Imunização contra a dengue não deslancha

• Vacinação está fraca • Dados diferentes nos estados e no MS • Transferência de tecnologia da Qdenga • Maconha: Toffoli pede vista no STF • Como expandir vacinação contra HPV • O avanço preocupante do Alzheimer no mundo •

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A vacinação contra a dengue no Brasil enfrenta baixa procura, quase um mês após o início da campanha. Até o momento, apenas 15,4% das doses enviadas foram aplicadas, com variações regionais. A faixa etária para a qual é destinada a vacina, até então, era de 10 a 11 anos – a escolha foi feita baseada na alta hospitalização nessas idades. Estima-se que o Ministério da Saúde deve ampliar oferta para pré-adolescentes de 12 a 14 anos nos próximos dias, mas alguns estados o fizeram antes, dada a baixa procura – é o caso da Paraíba, Rio Grande do Norte, Goiás e Acre. O Brasil enfrenta um aumento alarmante nos casos de dengue, registrando 299 mortes confirmadas e 745 em investigação. A faixa etária mais afetada abrange pessoas acima de 70 anos, representando 42% dos óbitos, mas a vacina Qdenga não pode ser usada em idosos por não haver estudos específicos para atestar a segurança. Especialistas ouvidos pela Folha atribuem a baixa adesão à desconfiança no sistema de imunização, influenciada pelo negacionismo, e à falta de uma campanha nacional coordenada. Com mais de 1,2 milhão de casos prováveis em 2024, o país enfrenta um cenário epidemiológico desafiador, destacando a necessidade de intensificar esforços de prevenção, inclusive considerando a possibilidade de vacinação nas escolas.

Discrepância de dados sobre a doença

Há mais um problema na gestão da crise da dengue: nove estados brasileiros apresentam divergências nos dados de casos e mortes por dengue em relação às informações divulgadas pelo Ministério da Saúde por meio do painel de arboviroses. Os números, coletados até 5 de março, apontam diferenças nos registros de diversos estados em comparação com os dados federais, segundo a Folha. A plataforma do Ceará, por exemplo, mostra 591 casos confirmados, enquanto o Ministério registra 567. No Distrito Federal, há discrepâncias nos óbitos em investigação. Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina e São Paulo também apresentam divergências, levantando questões sobre a consistência e atualização dos dados. O Ministério da Saúde não se pronunciou sobre as discrepâncias.

Fiocruz busca transferência de tecnologia da vacina

O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz iniciou diálogos com a farmacêutica Takeda para transferir a tecnologia da vacina Qdenga e possibilitar a produção do imunizante no Brasil. Atualmente utilizada no SUS para vacinação de jovens de 10 a 14 anos em áreas com alta transmissão de dengue, a Qdenga enfrenta limitações de doses da fabricante Takeda, justificando a necessidade de produção local. A transferência de tecnologia visa ampliar a imunização contra a dengue para outras faixas etárias, contribuindo para o combate à epidemia, que já registrou mais de 1 milhão de casos prováveis e 214 mortes no país de janeiro a março de 2024. Mas o problema da indisponibilidade para a faixa etária mais necessitada, a de idosos, permanece.

Decisão sobre porte de maconha adiada novamente

O Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu pela quarta vez o julgamento iniciado em 2015 que discute a possível descriminalização do porte de maconha para uso pessoal no Brasil, após um pedido de vista de Dias Toffoli. A medida é defendida por alguns ministros do STF, argumentando que a criminalização prejudica especialmente pessoas de baixa renda e negras, que são as mais frequentemente detidas como traficantes. Até agora, cinco ministros apoiam a descriminalização, enquanto três se posicionaram contra – o primeiro voto contrário foi de Cristiano Zanin, seguido pelos dois ministros escolhidos por Bolsonaro. A expectativa, segundo matéria do Mídia Ninja, é que, com o voto de Cármen Lúcia a favor, haverá maioria (6×5) pela declaração de inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas. Advogados destacam a importância de critérios objetivos para distinguir usuários de traficantes, garantindo avanço social e evitando abusos policiais.

OMS busca eliminar câncer de colo de útero

A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou o primeiro Fórum Global para a Eliminação do Câncer do Colo do Útero, na Colômbia, com uma missão ousada mas alcançável: acabar com a doença em todo o mundo. É o quarto tipo de câncer mais comum em mulheres no mundo, e a cada dois minutos uma morre por essa causa. Ainda assim, pode ser evitado facilmente, pois já há vacina muito eficaz para prevenir o HPV, principal causa do câncer. “Temos o conhecimento e as ferramentas para fazer história do câncer do colo do útero, mas os programas de vacinação, rastreio e tratamento ainda não atingiram a escala necessária”, afirmou o diretor-geral Tedros Adhanom. “Este primeiro fórum global é uma oportunidade importante para os governos e parceiros investirem na estratégia global de eliminação e abordarem as desigualdades que negam às mulheres o acesso às ferramentas que salvam vidas de que necessitam.” Em 2022, a OMS passou a recomendar a vacinação de dose única contra HPV, o que pode intensificar os programas de vacinação. O Brasil avalia essa hipótese, mas por enquanto mantém o esquema de duas doses, disponível no SUS para jovens de 9 a 14 anos.

Demência triplicará no próximo quarto de século

Um dos principais especialistas em Alzheimer no mundo, o biólogo belga Bart De Strooper, deu uma entrevista ao El País em que faz um grave alerta. Ele afirma: nos próximos 25 anos, 150 a população com a doença triplicará e deve ultrapassar os 150 milhões, no mundo – o que poderá ter consequências catastróficas, caso não haja tratamento. “Quem cuidará dessas pessoas? Já precisamos levar as melhores enfermeiras e cuidadores dos países pobres para cuidar da nossa população idosa. Multiplique isso por três. Só posso falar em termos de desastre se não conseguirmos algum tratamento”, reflete ele, falando do ponto de vista de quem vive em um país do Norte Global. De Strooper explica, na entrevista, sua recente pesquisa, que envolve incorporar 100 mil neurônios humanos em ratos para estudar a doença. O pesquisador afirma que há muito pouco investimento em estudos de demências, cerca de 15 vezes menos que o câncer – o que é bastante preocupante, dado seu prognóstico. Quais impactos essas mudanças causarão nos sistemas de saúde pública, em especial nos países da periferia do capitalismo?

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