Em Gaza, pacientes no escuro e com medo

• Hospitais em Gaza em apagão • Molécula parece combater melhor o Sars-CoV-2 • A desigualdade de emendas parlamentares de saúde • Como construir a saúde regional • Furacão Otis não foi previsto • Danilo Miranda e seu legado à ciência •

Foto: Samar Abu Elouf
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De quinta para sexta-feira da semana passada, as forças armadas de Israel cortaram os serviços de telefonia e internet da Faixa de Gaza – seus habitantes foram deixados por mais de 24 horas sem poder se comunicar ou denunciar ao mundo os bombardeios e violações sofridos constantemente. Em nota, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou  que os pacientes palestinos “passaram uma noite de escuridão e medo” e expôs o horror que passaram os (poucos e combalidos) hospitais do enclave durante esse período de apagão: “Há mais feridos a cada momento, mas as ambulâncias não podem socorrê-los pelo blecaute comunicacional. Os necrotérios estão lotados. Mais da metade das vítimas são mulheres e crianças”. A OMS reitera a necessidade de proteger “trabalhadores da saúde, pacientes, equipamentos e ambulâncias” por meio de um cessar-fogo.

Uma molécula contra a covid-19

Em estudo internacional conduzido com a participação de pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), identificou-se que a molécula calpeptina S combate melhor a covid-19 que a maioria dos medicamentos já aprovados para esse fim, ao ter mais êxito em eliminar a carga viral e impedir que o vírus se replique. Em entrevista ao Brasil de Fato, uma das pesquisadoras envolvidas no trabalho, Edmarcia Elisa de Souza, apontou que trabalhar com base em proteínas do ser humano – e não do vírus – foi um diferencial para o sucesso, dada a grande variabilidade do coronavírus. Ela ressaltou que sua grande capacidade de mutação é um dos principais desafios a serem enfrentados pelas equipes que buscam medicamentos e vacinas contra o vírus da covid-19. Também por isso, em um próximo momento, a pesquisa passará a investigar a eficácia da calpeptina S contra a variante ômicron.

Dinheiro público concentrado em grandes cidades

Uma análise a que teve acesso a Folha de São Paulo sugere que cidades mais pobres são menos contempladas por emendas da Saúde. O estudo indica que os parlamentares brasileiros, no período de 2018 a 2022, priorizaram localidades que já têm maior orçamento per capita e indicadores mais elevados de atenção básica. “Apesar de concentrarem quase 46% da população brasileira, os municípios com cobertura de Atenção Básica do Programa Saúde da Família em nível muito baixo receberam quatro vezes menos em valores per capita do que municípios com cobertura completa”, exemplifica a pesquisa. O grupo que realizou o estudo considera que o atual modelo de emendas parlamentares – marcado pelas distorções de deputados clientelistas e de direita, já muito expostas na imprensa – não têm priorizado os locais que realmente precisam de mais verbas. Para resolver a questão, se propõe a adoção de um Índice de Necessidade Potencial de Emendas para a Atenção Básica, que reúna variáveis como cobertura vacinal, mortalidade infantil e mortalidade materna.

Saúde regional: desafios à frente

As redes regionais de saúde ainda têm muito o que avançar para cumprir um papel mais decisivo na saúde brasileira, segundo Renilson Rehem, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que participou do seminário “35 anos do SUS-SP” no dia de ontem (30/10). Se na Itália – país onde também há um sistema público e gratuito de saúde, o SSN – as redes regionais fazem parte da própria estrutura geral dos serviços de saúde pública, em nosso país, sua formação depende de acordos entre gestores locais. Para o consultor da Opas, esse impasse político, junto da problemática do financiamento, é o maior obstáculo ao avanço das redes regionais desde a criação do Sistema Único de Saúde. De acordo com Rehem, os governos estaduais devem ter um papel de liderança e dialogar com os municípios para estimular que essas redes se formem de forma mais generalizada.

O estrago do furacão Otis

O furacão Otis passou pelo México e matou pelo menos 47 pessoas no litoral do país, segundo as últimas estimativas. Porém, os observatórios meteorológicos do mundo não haviam previsto sua força, com um relatório de um centro estadunidense chegando a considerar que eram baixas as chances de que a tempestade que o originou se tornasse um furacão. A consequente falta de preparação das autoridades teve consequências funestas. Mas o que causou esse equívoco? De acordo com uma reportagem da revista Science, a intensificação do El Niño, muito ligada às mudanças climáticas, levou a um aumento anormal da temperatura do oceano – fator central para o fortalecimento da tempestade. Para um funcionário da autoridade meteorológica estadunidense, os modelos utilizados hoje pelos cientistas ainda não estão prontos para prever mudanças tão rápidas na força de um fenômeno natural como esse – e ainda há “um longo caminho a ser percorrido” até que possam.

O adeus a Danilo Santos de Miranda

O sociólogo Danilo Santos de Miranda, diretor do Serviço Social do Comércio (Sesc) de São Paulo e responsável por sua ampla política de incentivo à cultura nos últimos 40 anos, faleceu na noite de domingo (29/10). Sua morte foi lamentada por um enorme número de instituições e personalidades culturais de todo o Brasil. Como lembra uma nota do Centro Sou Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Miranda foi também um amigo da educação e da ciência no país: sob sua orientação, o Sesc expandiu consideravelmente seu trabalho de organização de cursos e eventos científicos e acadêmicos. Além disso, diz o texto, o sociólogo “promoveu a integração entre a universidade e o Sesc-SP, possibilitando que nossos servidores tivessem acesso aos serviços e atividades oferecidos pela instituição”. Sua perda será enormemente sentida.

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