Hemobrás e a PEC que prevê a venda de sangue no Brasil

• Aborto seguro com telemedicina • Falácias contra misoprostol e mifepristona • Revalida aprova apenas 3,75% • Mercúrio e a contaminação de mulheres indígenas • Mais fake news antivacina •

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Hemobrás e a venda de sangue

O ministério da Saúde apresentou novos argumentos contra o Projeto de Emenda Constitucional que pretende liberar o pagamento a doadores de sangue e a venda de plasma humano à indústria. Para além do problema humanitário – sujeitar pessoas pobres a vender seu sangue “por um prato de comida” – há também questões comerciais e de provimento de remédios. A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), estatal, é a única que tem autorização para produzir medicamentos com o material: hoje, ela recolhe o plasma excedente dos hemocentros, organiza o tratamento do recurso e provê fármacos como a imunoglobulina para o SUS. Se a PEC for aprovada, abrirá espaço para que empresas privadas também tenham essa autorização – e isso pode pôr a Hemobrás em risco. Por conta de uma série de ataques nos governos Temer e Bolsonaro, a Hemobrás não tem conseguido suprir a demanda do ministério – e faltam hemoderivados no sistema de saúde. “A Hemobrás entende que a doação de sangue altruísta é uma cláusula pétrea, não havendo espaço, assim, para a doação remunerada. Nos últimos anos, conseguimos avançar em todo o processo produtivo da cadeia do sangue. Isso garantiu segurança na doação e permitiu o sucesso da indústria de hemoderivados”, defende a empresa.

Aborto seguro com telemedicina

A sanha ultraconservadora que quer impedir os direitos reprodutivos das mulheres está tentando proibir que hospitais facilitem os procedimentos de aborto previstos em lei – aqueles em que há risco à vida da mulher, em caso de estupro ou de bebê com anencefalia. A ginecologista Helena Paro, professora da Faculdade de Medicina da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), está sofrendo um processo administrativo no Conselho Regional de Medicina de MG. Isso porque ela lidera uma iniciativa inovadora no Hospital das Clínicas da cidade: a possibilidade de que pacientes com até nove semanas de gestação que estejam aptas para fazer aborto legal recebam os medicamentos abortivos e realizem o procedimento em casa, com auxílio da telemedicina. A ideia tem sucesso e está fazendo diminuir a ocupação de leitos no HC. Helena defende o projeto: “Custa menos para o sistema e custa menos, social e psicologicamente, para as meninas e mulheres”. Além de ser altamente seguro: as pílulas mais usadas são o misoprostol e a mifepristona e têm taxas altíssimas de segurança e eficácia, como o Outra Saúde relatou em matéria recente

Nos EUA, mais falácias dos conservadores antiaborto

No país da América do Norte, o direito ao aborto – que já havia sido conquistado – está sendo combatido por grupos ultraconservadores, também em muitas frentes. O misoprostol e a mifepristona são o novo alvo desses grupos reacionários, que pediram a proibição de seu uso para a interrupção da gravidez baseados em estudos que supostamente provariam os perigos causados às mulheres. Para escancarar a falácia, o jornal New York Times publicou uma bela reportagem que demonstra a eficácia e segurança das pílulas abortivas. Os jornalistas fizeram uma análise de mais de cem estudos científicos que acompanharam mais de 19 mil pacientes em 26 países por mais de 30 anos. Em suma, o que fica claro nesses trabalhos é que o risco é baixíssimo: mais de 99% das mulheres que tomaram os remédios para abortar não tiveram qualquer problema. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, os conservadores selecionaram apenas dados que interessavam para reforçar os ataques aos medicamentos, deixando de olhar para o quadro geral.

Revalida 2022, “feito para reprovar”?

O Revalida, exame que confirma diplomas de medicina de universidades estrangeiras no Brasil, teve a menor taxa de aprovação desde que começou a ser aplicado, em 2011. Médicos formados no exterior (brasileiros ou não) apontam falhas no conteúdo e na correção das provas, além de uma possível nota de corte elevada demais. Dos mais de 7 mil candidatos, apenas 263 (3,75%) conseguiram passar nas duas fases. O Revalida é uma prova em duas etapas: a primeira é composta por 105 questões, sendo 100 objetivas e 5 discursivas, enquanto a segunda etapa é prática e testa as habilidades clínicas do médico. Profissionais formados no exterior precisam passar por esse exame para solicitar o registro nos conselhos de medicina do Brasil e trabalhar no país. Foram feitas 11 edições do Revalida, com mais de 65 mil inscrições e 12 mil aprovações. Até então, a mais baixa taxa de aprovação era a da edição de 2017 (4,8%).

Mercúrio: o drama das mulheres indígenas contaminadas

A contaminação por mercúrio causada pelo garimpo ilegal na região amazônica tem afetado gravemente a saúde das populações indígenas. Os sites AzMina e Gênero e Número publicaram reportagem especial sobre o tema. Mulheres e crianças são as mais vulneráveis e convivem com problemas crônicos de saúde decorrentes da exposição ao metal pesado. A ausência de serviços públicos de saúde especializados em territórios indígenas agrava a situação e torna a certeza da contaminação uma condenação para esses povos. Alguns dos sintomas relatados são fraqueza nas pernas, alterações na visão, dores nos olhos e de cabeça e lapsos de memória. Complicações na gestação e até abortos acontecem. A crise na saúde indígena se aprofundou nos últimos anos e exigirá a reconstrução de órgãos federais e a capacitação de profissionais para atender à demanda histórica de povos contaminados pelo mercúrio.

Nova onda de mentiras sobre a vacina contra covid

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro estão monitorando uma nova onda de fake news sobre vacinas que tem circulado nas redes sociais, em especial após o lançamento da nova campanha de vacinação pelo ministério da Saúde. Um relatório do NetLab, Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da UFRJ, identificou uma campanha orquestrada contra a vacina, com motivação política e rendimentos financeiros para os responsáveis, inclusive fora do Brasil. Em matéria do Jornal Nacional, a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Margareth Dalcolmo, destacou que as fake news não têm base científica e que a vacina é segura. Para combater a desinformação, é essencial confiar em instituições como o SUS, a imprensa, a ciência e as universidades.

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