Governo tira verba do Bolsa Família para usar em propaganda

Mesmo com 433 mil famílias na fila pelo benefício, Ministério da Economia determina retirada de R$ 84 milhões do programa. Dinheiro vai para ações de marketing

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Não é novidade que o governo Jair Bolsonaro vem promovendo os maiores cortes da história do Bolsa Família. A fila aumentou, especialmente no Nordeste – região que, coincidentemente, não é reduto eleitoral do presidente. Hoje, há 433 mil famílias do país inteiro aguardando o sinal verde para receber o benefício

Eis que, atendendo a um pedido do próprio presidente, a Junta de Execução Orçamentária, formada por Paulo Guedes (Economia) e Braga Neto (Casa Civil), aprovou que R$ 83,9 milhões da parcela do programa destinada ao Nordeste fossem remanejados… para fazer propaganda do governo. Sim. Ao invés de diminuir a fila – com esse dinheiro dava para contemplar cerca de 70 mil novas famílias no segundo semestre do ano –, ao invés de investir no combate à pandemia – o montante daria para 1.263 respiradores ou mais de 855 mil testes PCR –, Bolsonaro preferiu reforçar sua imagem pela via do marketing puro. 

O Ministério da Economia, pasta de onde partiu o ato administrativo que remanejou os recursos, tem uma justificativa. Vejamos: segundo a lei que criou o auxílio emergencial de R$ 600, é ilegal que as pessoas acumulem esse benefício com o Bolsa Família. E como o auxílio paga melhor que o programa (o valor médio do Bolsa em março foi de R$ 191), 95% dos beneficiários preferiram receber os R$ 600. Com isso, houve “sobra” de dinheiro. O que essa linha de argumentação ignora de propósito é a explicação das prioridades do governo para aplicação de recursos públicos.

Os quase R$ 84 milhões vão para a Secretaria de Comunicação (Secom), a mesma da publicidade embargada “O Brasil não pode parar”, a mesma que propagandeia um “Placar de Vidas” quando as mortes por covid-19 batem recorde após recorde. Com esse tipo de coisa, a Secom já gastou R$ 17,8 milhões durante a pandemia. Segundo a Agência Pública, R$ 14 milhões foram alocados na melhora da imagem do Brasil no exterior em propagandas que afirmam que o país “está no rumo certo”

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