. “Eles vão ouvir a população”, justificou. Os salários podem varia entre R$ 980,98 e R$ 15.022,32. Além do vencimento proporcional aos dias trabalhados, os assessores nomeados terão direito a benefícios como auxílio-alimentação e auxílio-transporte. Ao fim do período, também receberão os pagamentos referentes a férias e 13.º salário proporcionais.

DANÇOU

Fabrício Queiroz andava esquecido. Não mais. Viralizou nas redes sociais um vídeo em que ele dança e dá risada no hospital Albert Einstein. O ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro é investigado por movimentações financeiras suspeitas e não compareceu a audiências do Ministério Público do Rio alegando problemas de saúde. Ele foi operado no dia 1º de janeiro para retirar um câncer no intestino. O vídeo foi gravado na virada do ano e é considerado um “desastre” para sua defesa no caso.

E o Intercept levantou os bens de Queiroz, que em entrevista ao SBT justificou parte da movimentação de R$ 1,2 milhão por ser um “cara de negócios” que compra e vende carros. Segundo as repórteres Cecília Olliveira e Tatiana Dias, ele tem apenas dois veículos em seu nome: um Voyage 1.0 ano 2010 e uma Belina GL, de 1986. “O valor dos dois carros de Queiroz, somados, não chega a R$ 25 mil, segundo a tabela Fipe. Não pagaria, nem de longe, sua internação em um dos hospitais mais caros do país”, escreveram. 

TÁ PUXADO

Os planos de saúde foram os principais vilões da inflação em 2018. Tiveram alta de 11,7%, seguidos pela energia elétrica (8,7%) e gasolina (7,24%). Os três itens respondem por 28% do IPCA, que ficou em 3,75%.  

AMAMENTAÇÃO

Na sexta, a OMS e a Unicef lançaram um novo guia para promoção do aleitamento materno em unidades de saúde. O novo guia substituiu um documento de 1991 e traz dez dicas para estimular a amamentação. A OMS estima que mamar até os dois primeiros anos salva a vida de 820 mil crianças anualmente. 

SOBREVIVENTES

No dia 6 de janeiro, uma mãe infectada pelo ebola durante a gravidez deu a luz uma bebê saudável. O caso é raro: é a segunda vez que algo assim é documentado. E a primeira vez que mãe e bebê sobrevivem à doença. Em dezembro, a mulher foi internada num centro de tratamento em Beni, na República Democrática do Congo. Ela respondeu bem ao tratamento, recebeu alta e teve a gestação monitorada. A neném, chamada Sylvana, nasceu pesando quase quatro quilos e continua sendo acompanhada.

O surto de ebola na RDC acontece desde agosto e, de lá para cá, foram confirmados 577 casos e 377 mortes. 

ATÉ QUE ENFIM

Já falamos por aqui duas vezes do biólogo James Watson, que recebeu o prêmio Nobel em 1962 por descobrir a estrutura do DNA – e ficou conhecido pelo racismo ao declarar que negros são menos inteligentes que brancos. Pois na última sexta, o laboratório comandado por ele durante décadas anunciou que Watson não tem mais direito a sua posição honorária e que as opiniões são condenáveis e carecem de base científica.

ERRATA

Na sexta falamos de gordura trans e, por deslize, escrevemos “gordura transgênica”. Uma leitora alertou: não tem nada a ver.

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