Doença negligenciada, gonorreia ganha novo tratamento

• Novo tratamento para gonorreia • Câncer de pele em trabalhadores • Hapvida nega tratamento a paciente com câncer raro • Transplante de olho • Israel bloqueia tratamentos de câncer • Minorias têm menos acesso a farmácia nos EUA •

Foto: El Tiempo Latino
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Diante do aumento da resistência de fungos e bactérias a antibióticos, que tem causado um perigoso aumento de infecções, em especial em hospitais, o combate à gonorreia ganha um novo aliado. Zoliflodacin é o nome do fármaco desenvolvido para o tratamento desta infecção sexualmente transmissível e a promessa é de que seja um remédio de fácil acesso. Nesse sentido, a verdadeira novidade é sobre o esforço que levou ao desenvolvimento deste medicamento. O Zoliflodacin foi criado pelo Global Antibiotic Research & Development Partnership (GARDP), uma organização sem fim lucrativos criada pela OMS em conjunto com os profissionais que formam o DNDi (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, cujo trabalho foi objeto de reportagem recente do Outra Saúde), um esforço que reúne grupos ligados à pesquisa em medicina de mais de 20 países.

A notícia reitera as vicissitudes de um modelo de saúde e pesquisa científica voltada ao lucro. Afinal, não só existe tratamento para a gonorreia como ele é bem simples: uma dose só de azitromicina combinada com ceftriaxona são suficientes para expulsar a infecção do organismo em poucos dias, o que também significa ser uma doença cuja cura tem baixo potencial de lucro. De toda forma, com a evolução da resistência de patógenos a antibióticos a saúde pública acrescenta um tratamento mais eficaz a mais esta doença negligenciada, que registrou 82 milhões de casos em 2022.

19 mil mortes por câncer de pele associadas a trabalho sob o sol

Relatório da Organização Internacional do Trabalho, vinculada à ONU, traz dados importantes sobre a exposição de trabalhadores ao sol e seus raios. Segundo a OIT, são cerca de 1,6 bilhão de pessoas que trabalham sob tais condições em algum momento do ano, razão principal para o fato de que um terço das mortes por câncer de pele acontecem com pessoas que realizaram atividades laborais sob o sol. Isso totaliza cerca de 19 mil das 57 mil mortes anuais causadas por esta doença. O número é quase o dobro do que o averiguado em 2010, quando cerca de 10 mil trabalhadores morreram ao desenvolverem melanoma, forte sinal da precarização das relações trabalhistas após a grande crise capitalista de 2008, que até hoje repercute na economia global. A OIT recomenda em seu relatório que governos voltem a estabelecer normas de proteção a este tipo de empregado, desde equipamentos a formas de organização produtiva que os exponham menos ao sol. 

Planos voltam a negar tratamento

Reportagem recente do Uol expõe novo caso de uma prática cada vez mais comum no ramo da saúde suplementar: a operadora de saúde Hapvida está negando quimioterapia a um homem com um câncer raro em São Paulo, mesmo depois da Justiça determinar sua obrigação de cobrir o tratamento. Alertado do risco de óbito do paciente, o plano de saúde manteve a recusa. Recentemente, a Hapvida se fundiu com as operadoras Intermédica e NotreDame. Mas como analisou recentemente a deputada e ativista Andrea Werner, esse crescimento, “no lugar de financiar tratamentos, financia processos e honorários de advogados para sustentar cancelamentos ilegais de planos. No lugar de financiar uma rede credenciada de qualidade, financia aquisições bilionárias e verticalização com o único objetivo de maximizar lucro”. As fusões na saúde privada se multiplicam em paralelo à piora vertiginosa dos serviços oferecidos – casos como o noticiado pelo Uol demonstram que a crise do setor precisa ser enfrentada com urgência.

Transplantes oculares em vista

Cirurgiões dos Estados Unidos anunciaram os resultados do primeiro transplante de olho da história. Mais comuns na prática médica e feitos desde 1905 são os transplantes de córnea, apenas uma das partes do globo ocular. O novo procedimento foi realizado no estadunidense Aaron James há 6 meses e até aqui demonstra sinais de êxito – o homem de 46 anos não recuperou a visão, mas seu corpo não rejeitou o órgão. À Reuters, o profissional que conduziu o trabalho afirmou que o objetivo imediato “era executar a operação técnica e conseguir que o olho transplantado sobrevivesse”. Mas segundo a BBC, como ainda se identificou um fluxo de sangue para a retina, os médicos não descartam a possibilidade de que James eventualmente recupere sua capacidade de enxergar. O procedimento durou 21 horas e pode “abrir um novo caminho no campo médico”, disse o cirurgião responsável pelo feito.

Pacientes de câncer também são alvo para Israel

Na Faixa de Gaza, apenas dois hospitais oferecem tratamento oncológico: com a escalada da agressão israelense, um deles fechou e o outro está operando de forma apenas parcial. Nessa situação crítica, 12 crianças palestinas com câncer foram autorizadas a deixar o enclave na semana passada para continuar seu tratamento no Egito e na Jordânia. Em nota, a Organização Mundial da Saúde (OMS) denuncia que a guerra tem “obstruído a saída de pacientes de Gaza, além de restringir severamente a entrada de insumos médicos essenciais para procedimentos como a quimioterapia”. Com os equipamentos de saúde “expostos a ataques” – o bombardeio de hospitais tornou-se prática corrente das forças sionistas em sua atual guerra de conquista –, o comunicado da OMS alerta que é “urgente transferir os pacientes para tratamento fora de Gaza”. A tomar pelas alegações de “terrorismo” feitas por Israel para justificar os mísseis que lança sobre ambulâncias e profissionais de saúde, é difícil imaginar que essas evacuações venham a acontecer no volume necessário.

Os “desertos de farmácias” nos EUA

Se no Brasil o cenário atual é de uma infestação de farmácias nas grandes metrópoles – suscitando  um debate em torno da hipermedicalização da saúde –, uma reportagem da Stat revela que as principais cidades dos Estados Unidos vivem um processo contrário: crescem naquele país os “desertos de farmácias”, regiões sem acesso a estabelecimentos do tipo. Os estudos apontam que o problema afeta desproporcionalmente as minorias raciais. Pesquisa publicada no periódico Health Affairs aponta que um terço das comunidades de população negra ou latina de Los Angeles são desertos de farmácias – a cifra é similar entre os bairros negros de Chicago, enquanto gira em torno de apenas 1% entre as regiões brancas da mesma cidade. Desde 2021, a maior rede de farmácias dos EUA fecha 300 lojas por ano, enquanto a terceira maior pediu falência e pretende fechar 150 lojas nos próximos meses. Sem farmácias próximas, explica outro estudo do mesmo autor, os cidadãos mais velhos tendem a deixar de buscar seus remédios para doenças cardíacas, diabetes e artrite – piorando sua condição geral de saúde e podendo sofrer de complicações graves.

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