É possível evitar a explosão da dengue?

• As dificuldades de combater a dengue • A doença do mosquito e o racismo ambiental • Aplicativo busca informar para prevenção • Para evitar violência obstétrica com indígenas • Política Nacional de Triagem Neonatal atualizada •

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Revista Nature lança questionamentos a respeito da viabilidade de uma contenção do avanço da dengue no Brasil. Isso no momento em que o país ultrapassa 1 milhão de casos, ainda antes do ápice de sua incidência, previsto para abril. Em linhas gerais, a matéria afirma que só a vacinação em massa pode conter o surto. No entanto, a Qdenga, nova vacina desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda, ainda não tem uma produção grande o suficiente. Apesar de ter comprado todas as doses disponíveis, o Ministério da Saúde terá estoque para vacinar no máximo 2,5 milhões de brasileiros neste ano. As mudanças climáticas, que tornam o Brasil um “paraíso para o mosquito” inclusive em áreas onde antes fazia mais frio, são um problema que não pode ser mitigado por ações de vigilância sanitária. Mas também colabora muito com a explosão da doença o crescimento desordenado das cidades, com infraestrutura de saneamento inadequada, e a formação de grandes bolsões de ambientes propícios à reprodução do Aedes aegypti.

Dengue reitera racismo ambiental no Brasil

Como se começa a notar a partir da qualificação dos dados a respeito das infecções de dengue, mulheres, pretos, pardos e periféricos são os mais afetados pela epidemia. Como não poderia deixar de ser, regiões menos atendidas pelas melhores políticas públicas – da coleta de lixo ao planejamento urbano e serviços de saúde – são as mais favoráveis à reprodução do mosquito. Como mostra matéria do Globo, um conjunto de fatores que estabeleceu as bases do chamado racismo ambiental, consequência diretamente associada à lógica capitalista de organização da vida e das oportunidades aos distintos setores da população, com seus recortes de classe, gênero e cor historicamente enraizados. “O racismo ambiental atua como um vetor que aprofunda as consequências das mudanças climáticas e, também, os processos de favelização, colocando as populações negras frente à precarização das condições de moradia, e intensificando a fragilidade das condições de saúde, acentuando assim doenças tropicais, como a dengue. Essas comunidades têm cor e condição socioeconômica bem definida”, sintetizou Andressa Dutra, coordenadora do Instituto Mirindiba de ação climática popular.

Inteligência em saúde

Em entrevista ao Outra Saúde, o médico e sanitarista Gonzalo Vecina alerta que o Brasil precisará de muita “inteligência epidemiológica”, para combinar de forma eficaz todas as diversas e complementares formas de contenção da onda de dengue, desde a vacinação à ações de prevenção e desenvolvimento de novas técnicas científicas de eliminação do mosquito. No que tange à prevenção, um professor de São José do Rio Preto, Leandro Ferreira de Oliveira, dá sua contribuição. Ele criou o aplicativo “Sai zika”, que oferece informações a respeito de prevenção e eliminação de focos da doença, disseminado entre os próprios alunos da rede pública, onde dá aulas. “Sempre acreditei que um aplicativo, game ou desenho animado podem ser mais educativos do que um livro, pois estes recursos apresentam interação e múltiplas linguagens, trabalhando diversos aspectos cognitivos”, explicou ele ao G1, e usou o conceito de “nativos digitais” para definir as gerações que já nascem amplamente conectadas a aparatos eletrônicos de uso cotidiano.

Professora inova no combate à violência obstétrica em Roraima

Estado com maior percentual de indígenas em sua população, Roraima tenta superar um passado de índices negativos de promoção da saúde, como se vê através da construção do Hospital Universitário, que se iniciará neste ano. Uma questão importante, a violência obstétrica, é alvo do projeto “Tinre yenpoiya: combate e prevenção à violência obstétrica em Roraima”, que na língua Macuxi significa “Parir e Nascer”, idealizado por Iana Vasconcelos, assistente social e doutora em ciências da saúde. “Almejamos que o acesso à informação e a sensibilização de profissionais de saúde sobre o tema transforme a realidade do estado, contribuindo para a redução da violência obstétrica, bem como para a diminuição dos índices de mortalidade materna e infantil”, resume ao Brasil de Fato. A matéria ainda relata diversas dimensões da precarização da saúde, tanto por conta da mão de obra, frequentemente rotativa, o que prejudica a construção de uma relação de confiança entre profissionais de saúde e paciente, como pela pouca disseminação de informações a respeito dos direitos da mulher em acompanhamentos como o de pré-natal, o que acaba sendo um gatilho para a violência obstétrica.

Governo busca avançar em acompanhamento pré-natal

O governo federal divulgou relatório de sua comissão tripartite, que reúne representações de estados e municípios na elaboração de políticas que dizem respeito à integralidade do SUS. Entre outras decisões, foi publicada uma atualização da Política Nacional de Triagem Neonatal, que acompanha gestantes e famílias antes e depois do nascimento da criança. A revisão reforça as diretrizes anteriores e visa a aumentar as equipes de acompanhamento neonatal. Elas devem ser compostas por, pelo menos, um pediatra, um enfermeiro, um assistente social, um nutricionista e um psicólogo. O documento oficial estabelece os seguintes objetivos: “Reestruturar o PNTN a fim de reorganizar, qualificar e ampliar o acesso à triagem neonatal com coleta e acesso aos resultados em tempo hábil, destacando o papel da APS; promover o diagnóstico precoce de doenças de manifestações tardias, porém, assintomáticas no período neonatal, com impacto na saúde e no desenvolvimento da criança; promover o acesso à atenção integral na rede SUS, por meio do conjunto de ações de saúde multicêntricas e multiprofissional, envolvidas no acompanhamento e tratamento das doenças do escopo do programa”. São previstos R$ 94 milhões de investimentos no novo PNTN, que também estabeleceu a rede de laboratórios que processará os exames em cada estado, além de organizar sua logística. Nesse sentido, a grande novidade é a ampliação dos exames neonatais que detectam doenças, o chamado “teste do pezinho”.

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