Governo de SP veta ampliação da imunização contra HPV

• Tarcísio dá as costas aos perigos do HPV • Uso de preservativos entre jovens cai 22,3% • Pólio tarda a ser erradicada • Com Parkinson, Suplicy defende maconha medicinal • Crise sanitária múltipla no Sudão • Nova greve da saúde no Reino Unido •

Ampola de vacinação contra o papilomavírus humano.
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O governador do estado de São Paulo, Tarcisio Gomes de Freitas, vetou integralmente o Projeto de Lei 134/22, aprovado na Assembleia Legislativa com intuito de fortalecer a imunização contra o HPV. A doença pode causar diversos tipos de câncer, em especial o de colo de útero – que matou 6.627 mulheres no Brasil apenas em 2020. Conhecida como papilomavírus humano, é uma infecção sexualmente transmissível que pode ser facilmente evitada com uma vacina oferecida em duas doses, disponível no SUS para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. No estado de São Paulo, a cobertura vacinal para o HPV entre as garotas está em 78% para primeira dose e pouco menos de 60% para segunda dose. Para os garotos, a cobertura da primeira dose não chega a 60% e a segunda dose está abaixo de 40%. Mas esses números não preocupam o governador do estado.

A lei aprovada na Assembleia paulista ampliaria o público alvo da vacinação contra HPV e levaria a imunização às escolas, além de oferecê-la também a adultos imunossuprimidos até 45 anos. De acordo com posicionamento da secretaria de saúde, o governo alega que o estado já teria política suficiente para a prevenção a este vírus. Nunca é demais lembrar que Tarcísio segue fiel ao bolsonarismo e seu grupo político se caracterizou não só pelo negacionismo científico em relação a vacinas, como sabotou todas as políticas públicas de educação e prevenção sexual, a fim de satisfazer o moralismo retórico de parte de seus apoiadores. Neste momento, não há campanhas de prevenção ao HPV por parte do governo do estado.

Uso de preservativos retrocede entre jovens

Outro fruto do desmonte de políticas de prevenção e educação sexual é a redução no uso de preservativos. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada pelo IBGE, relata que 28,5% dos adolescentes de 13 a 15 anos já tiveram relações sexuais e, de acordo com a comparação com pesquisas anteriores, o uso deste método preventivo caiu 22,3%. Além disso, quase 60% relata não ter usado na última relação sexual. “Cerca de 35% dos adolescentes nunca usam preservativos nas suas relações sexuais e têm usado cada vez menos, se colocando em risco de várias doenças. Esse é um problema que não é exclusivo do Brasil, é um fenômeno mundial”, disse à Folha Daniel Suslik Zylbersztejn, médico urologista do Albert Einstein que lidera campanha para incentivar jovens meninos a irem ao especialista – algo raro nesta faixa etária. Uma das explicações do fenômeno, para além da falta de políticas públicas, é que as últimas gerações já não conviveram com infecções sexualmente transmissíveis com o mesmo medo daqueles que acompanharam de perto fenômenos como o aparecimento da aids, cuja morbidade parece pertencer a um passado remoto para os jovens.

O que falta para que a poliomielite seja erradicada

A campanha contra a pólio é um dos principais êxitos da cooperação internacional em saúde nos séculos XX e XXI. A doença foi praticamente erradicada. Atualmente, o vírus “selvagem” só circula em dois países, Afeganistão e Paquistão. Mas como conta uma reportagem da Science, há décadas, governos e agências encontram dificuldades para dar um ponto final aos esforços – ou seja, passar da redução em 99% dos casos, já alcançada, à erradicação definitiva da pólio. Isso acontece porque o vírus atenuado utilizado na vacina, em raras ocasiões, pode mutar e retomar sua capacidade de causar a doença. Consequentemente, registram-se hoje no mundo mais casos de pólio derivados da vacina que do vírus “selvagem”. A diversificação de estratégias de vacinação poderia ajudar a coibir esse problema. Porém, opina um ex-chefe do CDC estadunidense ouvido pela revista, “atitudes rígidas, oportunidades perdidas, falta de visão e incapacidade de adaptação a novas situações” dificultam as mudanças necessárias. A entrevista vale ser lida.

Suplicy vai à Câmara defender maconha medicinal

Convidado pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), o deputado estadual Eduardo Suplicy, um dos principais parlamentares da história do PT, participou de audiência pública sobre regulamentação da canábis medicinal na Câmara. Suplicy anunciou, esta semana, que foi diagnosticado com a doença de Parkinson leve. Ele afirma que começou a sentir tremores e dificuldade em movimentos motores, além de pequenas quedas. Meses após ter sido diagnosticado, passou a se tratar com canábis industrializada, que importa do exterior. “Tudo melhorou bastante. A dor na perna sumiu. O tremor, na hora de comer, melhorou”, afirmou à jornalista Mônica Bergamo. Contou sua experiência no Congresso, ontem, em audiência para discutir a regulamentação da maconha medicinal. Ele junta-se ao coro daqueles que acreditam que a canábis deve estar disponível a todos no SUS, para tratamento de doenças como autismo, epilepsia, doenças reumáticas etc. Em seu instagram, Suplicy defende que o presidente da Câmara, Arthur Lira, “coloque logo em votação o projeto de lei que vai permitir que haja a melhor utilização da canábis medicinal a todos que tiverem algum problema que precisem melhorar a sua qualidade de vida”. Mais um importante aliado na luta.

Sudão enfrenta grave crise de sarampo, cólera, dengue e malária

Desde abril, a guerra civil no Sudão já causou pelo menos 4 mil mortes, segundo o Ministério da Saúde do país. Agora, um comunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para um segundo efeito da guerra: uma crise sanitária múltipla no Sudão, com o alastramento simultâneo de uma série de doenças. De acordo com a agência, pelo menos 1,2 mil crianças sudanesas já morreram de uma combinação de sarampo e desnutrição desde maio. Além disso, 500 casos de cólera foram registrados no país no mesmo período, bem como uma sequência de surtos de dengue e malária. Problemas como falta de profissionais, medicamentos e equipamentos, além dos constantes ataques armados, tornam a situação crítica nas unidades sanitárias – e elevam o número de mortes evitáveis. A OMS está organizando uma campanha de vacinação contra o sarampo no país e acompanha a situação em regiões vizinhas do Chade, Sudão do Sul e Etiópia. Mas o organismo alerta que os óbitos seguirão crescendo se não houver “recursos para a resposta à crise, acesso garantido aos mais vulneráveis e um fim ao conflito”.

Reino Unido quer forçar trabalhadores da saúde a furar greve do NHS

A longa crise do National Health Service (NHS), sistema público de saúde do Reino Unido, tem levado a uma série de paralisações de seus servidores – cada vez mais vulneráveis e precarizados. Hoje (20/9), conta a Reuters, iniciam-se greves dos junior doctors e senior doctors, simultâneas. Mas o governo do Partido Conservador quer furar a ação. Em julho, o primeiro-ministro Rishi Sunak aprovou uma lei que obriga grevistas de “setores estratégicos” a seguir oferecendo serviços essenciais. A legislação não inclui os trabalhadores da saúde. Mesmo assim, os conservadores pretendem fazer uma parcela dos profissionais do serviço público trabalhar normalmente em dias de paralisação. A British Medical Association, entidade sindical que representa os médicos do NHS, alega que o reajuste de 6% oferecido por Sunak não cobre nem a inflação de 11,4% – e manterá a greve. O governo, porém, diz que não dialogará mais. “Nossa posição é final e justa”, diz o secretário de Saúde Steve Barclay, que em sua gestão viu a fila para tratamento no NHS subir para 7,6 milhões de pessoas.

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