Do que a vacina precisa para funcionar

Cobertura vacinal precisa ser ampla, com doses suficientes e grande mobilização nacional. Governo Bolsonaro, ao contrário, mina confiança e não preparou insumos

Foto: Alexandre Lombardi
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A eficácia geral da CoronaVac é parecida com a de outras vacinas importantes no Brasil, como as que protegem contra gripe, rotavírus, coqueluche e catapora. O potencial para evitar os casos mais graves parece ser um ponto-chave aqui. Só que, quanto menor a eficácia, maior a necessidade de se ter uma cobertura vacinal ampla: só com muita gente vacinada vai ser possível, gradativamente, ter a comunidade protegida e a covid-19 sob controle (e a palavra aqui é mesmo “controle”, não “erradicação”). Sempre batemos na tecla de que a vacinação não é uma estratégia individual de proteção contra doenças, mas sim coletiva. E os dados da CoronaVac ajudam a deixar isso ainda mais evidente.

“Estou convencida de que temos uma vacina que é 50,4% eficaz em prevenir casos sintomáticos. Esse dado é sólido. E está bom demais. É o que temos, é uma proteção e 50% é melhor do que nada. Mas com essa taxa de eficácia, teremos de vacinar praticamente toda a população. E temos de começar o mais rápido possível. O ideal seria termos mais opções de vacinas mais rapidamente. Esperamos que seja uma das armas de um arsenal contra a covid-19 no Brasil”, diz a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin Vaccine.

E aí é que pode estar a complicação. “A nossa maior chance de fracassar será na hora de transformar a vacina em um programa efetivo de vacinação que atinja a população, capilarize”, diz José Gallucci Neto, médico e pesquisador do Instituto de Psiquiatria da USP, no Jornal da USP. É certo que a CoronaVac tem vários pontos positivos quando se trata disso: o Butantan vai produzir, as condições de manutenção e transporte são compatíveis com a nossa rede de frio, o SUS tem experiência em alcançar a população e o movimento antivacina é (e esperamos que se mantenha) residual no Brasil. Mas essa provavelmente vai ser a maior campanha de vacinação da história – imaginem ter que atingir a população inteira no menor espaço de tempo possível – e, como estamos vivendo sob o governo Bolsonaro, ainda podemos esperar muita dor-de-cabeça.

Gallucci Neto aponta que o Ministério da Saúde já deveria ter começado uma grande mobilização, incluindo sociedade civil, políticos, profissionais de saúde – além de, é claro, estar com os insumos prontos para uso. Só que o cenário é justamente o oposto: “Não sabemos como está o PNI [Programa Nacional de Imunização], o quanto foi desestruturado, e se vai ter a mesma potência que tinha antes. Na época do H1n1, o PNI vacinou 80 milhões de pessoas em 3 meses. Mas eles já tinham, antes de começar a campanha, 100 milhões de doses da vacina estocadas e insumos preparados. Acho improvável, da maneira como as coisas estão sendo feitas, que o Ministério da Saúde consiga dar conta das duas coisas de maneira organizada”, diz ele.

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