A saúde em Gaza, no limite

• ONU pede cessar-fogo e ajuda humanitária em Gaza • Nordeste pode passar por seca em 2024 • Dengue no RJ • Muitas reclamações em UBSs de São Paulo • Mobilidade urbana e vacinação • RaiaDrogasil é notificada por uso de dados sensíveis •

Foto: Mohammed Abed
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Um recente documento conjunto de algumas das principais agências multilaterais das Nações Unidas comemorou o início da entrada de ajuda humanitária em Gaza, processo adiado e limitado a poucos caminhões por Israel, mas insistiu que isso não basta: no mínimo, é preciso garantir um cessar-fogo imediato, acesso “seguro e constante” a água, comida, medicamentos e combustíveis e um “fluxo de ajuda humanitária em escala” adequada à crise humanitária. A nota também pede “a proteção da infraestrutura de saúde” – como ressaltou uma reportagem do The New York Times, esta guerra, seguindo a tendência de conflitos recentes, está levando os bombardeios de hospitais a um novo patamar. Em depoimento à Reuters, trabalhadores da saúde da Faixa de Gaza relataram que uma consequência dos incessantes ataques israelenses à infraestrutura civil do enclave é que os pacientes estão chegando com sintomas de infecções que proliferam em más condições sanitárias e na superlotação de ambientes. “As crianças estão todas doentes”, lamenta um médico.

El Niño e a seca no Nordeste

O fenômeno que está causando estiagem nos estados amazônicos também pode deixar o Nordeste em situação preocupante. O El Niño costuma fazer com que o período de chuvas seja menos intenso na região, enquanto leva mais precipitações para o sul do país. Nos últimos três meses, o Nordeste já registrou chuvas escassas e irregulares, e segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) o fenômeno deve atingir o pico de intensidade entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024. Hoje, a região já registra seca severa em mais de 100 municípios. Na Bahia, onde há grandes áreas que já sofrem com a estiagem, os reservatórios ainda não estão em nível preocupante graças ao La Niña, que trouxe tempestades mais fortes em 2022. Mas “a tendência sistemática é de piora gradativa”, alerta Marcelo Seluchi, coordenador do Cemaden.

Enorme alta da dengue no RJ

A proliferação da dengue no Rio de Janeiro está perigosamente fora de controle, indica uma análise do InfoDengue noticiada pela Agência Brasil. O sistema de acompanhamento de arboviroses desenvolvido por especialistas da Fiocruz e da FGV aponta que os casos da doença quadruplicaram no estado: os 9.926 registros de 2022 já se transformaram em 39.369 notificações no mesmo período de 2023. Cinco municípios fluminenses – Angra dos Reis, Resende, Nova Iguaçu, São Pedro da Aldeia e Rio das Ostras – já se consideram em situação de epidemia. Ainda segundo a análise, o noroeste e o sul do RJ são as regiões de maior incidência da infecção transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, mas o quadro não é grave só em regiões mais afastadas: neste ano, a capital já registrou 18 mil casos da doença. É o maior número desde 2016, quando a cidade superou os 25 mil casos. A chegada iminente do verão, com condições ainda mais favoráveis à propagação do vetor do vírus, leva especialistas a crer que os próximos meses podem ser ainda mais duros.

Atendimento piora nas UBSs de São Paulo

O atendimento à população está piorando na cidade de São Paulo sob a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). A Folha de S. Paulo consultou as reclamações feitas na Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde contra as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs)/UBS Integradas durante o primeiro semestre de cada ano de sua gestão. Foi constatado um aumento significativo de queixas: em 2021, foram 19.605; no ano seguinte, 20.867; no primeiro semestre deste ano, 23.495 – um aumento de 12,6% em relação a 2022. A recordista de reclamações foi a AMA/UBS Integrada Jardim Icaraí – Quintana, na região do Grajaú, na zona sul da cidade. Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP, criticou, em entrevista ao jornal, a privatização sutil do SUS, na capital paulista, por meio das Organizações Sociais de Saúde (OSS). Segundo ele, os regimes de contratação de funcionários pelas OSS são muitas vezes precários, e contribuem com a piora no atendimento da população. Já o médico sanitarista Walter Cintra Ferreira, professor de gestão em saúde da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, atribuiu a queda nos indicadores de avaliação ao subfinanciamento histórico do SUS.

Em Porto Alegre, passe livre para vacinação

Uma recente iniciativa do município de Porto Alegre, destacada pelo Brasil de Fato RS, traz um interessante exemplo da utilização de políticas públicas de outras áreas para o avanço da Saúde: a capital gaúcha implementou o passe livre nos ônibus durante o Dia D de Multivacinação promovido no último sábado (21/10), buscando facilitar o deslocamento do público-alvo até os locais de aplicação de doses. “Nosso esforço está concentrado em ampliar a cobertura vacinal, por isso, é essencial levar crianças e adolescentes a uma unidade de saúde para avaliar se as doses estão em dia”, disse a diretora de Atenção Primária em Saúde da prefeitura. A ação fez parte da Campanha Nacional de Multivacinação que está sendo impulsionada pelo Ministério da Saúde em resposta às quedas na taxa de imunização da população brasileira nos últimos anos – processo muito ligado ao desmonte de políticas públicas e à difusão do discurso negacionista, marcas da criminosa gestão da Saúde no governo Bolsonaro. A nível federal, a Campanha segue até o dia 28/10, próximo sábado.

Dados de saúde para vender publicidade

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou a rede de farmácias RaiaDrogasil, exigindo explicações sobre a criação da RD Ads, empresa supostamente dedicada à comercialização de dados pessoais de clientes. A notificação segue uma reportagem do UOL que revelou o uso de informações sensíveis recolhidas por 15 anos de 48 milhões de clientes – incluindo histórico de saúde e comportamento sexual – para direcionar anúncios nas redes sociais. Os clientes das drogarias são induzidos a conceder seus dados sensíveis em troca de descontos em alguns medicamentos, produtos e serviços. A Senacon questionou se houve consentimento dos consumidores para essa prática e pediu esclarecimentos sobre a relação entre a RaiaDrogasil e a RD Ads, levantando preocupações sobre potencial violação de direitos fundamentais e falta de transparência.

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