Dominó da Monsanto

Perdas para a gigante dos agrotóxicos foram bem maiores que o valor da multa.

Imagem: Wooden Earth Ltd
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14 de agosto de 2018

DOMINÓ DA MONSANTO

Depois que um tribunal americano condenou a Monsanto a pagar US$ 289 milhões a um homem com câncer, as ações da Bayer caíram 10%. A perda de valor de mercado ficou em € 10 bilhões e, ao longo do dia, chegou a ser ainda maior, ultrapassando os 14%. Para quem não lembra, a farmacêutica alemã comprou recentemente a gigante americana por US$ 63 bilhões.

Na União Europeia há uma comissão especial de inquérito sobre a avaliação de agrotóxicos, e seu presidente, Eric Andrieu, disse ao Le Monde francês que o processo “vai ter impacto” no continente. Na França o debate já existia e foi reaceso – “O ministro da Transição Ecológica, Nicolas Hulot, evocou ‘o começo de uma guerra’ contra a substância [glifosato]”, diz a Carta Capital. Macron já prometia erradicar o uso até 2021, mas o Ministério da Agricultura se opõe. E, na Austrália, o Greenpeace pediu que o governo suspenda a venda do Roundup (à base de glifosato), que, como no Brasil e em boa parte do mundo, é amplamente usado lá.

Por aqui, a toxicologista do Inca Marcia Sarpa disse ao Globo que a indústria nega as evidências científicas: “É parecido com o que aconteceu com a indústria do tabaco, até o último momento ela negava que o cigarro causa câncer”.

VÍRUS DA VARÍOLA AINDA EXISTE

Faz 40 anos que a última pessoa com varíola morreu; em 1980, a OMS declarou a erradicação dessa doença, uma das mais mortais do mundo. E no mês passado a FDA (agência de regulação dos EUA) aprovou o primeiro medicamento para tratá-la. Estranho? Nem tanto, segundo o editorial da Nature, que classifica real a ameaça da doença. Isso porque o vírus ainda existe em dois locais: o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e seu equivalente russo, chamado VECTOR.  “A cada poucos anos, a Assembléia Mundial da Saúde debate se deve destruir esses dois últimos estoques e, a cada vez, os especialistas adiam a decisão. Os pesquisadores ainda os usam e, dizem eles, o trabalho deve continuar, dado que nunca podemos ter certeza de que a doença está morta”. O problema é que há riscos de o vírus ser liberado de propósito por algum funcionário (como aconteceu com o antraz) ou por acidentes de laboratório (como já aconteceu com o da própria varíola, que escapou por dutos de ar). O editorial apoia a pesquisa e aprovação de medicamentos como defesa contra armas biológicas.

DE VOLTA AOS  KOCH

Lembra que, há umas duas semanas, contamos aqui sobre uma pesquisa dos bilionários irmãos Koch que acabou sendo um tiro no pé? Em resumo, a ideia era mostrar o quanto sairia caro oferecer saúde para todos nos EUA, mas o estudo mostrou que haveria sim uma economia de US$ 2 trilhões ao longo de 10 anos. Pois então. Agora saíram os resultados de outra pesquisa, também financiada pelos Koch, e que também apresenta uns dados no mínimo indesejados por eles. Foram feitas entrevistas com americanos sobre várias questões e, no Intercept, Nick Surgey, Zaid Jilani contam que a repercussão tem se concentrado em aspectos mais conservadores (como o fato de que a maioria considera a propriedade privada como fundamental).

Mas eles observaram os resultados e viram informações superimportantes e que ficaram de lado. Na parte que mais diretamente nos interessa está o fato de que a maior preocupação das pessoas é o custo crescente da assistência à saúde: 92% disseram que isso é um problema,  55% disseram que ter um sistema público de assistência seria uma medida muito ou razoavelmente eficaz e mais de 80% aprovam uma reforma que coloque médicos e pacientes no controle. E tem outras coisas. Tipo: mais de 60% acham que seria muito ou razoavelmente eficaz regular melhor Wall Street, 70% apostam no aumento do apoio do governo ao cuidado infantil…

VEIO PELO HAITI

Um estudo da Fiocruz Pernambuco indica que o vírus da zika chegou ao Brasil vindo do Haiti, possivelmente em militares brasileiros que participaram da missão de paz lá ou em imigrantes. Os cientistas já sabiam que o zika apareceu primeiro na Polinésia Francesa, mas não conheciam o caminho feito até chegar ao Brasil. Então usaram as sequências genéticas do vírus disponíveis, estudando as mutações, e viram que aconteceu o seguinte: da Polinésia ele foi para a Oceania e para a Ilha de Páscoa, depois para a América Central e o Caribe. Então, do Haiti, chegou aqui. O estudo também mostrou que a dengue e o chicungunya fizeram o mesmo caminho. Isso é bem importante para orientar as ações de vigilância epidemiológica, especialmente nas fronteiras, portos e aeroportos.

PROTEÇÃO DE DADOS

Hoje à tarde a lei da proteção de dados vai ser sancionada por Temer. A dúvida é com quais vetos. Uma das possibilidades é que ele vete a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, um órgão independente e com orçamento próprio que seria responsável pela fiscalização das regras. Falamos melhor sobre isso nesta reportagem especial.

SAÚDE E JUSTIÇA SOCIAL

Ainda na esteira do Abrascão, o site da Abrasco publicou uma entrevista com Patrícia Evangelista, moradora da comunidade de  Manguinhos, no Rio (para quem não conhece a cidade, a Fiocruz, onde o evento foi realizado, faz divisa com esta favela). Ela é militante e sócia-fundadora da Organização Mulheres de Atitude e falou, entre outras coisas, sobre a relação entre este território e as discussões do Congresso – só pouco mais de dez moradores puderam participar:

“Acho que não é possível produzir justiça, direitos e, em especial, saúde nas favelas sem uma participação efetiva de quem vive nesses lugares. (…) Essa falta de participação coletiva da favela de Manguinhos na construção de atividades desse evento nos mostra que o conhecimento e o saber popular ainda não são valorizados. Esse abismo incomodou um grupo de moradores e trabalhadores de Manguinhos e levou à organização do “Favela Ocupa Abrascão”. (…) Assim como outras favelas do Rio de Janeiro, os moradores têm muito a dizer sobre o tema desse congresso: Fortalecer o SUS, os Direitos e a Democracia”.

O TETO NA FOLHA

Na coluna de hoje, Claudia Collucci pergunta “o que mais precisa piorar para o país estancar hemorragia na saúde pública”. Cita pesquisas que indicam o agravamento do cenário diante da Emenda 95 e de políticas de austeridade fiscal no geral e diz que, “exceto entre os estudiosos e os profissionais da saúde, o efeito desses alertas parece ter sido nulo no Planalto”. Também critica o fato de os candidatos terem dado pouca bola para o tema no debate da Band.

Mas a posição do jornal é a e não responsabilizar o recuo dos gastos. O editorial comenta os dados da mortalidade materna divulgados ontem e diz que não se pode culpar o teto dos gastos, pois já tinha havido leve aumento em 2013 e os dados mais atuais são de 2016, antes de o teto ser adotado. “Seria simplista atribuir a perda de terreno só ao recuo nos gastos. Um bom diagnóstico, necessário para indicar a conduta mais adequada a seguir, precisaria considerar e quantificar também o grau de ineficiência das políticas adotadas”.

Folha e o Todos pela Educação estão promovendo debates com os presidenciáveis sobre a área. Marina Ciro já participaram, e ambos criticaram a Emenda 95. “Talvez só o governo do presidente Michel Temer concorde com a forma como a educação está, a segurança, a saúde, a infraestrutura, a moradia, o saneamento”, disse ela, mas – ao menos segundo a cobertura do jornal – sem falar em revogar. Já Ciro disse diretamente que vai chegar propondo a revogação.

ATRASOS NO RIO

Funcionários de 10 unidades de saúde estão com os salários atrasados, segundo o G1. Vários estão faltando e, consequentemente, o atendimento está fragilizado.

AGENDA

Agora às 9h, no Canal Saúde, uma conversa com Sonia Fleury e André Dantas, autores do livro Teoria da Reforma Sanitária: diálogos críticos.

Às 11h, o programa Sala de Convidados discute a descriminalização do aborto com Mariza Miranda Theme Filha  e Maria do Carmo Leal, ambas da Fiocruz, e  defensora pública Lívia Casseres.

Hoje à noite tem um debate no Rio: Que política de HIV e Aids queremos? Às candidaturas presentes vai ser entregue uma Carta de Compromisso construída pela Grupo Pela Vidda-RJ, o Fórum de ONG/AIDS-RJ, Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS RJ (RNP+) e a Rede Nacional de Travestis, Transexuais e Homens Trans Vivendo e Convivendo (RNTTHP).

E vai ser lançado no fim do mês o livro Roucos e Sufocados, em que João Peres e Moriti Neto contam como o Brasil se tornou o principal fornecedor de tabaco para o mundo todo. Dia 29/8 na Fiocruz do Rio, e dia 4/9 no Ateliê do Bixiga, em São Paulo.

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