Brumadinho: o muito que falta saber

A AGU de rabo preso e as muitas barragens ameaçadas: aspectos ocultos do crime em Brumadinho. E ainda: crise econômica e mudança climática; retardar os seios, outra forma de violência contra as mulheres; uma saída contra o câncer nos olhos?

Foto: Presidência da República / Divulgação
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OUTRA TRAGÉDIA DA MINERAÇÃO

Já são 60 mortos em Brumadinho, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte atingida por mais um rompimento de barragem de rejeitos de mineração. Foram liberados cerca de 13 milhões de metros cúbicos da mina do Feijão, contaminando o rio Paraopeba. O número de desaparecidos chegava, no início da tarde de hoje, a 292 pessoas.

Assim como nocrime socioambiental ocorrido Mariana, em 2015, com repercussões até hoje em grande parte da bacia do Rio Doce, a Vale está novamente  envolvida. Desta vez, não como controladora de grande parte das ações de outra companhia, mas de forma direta. Mas a empresa “não enxerga razões determinantes de sua responsabilidade” no acidente, afirmou o advogado da Vale, Sergio Bermudes. Já a Advocacia Geral da União enxerga e se pronunciou dizendo que a empresa é culpada.

O problema é que a própria AGU atuou na costura de um acordo com Vale, BHP e Samarco em que a criação de uma fundação de direito privado totalmente controlada pelas empresas foi a moeda de troca para retirar os processos judiciais movidos contras as companhias pelo governo federal e pelos governos de Minas e Espírito Santo. “O acordo é mais uma expressão da lógica de licenciamento e monitoramento que causou o rompimento da barragem da Samarco, notadamente baseada em auditorias contratadas pela própria empresa e fiscalizadas por órgãos ambientais falidos e sem independência porque o líder do Executivo tem sua campanha eleitoral financiada por essas mesmas empresas”, disse, em 2016, o especialista em mineração Bruno ilanez. Em entrevista à Folha hoje, ele reforçou: o rompimento de outra barragem era apenas uma questão de tempo.

Para o relator da ONU para direitos humanos e substâncias tóxicas, o desastre precisa ser investigado como um crime. “O Brasil deveria ter implementado medidas para prevenir colapsos de barragens mortais e catastróficas após o desastre da Samarco de 2015”, disse Baskut Tucank. Ao contrário, a Política Nacional de Segurança de Barragens ainda patina oito anos depois da sua criação. Nada menos do que 76% das 24.092 barragens cadastradas no país não estão submetidas à política. Só em Minas, mais de 300 locais de contenção de rejeitos são considerados inseguros pelo Ibama. Pior: o risco de rompimento da barragem da mina do Feijão foi citado por técnico do Ibama em reunião com a Vale e com o governo de Minas realizada em dezembro do ano passado.   

Por enquanto, a Justiça de Minas autorizou o bloqueio de R$ 11 bilhões da Vale, sendo R$ 6 bi para o auxílio das vítimas e R$ 5 bi para reparação de danos ambientais. O Ibama multou a empresa em R$ 250 milhões, e o governo de Minas em R$ 99 milhões. Já a Polícia Federal abriu uma investigação para apurar as causas do rompimento e seus responsáveis. Jair Bolsonaro aprovou a criação de um gabinete de crise para monitorar o caso, e o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o governo estuda afastar a diretoria da empresa de suas funções durante as investigações. Foi decretado estado de calamidade pública no estado. As ações da Vale já caíram 20%.

Médicos cubanos que ficaram por aqui após o fim da parceria entre aquele país e o Brasil estão oferecendo ajuda no atendimento às vítimas. Griela Tirse, que espera a revalidação do diploma, reuniu um grupo de 82 profissionais que aguardam algum chamado do governo.  

A PRÓXIMA CRISE ECONÔMICA

A próxima crise econômica pode ser causada pelo aquecimento global. Segundo a Vice, esta é uma possibilidade que está sendo cada vez mais contemplada por investidores e pela mídia especializada em finanças. O marco zero foi o caso da PG&E, empresa que viu seu valor de mercado encolher de US$ 25 bilhões para US$ 4 bi, foi multada em US$ 30 bi e enfrenta 750 processos na Justiça por ter causado a grande maioria dos incêndios que castigaram a Califórnia em 2017 e 2018. “Se você dissesse alguns anos atrás que causar incêndios por falhas nas linhas de transmissão seria a causa da falência de uma empresa americana deste porte as pessoas não acreditariam”, contextualiza um advogado especializado em clima e negócios ouvido pela reportagem. Em dezembro passado, 415 investidores lançaram um documento em que projetam perdas de US$ 23 trilhões para a economia global nos próximos 80 anos devido às mudanças climáticas. “Quando a ‘bolha de carbono’ estourar vamos ver repercussões no sistema financeiro inteiro porque a mudança climática é um risco sistêmico que toca cada área das nossas vidas”, afirma, por sua vez, o porta-voz de um grupo de investimento. 

CIRURGIA

No início da tarde, já durava mais de sete horas a cirurgia para retirada da bolsa de colostomia de Jair Bolsonaro. O presidente se internou ontem no Hospital Albert Einstein. A partir da quarta, ele passa a despachar da unidade de saúde, em um sala montada pelo Gabinete de Segurança Institucional. A previsão é que permaneça internado dez dias.

VÍRUS CONTRA CÂNCER

Cientistas estão trabalhando para destruir células de um tumor que afeta a retina a partir do uso de vírus geneticamente modificados. O chamado oncovírus foi alterado para só conseguir se multiplicar no interior das células de retinoblastoma. Esse câncer é desencadeado pela falha na replicação de um gene, o RB1. O que o vírus faz é buscar as células que não conseguem mais fazer cópias deste gene. Isso, em tese, previne que o vírus se espalhe para outras partes do corpo e passe a ser um problema. O experimento está em fase de testes clínicos. Duas meninas de dois anos que não respondiam mais à quimioterapia foram submetidas ao tratamento experimental, que já havia sido feito com animais. Em ambas, porém, o vírus produziu um processo inflamatório. Uma delas teve de se submeter a uma cirurgia para remoção do olho, que é a resposta tradicional ao retinoblastoma e justamente o que o uso de vírus quer evitar. Na outra menina, a inflação foi controlada e os vírus destruíram parte das células tumorais, evitando a retirada do olho afetado pelo câncer.

PASSADAS À PEDRA

Guardian revelou que se torna comum entre imigrantes africanos no Reino Unido a prática de “passar” os seios de meninas à pedra, na tentativa de retardar sua formação e amadurecimento. A prática, “dolorosa, abusiva e fútil, em última instância”, diz o jornal, tem sido relatada tanto em Londres quanto nas regiões de Yorkshire, Essex e West Milands. Consiste em usar uma pedra quente para massagear, de forma repetida, a região peitoral de meninas pré-adolescentes para “quebrar o tecido” e é comumente perpetrada por mães, avós e parentes mulheres com o objetivo de proteger as meninas da atenção masculina, do abuso sexual e do estupro. Especialistas alertam que além de caracterizar abuso infantil naquele país, a prática pode causar cicatrizes, traumas, infecções, inabilidade para amamentar, deformidades e até câncer de mama. Uma ONG estima que mil meninas já tenham sido vítimas da intervenção no Reino Unido, mas não existe nenhum estudo ou coleta de dados mais sistemática sobre o tema. Já a ONU afirma que a prática está entre as violências de gênero mais subnotificadas do mundo.   

SOLIDÃO

O TAB, projeto de reportagens de fôlego do UOLfala nesta semana sobre solidão. Para além da discussão das dores e delícias de se ficar sozinho, a solidão é um fenômeno concreto a ser encarado pelas políticas públicas: a OCDE projeta que, em 2030, países como a França vão experimentar um aumento de 75% no número de pessoas vivendo sozinhas. Na Nova Zelândia o crescimento será de 71%, na Inglaterra de 60%. Aliás, como já falamos aqui, o Reino Unido criou um Ministério da Solidão para lidar especialmente com os cerca de nove milhões de idosos que vivem sozinhos. Embora optar por ficar sozinho seja um sinal de saúde mental, segundo os especialistas entrevistados, a solidão está na origem de uma série de problemas, causa irritação, isolamento, depressão e chega a estar associada com um aumento de 26% do risco de morte prematura, segundo estudo publicado no Lancet.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

CEO de uma empresa de saúde, Angel Iscovich afirma que a inteligência artificial vai mudar a forma como tomamos decisões cotidianas, inclusive aquelas relacionadas ao nosso bem-estar. Um exemplo atual que representa uma “pequena fatia” do que vem pela frente, segundo a Forbes, é aquela pulseira esportiva, Fitbit, que monitora quantos passos uma pessoa dá por dia, ou a qualidade do sono. Ou o Waze, aplicativo de trânsito. Em suma, a partir da coleta e processamento de grandes quantidades de dados, as máquinas vão conseguir mapear padrões e sugerir decisões. “A tecnologia pode recomendar o fim de um relacionamento ou que você tire uma soneca de 20 minutos, ou medite, para diminuir a frequência cardíaca”, diz Iscovich, que junto com outros dois autores, está lançando um livro sobre o assunto.

ALERTA

O sorotipo 2 da dengue está circulando em pelo menos 19 cidades das regiões norte e nordeste de São Paulo. A ação deste vírus é mais agressiva em pessoas que já contraíram outros sorotipos da doença. Até 15 de janeiro, foram registrados 610 casos de dengue no estado, que está em alerta.

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