Calor causou 50 mil mortes em 8 anos no Brasil

• Mortes por calor no Brasil • Poluição mata milhares nos EUA • Novos parâmetros para o SUS digital • Atualização do protocolo para HIV/aids • Dor crônica no sistema público • Anvisa analisa remédio controverso para emagrecer •

Foto: Chema Moya
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As metrópoles brasileiras estão ficando muito mais quentes – e os efeitos desse processo na saúde de seus habitantes não são menores. Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro divulgada pela Revista Pesquisa Fapesp estima que 48 mil brasileiros morreram por fatores ligados a ondas de calor nas 14 principais áreas urbanas durante o período analisado, entre 2000 e 2018. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Belém e Cuiabá registraram as regiões metropolitanas com maior taxa de mortalidade relacionada ao calor. Negros, mulheres e pessoas com menor escolaridade foram mais afetadas que a média, o que ressalta o papel dos determinantes sociais da saúde na vulnerabilidade a esses fatores. Segundo o estudo, “o fortalecimento da atenção primária à saúde, combinado com a redução das desigualdades socioeconômicas e de gênero”, seria um importante passo para reverter essa tendência nos óbitos.

Poluição matou 8 mil no Texas em um ano

Uma análise conduzida por epidemiologistas a pedido do portal estadunidense Health Policy Watch se debruçou sobre os efeitos do material particulado – minúsculas partículas sólidas suspensas no ar, emitidas principalmente pela queima de combustíveis fósseis por veículos, indústrias e construções – sobre a saúde dos norte-americanos. Os resultados obtidos pelos pesquisadores do Boston College, que haviam conduzido um estudo similar no ano passado para a Environmental Health, são alarmantes: em um ano, 8.400 moradores do Texas morreram por complicações ligadas à exposição ao material particulado fino. Essas partículas estão ligadas ao desenvolvimento de problemas no coração, Alzheimer e câncer de mama e pulmão. A concentração dos óbitos no condado de Harris, onde há muitas refinarias de petróleo e indústrias petroquímicas, reforça a ligação dessa crise de saúde às atividades econômicas que causam grande poluição. Segundo os pesquisadores, com o boom petroquímico no estado, o problema só tende a piorar.

Um SUS Digital à vista?

No fim da semana passada, a Secretaria de Informação e Saúde Digital (Seidigi) do Ministério da Saúde, sob a batuta da secretária Ana Estela Haddad, fez uma primeira apresentação das portarias que estruturarão as duas políticas que conduzem seu plano de transformação digital da saúde no Brasil: o SUS Digital Brasil e o SUS Digital Brasil Telessaúde. A portaria do primeiro programa, explica o Jota, introduz um Índice Nacional de Maturidade em Saúde Digital, que a partir de uma série de dimensões – entre elas, gestão e governança, recursos humanos em saúde digital e plataformas e interoperabilidade – identifica as condições de implementação da política no país. Já a segunda portaria apresenta os futuros núcleos e pontos de telessaúde. Os núcleos estarão mais voltados para a formulação (estando disponíveis também para instituições de ensino superior), enquanto os pontos serão mais ligados à oferta de serviços. Todas as atividades serão monitoradas por um Comitê Gestor de Saúde Digital.

Eliminar o HIV/aids até 2030

Na semana passada, o Governo Federal promoveu uma série de anúncios nas políticas de HIV/aids conduzidas pelo Ministério da Saúde (MS). O primeiro deles foi a atualização do documento Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Manejo da Infecção pelo HIV, que orienta essas políticas – há cinco anos, esse material não passava por revisão, lembra o G1. Uma das alterações consiste na inclusão do conceito de “indetectável = intransmissível”, isto é, que a pessoa com carga viral do HIV indetectável no sangue não oferece qualquer risco de transmissão da infecção. Outra delas é a inclusão do Dovato, medicamento que reúne o dolutegravir e a lamivudina em uma só pílula, nas terapias recomendadas – o novo fármaco foi abordado em profundidade por reportagem do Outra Saúde. Em nota, o MS afirma que essas ações, somadas à recomposição da CNAids – noticiada neste boletim – e do investimento de R$1,7 bilhão em medicamentos para HIV desde o início do ano, partem do objetivo de “eliminar a HIV/aids enquanto problema de saúde pública até 2030”.

Para atender à dor crônica dos brasileiros

Um projeto sancionado na última quinta-feira (26/10) pelo presidente Lula, a Lei 14.705/2023, estabeleceu diretrizes para o atendimento de pacientes com dor crônica – incluindo os com síndrome de fibromialgia, fadiga crônica e síndrome complexa de dor regional, como lembra a Agência Brasil. A nova legislação prevê a inclusão do acompanhamento nutricional e o fornecimento de medicações ao atendimento integral que já é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a quem tem dor crônica. Trechos de seu texto, que ainda deverão ser regulamentados para entrar em vigor, também pretendem garantir o acesso desses pacientes a mais exames, modalidades terapêuticas – como a fisioterapia e outras atividades físicas – e à divulgação de informação sobre medidas preventivas.

Anvisa foca no Ozempic

Um espectro ronda a Europa: a versão falsificada de um remédio para perda de peso. A BBC noticiou que dezenas de austríacos foram hospitalizados após injetarem o que pensavam ser o Ozempic – os sintomas vão de convulsões a níveis baixíssimos de glicose no sangue. Na semana passada, as agências reguladoras de medicamentos da União Europeia e do Reino Unido relataram encontrar essa versão falsa em farmácias e atacadistas. Em junho e neste mês de outubro, o mesmo ocorreu no Brasil, segundo a Anvisa. Em entrevista n’O Globo, o diretor-presidente Antônio Barra Torres afirmou que “o Ozempic está no foco da atenção” da autarquia. A Anvisa recomenda o uso previsto em bula, voltado para a diabetes e não para a perda de peso – já os conselhos de classe de medicina aceitam o uso off-label, mesmo que essa orientação possa estar ligada ao aumento dos casos de manifestação de efeitos adversos. Seja por sua falsificação ou por seu uso inadequado, o fármaco, que transformou sua criadora na empresa mais valiosa da Europa, promete seguir no centro de controvérsias de saúde

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