Foi por pouco

Cápsula com césio-137, encontrada em Alagoas, poderia ter causado tragédia radioativa. Leia também: mazelas da saúde privada no Canadá; as mentiras de Bolsonaro sobre o meio ambiente; suicídios (muitos) na PM; a dengue volta a SP

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FOI POR POUCO

Depois de receber uma denúncia anônima, a Vigilância Sanitária de Arapiraca, em Alagoas, recolheu num ferro-velho uma cápsula de raio-X contendo césio-137, substância radioativa extremamente perigosa. Por sorte, a peça ainda não havia sido manipulada, muito menos aberta. Se tivesse acontecido, a cidade poderia viver uma tragédia como a que aconteceu em Goiânia em 1987, quando a história foi bem parecida.

Lá, catadores de lixo desmontaram um aparelho de raio-x e venderam a cápsula para um ferro-velho. Desmontada, ela liberou césio-137 e causou maior acidente radioativo já registrado fora de uma usina nuclear. A matéria do Uol lembra que muitos se encantaram com o pó azulado e brilhante que resulta da decomposição do césio-137. Quatro pessoas morreram e centenas ficaram com sequelas. Até hoje, quem teve contato com o material precisa de tratamento médico.

Em Arapiraca, a peça parece ter vindo de um aparelho de mamografia, que devia ter sido descartada por uma empresa especializada em lixo radioativo. Ainda não se sabe a quem pertencia nem quem descartou, mas a Polícia Civil está investigando. Se a empresa for identificada, pode ser responsabilizada criminalmente. 

IDEIAS PERIGOSAS

Parece que o atual premiê do estado candadense de Ontário, Doug Forrd Jr, está planejando formular um sistema de saúde com fins lucrativos, segundo o Star. No início do ano, um colunista do jornal descreveu uma “campanha” do premiê para desenvolver um sistema com clínicas privadas especializadas e médicos cobrando mais do que as taxas padrão por procedimentos realizados fora dos hospitais públicos ou centros de saúde. “A campanha está cheia de reuniões a portas fechadas em lugares como o Albany Club, um antigo bastião conservador no centro de Toronto, e é financiada por algumas das maiores corporações do Canadá”, diz o texto, segundo o qual se planeja ainda retratar o sistema canadense como ineficiente e superfaturado. As empresas de seguros estão animadas.

Agora, o site  The Conversation explica por que, embora o objetivo declarado de Doug Ford seja acabar com o problema das filas, é uma péssima ideia. O artigo diz que, segundo estudos sobre países como Alemanha, Austrália e Suíça, a cobrança de pagamentos aumenta os tempos de espera para a maioria dos pacientes que dependem dos serviços públicos, e ainda aumenta os custos totais do sistema. “A maioria dos canadenses, que continuaria a depender de um sistema público, esperaria ainda mais por médicos, enfermeiros e outros profissionais, que seriam incentivados a trabalhar menos horas no sistema público e mais horas no lucrativo sistema de pagamento privado”, diz o texto. 

Quanto aos custos, há um exemplo recente em Ontário mesmo: no ano 2000, o governo concedeu um contrato a um grupo privado para lidar com atrasos em tratamentos de radioterapia. O governo deu à clínica US$ 4 milhões em custos iniciais e ainda assim o tratamento na clínica custou US$ 500 a mais por paciente, em comparação com os hospitais públicos. Além disso, em um ranking de 2017 sobre acesso e qualidade dos serviços da saúde, o Canadá tirou nota 88 de 100. E os países que obtiveram pontuações maiores investem ainda mais recursos públicos em saúde. 

VISITA SURPRESA

Jair Bolsonaro tuitou ontem que “ministros e outros representantes estão percorrendo o Brasil nestes primeiros dias para mapear e procuramos sanar muitos problemas de responsabilidade da administração pública e como derivaremos nos próximos passos”. Como exemplo, postou um vídeo em que o ministro da Saúde, Mandetta, faz uma visita surpresa a um hospital em Boa Vista, Roraima. Ele já fez o mesmo no Rio. “Hospital público com muita dificuldade, gestão clínica insuficiente, muita gente na maca, muita gente esperando exame, índice de mortalidade alto. Este é o típico hospital que a gente vai ter que trabalhar muito para reverter. Fica aqui o meu respeito ao corpo clínico que está trabalhando em condições não corretas de trabalho e também aqui o meu respeito à população que não está tendo atendimento na altura do que ela merecia”, disse o ministro no vídeo, completando: “Hoje, a visita surpresa foi aqui em Boa Vista, Roraima. Que isso sirva para todos os hospitais brasileiros. Daqui a pouco eu passo aí no seu”.

MUDANÇA NO RIO

E Mandetta tinha prometido revisar contratos e a administração dos seis hospitais sob administração federal. Agora, o Ministério decidiu afastar a diretora do Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio, Luana Camargo. Ela foi denunciada por, entre outras coisas, preencher vagas de trabalho com indicações políticas, e o próprio corpo clínico do hospital havia pedido sua saída. Hoje deve acontecer no Rio a primeira reunião entre integrantes do ministério, da Secretaria-Geral da Presidência da República e a diretoria dos seis hospitais para discutir melhoras na administração. Camargo já não vai. 

“COMPATIBILIZAÇÃO”

Muito se especulou sobre o que o presidente diria em Davos no Fórum Econômico Mundial. Depois das muitas ameaças e do tardio recuo sobre a saída do Brasil do Acordo de Paris, o meio ambiente foi um dos temas abordados. Bolsonaro disse que somos “o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária”.

Folha apresenta o discurso, na íntegra, comentado e “corrigido”. Nesse trecho, aponta que na real o Brasil não é o país que mais preserva o meio ambiente e ainda por cima é o que mais desmata. Também não somos o país com mais florestas e, no ranking em percentual de áreas protegidas, ficamos em 52º lugar. A Deutsche Welle também falou disso, lembrando que o Brasil já desmatou em três décadas um total de 783 mil quilômetros quadrados de Floresta Amazônica (duas Alemanhas) e que no ano passado a taxa de desmatamento da Amazônia foi a mais alta da última década. Bolsonaro disse ainda que “nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis”.

Na semana em que os escândalos envolvendo seu filho Flávio se multiplicam, a questão sobre corrupção foi respondida passando a bola para Moro, que é “o homem certo para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro”.  Mourão disse que as palavras de Bolsonaro foram “maravilhosas”. Também falou do meio ambiente e da presença no Acordo de Paris. “Às vezes alguns ruídos acontecem, mas a gente não pode fugir dessa questão ambiental, a questão do clima. O presidente tem plena consciência disso aí e deixou claro no discurso dele”.

LÁ FORA

A questão do Mais Médicos no governo Bolsonaro foi tema de uma reportagem da Vice internacional. O título “Como o novo presidente do Brasil está criando uma crise no sistema de saúde para os cidadãos mais pobres” não deixa dúvidas sobre o caráter crítico da matéria, que fala da saída dos cubanos, dos brasileiros que não supriram as vagas ainda, dos que saíram de seus antigos postos na atenção básica para entrar no Mais Médicos…

CLIMÃO

O Ministério da Saúde pediu, ainda no ano passado, que a CMED (que regula preço dos remédios) desse esclarecimentos sobre o valor máximo cobrado nas importações de medicamentos feitas pelo governo. Segundo a colunista Maria Cristina Frias, da Folha, parte do setor farmacêutico esperava que a decisão fosse abandonada com a troca de governo mas, ao menos por enquanto, se mantém. O levantamento já começou, para avaliar se haverá cobrança de ressarcimento. “Não se pode exigir que uma companhia que opera fora do Brasil seja submetida a regras brasileiras. Se [o ministério] quer as normas locais, tem que comprar aqui dentro”, argumenta Pedro Bernardo, diretor da Interfarma (que representa farmacêuticas).

NA RUA

Há um grupo de psicanalistas atendendo na rua e de graça em São Paulo. É o coletivo ‘Psicanálise na Roosevelt“, em referência à praça de mesmo nome, no centro da capital paulista. Na Folha, Vera Iaconelli explica mais ou menos a atuação, que, ao que parece, é voluntária. As sessões gratuitas acontecem toda semana e atendem desde moradores e funcionários das lojas e casas noturnas da região até pessoas em situação de rua. Também tem vindo gente de outros bairros.

SE MATAM MAIS DO QUE SÃO MORTOS

Uma reportagem da Folha fala de policiais militares afastados por transtornos psiquiátricos em São Paulo. Entre janeiro e setembro do ano passado, foram 555 e, desde 2010, foram 11.126. E nem todos os que estão com problemas chegam a pedir afastamento. No estado, o número de PMs mortos por suicídio supera o de mortos em confronto. 

MORADIA SEM SERVIÇOS

Alvo de elogios e críticas, o programa Minha Casa Minha Vida foi objeto de um estudo do  Instituto Escolhas, ligado ao Insper, que, por sua vez, é uma instituição privada de educação. Até 2016 foram investidos cerca de R$ 380 bilhões para a construção de 4,4 milhões de unidades habitacionais que beneficiaram em torno de 20 milhões de pessoas. Ou seja, em sete anos, o número se igualou ao da  produção de moradia popular durante os 21 anos de ditadura civil-militar. Mas um dos principais problemas apontados é o local de construção das moradias, em áreas distantes dos centros urbanos, com índices mais baixos de desenvolvimento humano e com baixo acesso a saúde, educação e segurança. A economia feita no preço dos terrenos pode sair caro, tomando como exemplo os projetos habitacionais mais antigos feitos também nas margens ou fora das cidades. É que depois da construção é preciso implantar do zero todos os serviços públicos. 

DEGELO

Entre 2003 e 2013, o degelo na Groenlândia aumentou quatro vezes, segundo advertiram cientistas ontem. Enquanto isso, na Antártida o derretimento está mais rápido do que nunca. Entre 1979 e 1990, o continente perdeu em média 40 bilhões de toneladas de gelo por ano. De 2009 até 2017, foram 252 bilhões de toneladas anuais. 

NOVAS CIRURGIAS

Uma rara doença, que atinge menos de uma dúzia de pessoas ao redor do mundo, é particularmente intensa em um homem de Bangladesh que ficou conhecido como “homem-árvore” por conta das verrugas que aparecem em suas mãos e pés, em forma de casca. Ele já passou por 25 cirurgias e esta semana voltou ao hospital para novas remoções. Mais de uma vez médicos acreditaram que ele estava curado, mas as verrugas sempre voltam. 

SEM USO

BBC listou nove partes do nosso corpo que já foram importantes, mas não usamos mais. Algumas pessoas já até nascem sem. Além do famoso apêndice (que, apesar de ter perdido sua função de ajudar na digestão de plantas com muita celulose, pode ainda ser importante para armazenar bactérias benéficas), tem os sisos, os músculos que arrepiam os pelos, os músculos que servem para mexer a orelha e o reflexo dos bebês de agarrar com as mãos. 

JÁ COMEÇOU

São Paulo já vive uma epidemia de dengue. Ainda não é tão grande como a de 2015, mas, por outro lado, tem em circulação em 19 cidades o sorotipo 2 do vírus, que tende a provocar casos mais graves. Nos primeiros 15 dias do ano foram confirmados 610 casos autóctones (contraídos no próprio estado) e há uma morte sob investigação.

E a febre amarela já matou seis pessoas este ano só em Sorocaba, que está em alerta contra a doença. 

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