Estudo mapeia efeito da pandemia na prevenção ao câncer de mama

• Pandemia e prevenção contra câncer de mama • Devato chega ao SUS… Será suficiente? • Volta a caderneta de vacina, após anos de “austeridade” • Para lidar com autistas no ambiente acadêmico •

.

Conforme alertado por diversos especialistas e retratado no Outra Saúde na reportagem especial “Pandemia da pandemia: a próxima tempestade”, um dos efeitos mais duros da covid seria o atraso em consultas, exames, rastreamentos e tratamentos de outras doenças em função de dois fenômenos combinados: o isolamento social e a pressão exercida sobre o SUS por tratamentos e internações hospitalares de pacientes de coronavírus. Assim, tivemos um aumento de mortes evitáveis, o que segue a se refletir, ainda que numa escala menor. Nesse sentido, a doutoranda em saúde pública Rosalva Raimundo da Silva apresenta o estudo Integralidade da atenção à saúde da mulher com câncer de mama: uma análise da rede de oncologia em Pernambuco no contexto da pandemia da covid-19, que analisa os impactos da pandemia na prevenção e tratamento de câncer de mama.

Como explica a Agência Fiocruz, “os resultados apontaram que o primeiro ano da pandemia (2020) impactou negativamente na atenção ao câncer de mama, com reduções nas consultas com a mastologia (46,3%), ultrassonografias (34,8%), mamografia (41,5%), biópsia (49,6%), casos novos 45,7% e cirurgia 34,6%, em relação a 2019. Por outro lado, a oferta de quimioterapia e radioterapia não foi afetada pela pandemia”. Dessa forma, foi natural o aumento da demanda pelo SUS neste 2023, um dos motivos centrais da luta pelo aumento do orçamento na transição de governo. “Exceto nas consultas com mastologista e cirurgia, que permaneceram com baixa produção em 2021, todos os demais serviços onde se observou redução em 2020, aumentaram significativamente em 2021 e voltaram ao patamar de produção do período pré-pandemia”, explicou Rosalva.

Começa a distribuição do dolutegravir no SUS

Através da Farmanguinhos, o Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fiocruz, começou neste mês a distribuição do dovato, antirretroviral de combate ao HIV/aids pelo SUS. Criado pela farmacêutica ViiV, o medicamento é uma combinação de outras duas terapias já utilizadas no tratamento da doença, o dolutegravir e a lamivudina. Para este ano, 10 milhões de unidades chegarão ao SUS, e para 2024 prevê-se o envio de outras 30 milhões. A promessa é que o Instituto brasileiro possa adquirir a capacidade de produção própria, afim de desonerar o nosso sistema de saúde, embora ainda não se tenha previsão de quando isso ocorrerá. A vantagem da nova combinação é que ela reduz a quantidade de remédios necessários ao combate à doença, um grande avanço em relação a anos passados, quando pesados coquetéis somavam até uma dezena de fármacos para o paciente, de modo que especialistas preveem mais adesão aos tratamentos.

“Para quem e onde?”

Como indagou matéria recente do Outra Saúde, cabe perguntar quantos brasileiros, e de qual extração social, terão acesso ao dovato. Isso porque são 700 mil habitantes do país que fazem consumo diário de remédios contra HIV/aids. Só em relação ao dolutegravir, um dos medicamentos de referência para esta doença, há previsão de 180 milhões de comprimidos a serem consumidos em 2024. Como ressaltou a pesquisadora Suzana von der Ploeg, do Grupo de Trabalho de Propriedade Intelectual (GTPI), a entrada do dovato no SUS é boa notícia, desde que não se perca o horizonte de produção própria e, principalmente, a quebra de patentes – ou pelo menos menos condescendência com as farmacêuticas, a exemplo da própria ViiV, que obteve a patente do mesmo dolutegravir pelo INPI em 2020 em processo controverso. “A gente vira refém importando medicamentos caros que estão sobrecarregando o SUS, quando o que a gente quer é a sustentabilidade da Saúde pública”, alertou Susana.

A importante volta da caderneta de vacina

No embalo do lançamento do programa Saúde com Ciência, iniciativa conjunta dos ministérios da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação que visa combater discursos anticientíficos com a participação de estudantes do ensino médio, o governo anuncia a volta da tradicional caderneta de vacinação. Com a desculpa mesquinha do corte de gastos, que entende como supérfluo tudo aquilo que não gere negócios milionários, a tradicional caderneta de vacinas foi cortada pelo ministério e deixou de ser distribuída em 2020. Associado ao discurso antivacina, acabou, por tabela, servindo ao desengajamento da população às campanhas de imunização, chegando às mais baixas coberturas desde a criação do SUS. Além de registrar todos os esquemas vacinais da vida de uma criança, a caderneta também traz uma série de informações a respeito das fases do desenvolvimento, com espaço também para acompanhamento médico, educacional e informações sobre assistência social. Estados e municípios que mantiveram a caderneta em circulação garantiram esse singelo benefício com recursos próprios. Agora, o ministério anuncia que está prestes a fechar acordo com empresa que produzirá e distribuirá o tradicional documento.

Coletivo cria guia para lidar com autismo na USP

Formado por cerca de 150 pessoas, o Coletivo Autistas da USP foi fundado em 2021 a partir da percepção de que havia poucas políticas de inclusão de pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA) no cotidiano da universidade. Agora, o coletivo lança a cartilha Tenho um aluno autista, e agora?, um e-book com orientações e sugestões gerais para se lidar de forma inclusiva e compreensiva com alunos que vivem com a condição. “A gente vê muita falta de informação, especialmente entre os professores. A gente desenvolveu esse material para a população universitária, que é uma população mais velha e geralmente com menor nível de suporte”, explicou Maria Laura Kuniyoshi, uma das idealizadoras do Guia. Segundo os alunos com TEA, as redes de suporte a pessoas autistas são mais consistentes em relação a crianças, ao passo que adultos ficam invisibilizados em ambientes repletos de fatores que podem prejudicar seu desenvolvimento e sociabilidade.

Leia Também: