Os tentáculos da Coca

Empresa influencia há décadas as políticas chinesas sobre obesidade. Leia também: a revisão da Saúde em Portugal, os Mais Médicos sem bolsa e muito mais.

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OS TENTÁCULOS DA COCA

A Coca-Cola tem moldado há décadas as políticas chinesas em relação ao enfrentamento da obesidade, segundo estudos publicados ontem no BMJ e no Journal of Public Health Policy. Faz isso por meio do ILSI, um instituto fundado nos EUA pelo então vice-presidente da Coca e que é criticadíssimo por minimizar a necessidade de reduzir o consumo de bebidas açucaradas, colocando apenas o foco no exercício. Os artigos mostram como o ILSI-China – que, além da Coca, tem financiamento de empresas como Nestlé, McDonad’s e PepsiCo – influencia o governo do país para evitar a regulação de alimentos e o aumento nos impostos. 

Em tempo: tem ILSI no Brasil. Mas na China, segundo no New York Times, o instituto está tão bem colocado que administra suas operações dentro do Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo em Pequim. 

Segundo a autora dos dois artigos, Susan Greenhalgh,  ele é visto como “um construtor de pontes entre governo, academia e indústria, fornecendo as informações científicas mais recentes para decisões políticas sobre nutrição (especialmente obesidade e desenvolvimento na primeira infância), segurança alimentar e prevenção e controle de doenças crônicas”. Nas reuniões sobre obesidade patrocinadas ou co-patrocinadas pela instituição, há um monte de apresentações de especialistas com laços financeiros com a Coca, sempre com foco na atividade física, e nunca na comida e na bebida.

DE OLHO EM PORTUGAL

O ano passado foi marcado por muitas discussões em Portugal sobre a revisão de sua Lei de Bases da Saúde e agora o tema está quentíssimo, porque no próximo dia 23 a Assembleia da República vai discutir os textos que estão na mesa: a nova Lei aprovada em dezembro pelo Conselho de Ministros e os projetos apresentados pelos diferentes partidos. 

Lá, como aqui, um dos grandes focos de discordâncias é o papel do setor privado na saúde. A proposta do governo (do Partido Socialista) diz que a gestão dos estabelecimentos vai ser prioritariamente pública, mas pode ser assumida por entidades privadas ou do setor social temporariamente. Mas retira da Lei atual a prerrogativa de que o Estado deve apoiar o financiamento do setor privado. O texto também estabelece que deve haver um valor mínimo de financiamento, a ser determinado depois.  E mantém as taxas moderadoras, cobradas em consultas e exames sob a justificativa de evitar um uso além do necessário.

Os social-democratasestão ok com a proposta do governo.

Mas, de resto, falaram mal do texto por todos os lados. À direita, o Centro Democrático Social disse de cara que nunca aprovaria a proposta, “claramente orientada ideologicamente e prisioneira das amarras dos partidos mais à esquerda”. E apresentou seu próprio texto, que abre definitivamente as portas para os setores privado e social. Na sua proposta, o setor privado e os serviços públicos ficam no mesmo plano e deve ser instituído um “princípio concorrencial” entre os vários serviços. Mas todos  seriam supervisionados e controlados pelo Estado.  

Na outra ponta, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português denunciam as “pressões de setores políticos da direita e dos grupos privados” e dizem que nas propostas do governo e dos outros partidos reina “a promiscuidade entre o setor público e o privado”.

PARA DIFICULTAR

O governo Bolsonaro quer dificultar o acesso à aposentadoria para quem precisou se afastar do trabalho por doença. Segundo a matéria da Folha, “as pessoas envolvidas na discussão”, que está em pauta no Ministério da Economia de Paulo Guedes, dizem que existe a ideia de retirar esses períodos de afastamento da contagem do tempo para a aposentadoria.

O texto explica que os mais prejudicados vão ser os mais pobres, que em geral têm mais dificuldade de conseguir trabalho formal por longos períodos e se aposentam por idade mínima. Nesse caso, há um tempo mínimo de 15 anos de contribuição. Se hoje alguém alcança a idade mínima, trabalhou formalmente 14 anos e ficou um ano afastado, a Justiça decide em seu favor e essa pessoa se aposenta. Já com a nova proposta, ela teria que trabalhar mais um ano. A novidade faz parte da MP que passa um ‘pente-fino’ no INSS, mas ainda precisa ter o aval de Bolsonaro antes de ir para o Congresso. 

MAIS MÉDICOS 

Sem médicos: A piauí fala do Alto Solimões, onde nenhum brasileiro apareceu ainda para atender as 27 vagas deixadas pelos cubanos. Eles atendiam uma área onde vivem 70 mil pessoas, distribuídas em 229 aldeias. Um cacique Tauaru chegou a receber o repórter como “doutor”, na esperança de que ele fosse um médico. A notícia correu, e choveu gente para se consultar… A matéria fala das dificuldades do trabalho ali, não só para médicos mas também para outros profissionais da saúde. Especialmente os da enfermagem, sobrecarregados pela falta de médicos.

Sem bolsa: O pagamento dos profissionais que entraram no Mais Médicos no último edital está atrasado. Várias bolsas não caíram (várias mesmo, 86%, segundo a pasta), e tampouco os reembolsos com passagem aérea e auxílio-mudança. Mayra Pinheiro, representante do Ministério, diz que foi por dificuldades técnicas no cadastramento, e que o pagamento deve ser regularizado até o fim do mês. 

PREOCUPAÇÃO

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA está preocupada com o Brasil e deve divulgar na semana que vem um comunicado sobre o país. A colunista Sonia Racy, do Estadão, falou com a representante brasileira da CIDH, Flávia Plovesan. Ela disse que hoje as pautas mais urgentes são Nicarágua, Venezuela e Nicarágua, mas a comissão detectou que por aqui aumentaram muito as denúncias de violações em relação ao ano passado. 

PASSA BEM

O pesquisador chinês que deu uma saída de cena depois de anunciar o nascimento das gêmeas geneticamente modificadas enfim deu notícias. Havia boatos de que ele estaria sob prisão domiciliar ou sob guarda armada, mas He Jiankui falou por e-mail e telefone com colegas e disse que está passando muito bem, obrigado. Está de fato hospedado em um apartamento universitário, mas livre para sair quando quiser. Ele está é  investigado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China por possíveis violações de leis que proíbem certos experimentos com embriões humanos.

VIROU RÉU

A Justiça aceitou a denúncia contra João de Deus. Ele agora é réu por estupro de vulnerável e violação sexual.

QUEIROZ

Todos sabem que Fabrício Queiroz, o ex-assessor do Flávio Bolsonaro, já foi convocado duas vezes para depor no MP e não foi, alegando problemas de saúde. Mas deu entrevista para o SBT, onde contou que tinha um câncer no intestino. E agora falou com o Estadão. Está chateado, disse ter sido tratado como “o pior bandido do mundo” e reclamou da mídia, que está sendo “superparcial” no seu caso, o que “é muito feio”. Passou por cirurgia para retirada do tumor no famoso Albert Einstein (dessa vez ele não vai esquecer o nome do hospital), e diz ter pago com recursos próprios. Mostrou até foto da cicatriz pra comprovar. Já Flávio Bolsonaro foi convidado a depor hoje, mas não garantiu. Como parlamentar, ele pode escolher dia e hora para depor. 

A CARTILHA QUE CAIU

Lembra que o Ministério da Saúde tirou do ar a cartilha Homens Trans: vamos falar sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis? Agora a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do Ministério Público Federal, quer explicações. Como o Ministério alega que havia necessidade de correção e revisão do material, foram pedidos os subsídios técnicos que apoiem a decisão. O procurador responsável pediu ainda uma explicação do ministro Mandetta sobre sua afirmação de que não haveria política pública de prevenção para a Aids, uma vez que se tratava de questão moral.

DUAS CRIANÇAS

Em menos de uma semana, duas crianças pequenas (de um e três anos) morreram por picadas de escorpião no estado de SP. Durante o ano passado, houve 26.929 casos de picada por lá, com 12 mortes – mais do que no ano anterior, quando foram 21.711 mil casos e 6 mortes. 

SARAMPO

Desde o início de 2018 até o último dia 8, houve 10.274 casos confirmados de sarampo no Brasil e estamos comdois surtos: no Amazonas, com 9.778 casos confirmados, e em Roraima, com 355 casos.
Já houve mortes nestes dois e também no Pará. 

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