Maconha: CFM volta a dar vexame ético

• CFM: cloroquina faz bem, maconha faz mal • Covid: riscos não aumentam com nova cepa • Farmácia Popular atende 1,3 milhão • YouTube promete combater mentiras sobre saúde • Ciência brasileira em 2022 • A poluição produzida por carros em SP •

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Mal terminaram as eleições dos conselhos regionais de medicina, repletas de denúncias de perseguição à oposição e favorecimento a chapas situacionistas, e a direção do Conselho Federal de Medicina volta à carga com bandeiras conservadoras que refletem os pensamentos de seus atuais dirigentes. Desta vez, o alvo é a descriminalização da maconha, tese aprovada na plenária final da 17a Conferência Nacional de Saúde e, como se vê, ignorada pelo órgão que apoiou a criminosa política sanitária de Bolsonaro na pandemia. Cinicamente, o órgão mente ao afirmar que o fim do proibicionismo não traz benefícios à sociedade, enquanto a fracassada “guerra às drogas” segue a produzir banhos de sangue – com recortes de classe, cor e gênero notórios.

A autarquia que age como movimento social de direita também lança mão de pânico moral ao afirmar que números de acidentes de trânsito e problemas de saúde se ampliariam, como se descriminalizar fosse desresponsabilizar as pessoas de seus atos. De baixo nível intelectual, a nota ainda ignora a realidade dos imensos danos em saúde e segurança que o uso abusivo de substâncias lícitas como tabaco e álcool provocam, esses amplamente demonstrados. Enfim, mais um vexame daqueles que não tiveram vergonha em dar sinal verde para a cloroquina e outros falsos tratamentos durante a pandemia e contribuíram para o imenso morticínio que se abateu sobre o Brasil. Vale lembrar que Marcos Ribeiro, presidente do Conselho entre 2019 e 2022, está entre os indiciados no relatório final da pandemia. Além disso, é investigado pelo TCU por gastos de R$ 1 milhão em hospedagem no período de dois anos. Por sua vez, o órgão enfrenta processos na justiça por suas ações durante a pandemia e pode ser condenado a pagar multas milionárias.

Covid: nova subvariante não aumenta riscos

A Sociedade Brasileira de Infectologia publicou nota para comentar a nova variante de covid-19, a EG.5, considerada “variante de interesse” pela OMS. Presente em 51 países, mas ainda não no Brasil, tende a se tornar a cepa dominante, em substituição à XBB.1.16. Mesmo assim, esta mutação não apresenta padrões muito diferentes e, segundo a SBI, oferece poucos riscos. De toda forma, a entidade reitera a necessidade de manutenção das políticas preventivas, a começar pela vacinação, a fim de manter o vírus sob controle e também evitar quadros mais graves. “Devemos estar atentos à possibilidade de uma nova onda de casos ocorrendo nas próximas semanas, com baixo potencial de casos graves, baseado no cenário epidemiológico nos países onde ela já circula”, afirma a nota.

Farmácia Popular apresenta primeiros números

A retomada do programa Farmácia Popular estabeleceu que os 55 milhões de beneficiários do Bolsa Família podem retirar gratuitamente 40 medicamentos e, de acordo com o ministério da Saúde, 1,3 milhão já fizeram isso. Além de remédios, fraldas também fazem parte do escopo de insumos garantidos pelo programa, que ainda viu um aumento de 45% no número de mulheres atendidas entre junho e julho, quando o programa começou a operar em sua nova fase. De acordo com o ministério, são mais de 290 milhões de itens retirados gratuitamente neste período, ao passo que desde janeiro 8,4 bilhões de itens foram acessados por mais de 18 milhões de brasileiros. Além da gratuidade aos membros do Bolsa Família, o programa fornece descontos que podem chegar a até 90% para qualquer cidadão que vá a uma farmácia credenciada. O FP também acompanha o Mais Médicos em termos de distribuição geográfica neste momento, de maneira que o governo pretende fazê-lo chegar a 811 municípios, sendo 94% no Norte e Nordeste, para onde inicialmente serão alocados os profissionais.

YouTube investe contra negacionismo

“Nosso objetivo é garantir que, quando se trata de áreas de consenso científico bem estudadas, o YouTube não seja uma plataforma para distribuição de informações que possam prejudicar as pessoas”, explicou a empresa de comunicação ao justificar a adoção de padrões de análise mais rigorosos sobre publicações que falem sobre saúde. Como amplamente documentado por estudos e monitoramento, a plataforma de vídeos, assim como outros espaços virtuais, recebem uma grande quantidade de conteúdos enganosos ou que contêm imprecisões científicas, veiculados inclusive por pessoas sem especialidade no tema. Evidentemente, a covid e a pesada militância antivacina são o estopim da decisão, mas há diversos outros temas que preocupam autoridades em saúde. A decisão também é uma resposta do YouTube às crescentes discussões de regulamentação estatal das redes sociais e dos conteúdos ali despejados, a respeito dos quais quase não existe responsabilização por suas eventuais consequências.

Queda na produção científica brasileira

Revista Fapesp publicou nota em seu site com gráficos que demonstram em números a diminuição da produção científica brasileira em 2022. Apesar do efeito ter sido global, em razão da pandemia, a taxa de queda no Brasil é maior que a média, o que tem óbvia relação com a política de desfinanciamento das universidades e de instrumentos como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia pelo governo Bolsonaro. “A queda foi significativa, em relação aos números de 2021: no caso do Brasil, passou de 72,9 mil para 59,9 mil publicações (-17,9%) e, no de São Paulo, de 30,6 mil para 25,1 mil (-17,8%)”, informa a nota. Apesar de tudo, foi justamente a área da saúde a que registrou a menor taxa de queda de produção de artigos científicos.

Pesquisadores analisam emissões veiculares em SP

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP fez umestudo com coleta de substâncias espalhadas no ar pelos veículos da cidade São Paulo, publicado no artigoEmission factors for a biofuel impacted fleet in South America’s largest metropolitan area, na revista Environmental Pollution. A pesquisa atesta que houve diminuição nas emissões de monóxido e dióxido de carbono, o que assegura os benefícios dos controles de poluentes estabelecidos nos mecanismos de inspeção veicular. No entanto, também observa emissões de novas substâncias no ar, relacionadas com o etanol, tipo de combustível adotado há poucos anos. O estudo ainda destaca que os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, substâncias com potencial cancerígeno emitidas pela combustão da gasolina, ainda não foram regulamentadas.

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