Crise climática e Saúde: o perigo à vista

• Como as mudanças climáticas criam emergências sanitárias • Alertas sobre diabetes, novos números e as dificuldades enfrentadas pelo SUS • Drogas nos EUA: o problema não são só os opioides • Lula reflete sobre a pandemia de covid •

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O jornal britânico The Guardian listou os 10 principais perigos trazidos pela mudanças climáticas, que já começam a causar emergências sanitárias. São eles: (1) inundações que espalham doenças – entre elas, as mais comuns são cólera, disenteria, hepatite A, febre tifóide e poliomielite. (2) Proliferação de mosquitos que transmitem doenças como a dengue e a malária – em especial porque enchentes criam mais espaços para eles depositarem seus ovos, bem como as secas fazem as famílias estocarem água, causando o mesmo efeito. (3) Contato de humanos com animais selvagens, o que abre espaço para que doenças “pulem” de espécie com mais frequência do que antes – é o caso do ebola. (4) Eventos climáticos severos como inundações, secas, furacões, grandes queimadas, que põem em risco direto a vida de populações, em especial as mais vulneráveis. 

(5) Poluição do ar, que está ligada a muitos cânceres e doenças respiratórias – estima-se que cause 4 milhões de mortes prematuras a cada ano. (6) Saúde mental: incêndios, enchentes e ondas de calor podem causar ansiedade, depressão e estresse pós-traumático – e pessoas mais pobres podem buscar a saída no álcool ou automedicar-se. (7) A água potável está ficando mais salgada, com o aumento do nível do mar, o que pode causar hipertensão e diversos danos ao corpo humano – um risco ainda maior para mulheres grávidas e bebês. (8) Insegurança alimentar agravada pelas secas e enchentes, que destroem plantações e encarecem o preço da comida saudável (o que ainda pode aumentar o consumo de ultraprocessados). (9) Estresse causado pelo calor extremo: quando o corpo esquenta demais, menos sangue corre para os órgãos, fazendo com que o fígado tenha de trabalhar mais – pondo em risco principalmente pessoas que executam trabalhos pesados. (10) Migrações climáticas, algo que o mundo começa a testemunhar, mas que podem, nos próximos anos, desalojar dezenas de milhões.

Dia Mundial do Diabetes, alertas importantes

Anualmente no dia 14 de novembro, o Dia Mundial do Diabetes serve para ampliar as campanhas de conscientização a respeito desta doença incurável que afeta o sistema nervoso e sanguíneo, além de promover a fragilização da saúde em variadas dimensões. No Brasil, são cerca de 588 mil pessoas com diabetes tipo 1, a mais comum, o que o torna o terceiro país do mundo com mais portadores da doença. São 28 amputações de membros inferiores por dia realizadas no Sistema Único de Saúde, o que já totaliza cerca de 7 mil operações desse tipo neste ano. Não à toa a doença é tema da campanha Educar para Proteger o Futuro da OMS em 2023, que visa orientar profissionais de saúde nos cuidados a seus portadores. “A doença leva à neuropatia, a gente não consegue evitar. O único jeito de conseguir postergar isso é com controle glicêmico. E para evitar as amputações é com cuidado”, conta a médica ortopedista Jordanna Bergamasco, ao explicar a necessidade de se manter bons hábitos alimentares e fisiológicos.

Covid pode ter ampliado número de casos

“É uma doença inflamatória e já existem estudos associando a infecção pelo coronavírus com maior risco de desenvolver diabetes, mas outro motivo [para o aumento de casos nos últimos anos] pode ser também os diagnósticos represados durante a pandemia”, afirma Melanie Rodacki, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). A Federação Internacional de Diabetes, IDF na sigla em inglês, apresentou estudo com o perfil global da diabetes e calcula haver 8,75 milhões de portadores da doença. EUA e Índia são os dois países com mais casos, sendo que o primeiro tem praticamente o dobro de diabéticos com pouco mais de 20% da população do país asiático – o que evidencia a relação desta condição com maus hábitos alimentares e sedentarismo. Enquanto os EUA são o país que mais apresenta sobrepeso e consumo de ultraprocessados na população, a Índia vai na direção contrária nestes quesitos.

 Quanto ao Brasil, Rodacki defende avanços na oferta de tratamentos e acompanhamentos da diabetes no SUS, que por vezes se vê em dificuldades de garantir itens básicos para o cuidado, como a insulina. O IDF destaca que 70% dos brasileiros só iniciam tratamento ao passar por problemas graves de saúde, o que significa que a atenção primária deve ampliar seu foco na detecção desta condição, que pode diminuir em até 33 anos a expectativa de vida em relação à média da população.

EUA: “Não é mais uma epidemia de opioides”

Uma reportagem do jornal norte-americano NY Times revelou mais uma face pouco conhecida da epidemia de overdose que causou a morte de 73.654 pessoas no ano passado nos Estados Unidos. São as dezenas de milhares de casos de usuários que desenvolveram vício em mais de uma substância – o que traz riscos muito maiores para sua saúde e dificulta a decisão de abandonar o uso. A mídia estadunidense tem tratado com frequência da adição crescente em opioides (uma classe de drogas derivadas da papoula e suas variações sintéticas), que de fato estão sendo largamente consumidos e causando grandes danos à saúde daquela população. Mas, segundo a reportagem, estudos feitos nos últimos três anos descobriram que entre 70% e 80% dos milhões usuários de opioides consomem outras substâncias, legais e ilegais. Entre elas, as mais danosas são a cocaína e a metanfetamina, mas também é frequente o uso de medicamentos ansiolíticos como o Valium (conhecido como Diazepam no Brasil) e o Clonazepam. Isso acontece devido à situação de extrema vulnerabilidade que se encontram, mas também à má fé ou desconhecimento dos traficantes, que acabam iniciando outros vícios nos usuários, explica o NY Times. Um dos problemas enfrentados pelos médicos é que já há alguns medicamentos para prevenir overdoses de opioides, mas não dessas drogas estimulantes.

Lula assina editorial da Revista Ciência e Saúde Coletiva

Publicação editada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a edição de outubro da Revista Ciência e Saúde Coletiva leva o título “Aprender com a pandemia – e não repetir os erros” (acessar aqui). O tema central é o sofrimento vivido pelos trabalhadores da saúde no período da maior crise sanitária dos últimos 100 anos. “O que as trabalhadoras e os trabalhadores de saúde passaram durante a pandemia não pode ser esquecido. Precisa ser estudado e ficar registrado. Precisa, sobretudo, servir de ensinamento para que nossas políticas públicas sejam aprimoradas e para que situações como as enfrentadas justamente por aqueles que salvam vidas nunca mais se repitam”, escreveu o presidente Lula, no editorial. Resta saber se o esforço de memória um dia punirá os protagonistas centrais da gestão criminosa e anticientífica da pandemia e fará reparações às famílias que perderam parentes em condições que poderiam ser evitadas.

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