PÍLULAS | Diferentes decisões sobre o uso das máscaras
• Remédios para covid no SUS • 3 bilhões de não vacinados • Melhor proteção contra a doença • Medicina e machismo • Retrocessos: aborto nos EUA • Câncer em jovens • Medicamentos para várias doenças • O que são inflamações • Consultórios de Rua •
Publicado 08/03/2022 às 07:30 - Atualizado 08/03/2022 às 10:33
Não vai mais ser preciso usar máscara anticovid no Rio de Janeiro, definiu a prefeitura, mesmo em lugares fechados. Foi a primeira capital a tomar essa decisão, que está em avaliação no país. O comitê científico da cidade recomendou que continuem a se proteger as pessoas não vacinadas, as imunodeprimidas, com comorbidades e com sintomas de síndrome gripal, conforme informação do UOL. No Rio Grande do Sul a Justiça suspendeu no dia 5/3 um decreto do governo desobrigando o uso de máscaras para crianças menores de 12 anos. A medida é liminar, pode ser revista.
Remédios anticovid são muito caros para uso no SUS
Há dúvida sobre o benefício das novas pílulas contra covid na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Não atenderiam ao conjunto de critérios de uso por serem de alto custo, ter pouca experiência de uso e incerteza em relação à efetividade. Há sete remédios aprovados pela Anvisa, de acordo com O Globo, mencionando que especialistas, em princípio, aprovam a incorporação dos medicamentos. O preço não é tão relevante, argumentam: são poucos os pacientes que teriam recomendação de tomar – como os que têm comorbidade, imunossupressão ou são idosos.
Fim da pandemia? Com quase 3 bilhões ainda não vacinados?
Mais de um ano após o início da vacinação no mundo, quase 3 bilhões de pessoas nos países emergentes e pobres ainda não receberam nenhuma dose. Nos países de alta renda, 80% receberam ao menos uma dose – e tem quem considere a pandemia no fim. Absurdo, mas previsível, escreveram quatro especialistas na revista The Atlantic. “Malária, tuberculose e aids, que agora são vistas como ‘doenças do Terceiro Mundo’ já foram sérias ameaças nos países ricos, mas quando a incidência dessas doenças começou a declinar lá, o Norte global seguiu em frente e reduziu os investimentos em novas ferramentas e programas”. A malária foi erradicada dos países ricos nos anos 1970, e o resto do mundo ficou para trás. Resultado: em 2020 quase todas as 627.000 mortes por malária ocorreram na África subsaariana. “As pessoas privilegiadas”, arrematam à perfeição os autores, “não devem decidir por conta própria que uma pandemia global acabou”.
Infecção natural mais a vacina conferem melhor proteção
Quando todo o sistema imunológico reage ao vírus, a reação é complexa e forte. Isso acontece na imunidade natural, isto é, gerada por uma infecção qualquer, e não por vacinas como as da covid. O corpo produz defesas com maior grau de proteção, inclusive contra novas variantes da infecção original, digamos, por exemplo, a ômicron. Pesquisas recentes mostraram que há um bom efeito protetor, no caso da covid, quando as pessoas sofrem a infecção natural antes de serem vacinadas, e em seguida recebem o imunizante. Isso anima tentativas de criar vacinas que por si só – sem infecção prévia – possam gerar essa proteção mais forte contra a covid, reporta a Folha de São Paulo.
Casos de machismo em relação às doenças das mulheres
Homem quando desmaia pensa que teve um infarto – já as mulheres são mais tranquilas em termos de saúde e às vezes até demoram mais do que deviam a buscar ajuda. Colocam a família em primeiro lugar. A historiadora feminista Elinor Cleghorn examinou preconceitos e equívocos de gênero no livro “Mulheres doentes: uma viagem através da medicina e do mito em um mundo feito pelo homem”. Imagina-se, por exemplo, que o infarto do miocárdio é doença de homem, por estresse do trabalho, reportou o jornal O Estado de Minas. Mas as mulheres são mais vulneráveis que os homens às doenças cardiovasculares na proporção de 56% a 46%. As mulheres sofrem de depressão duas vezes mais que os homens, mas não por causa dos hormônios: pesquisas mostram que a situação socioeconômica é um fator importante. A endometriose foi muito subestimada porque se subestimavam as dores da menstruação. Tais estereótipos – Elinor parece ter razão – não têm feito bem à saúde das mulheres.
EUA: o retrocesso do direito ao aborto no Texas
Novos estudos tentam medir o número de procedimentos após o estado texano endurecer ainda mais a proibição da interrupção de gravidez – que acontece após a detecção da atividade cardíaca fetal, ou cerca de seis semanas. Segundo a matéria do The New York Times, a redução dos casos, tímida (10%), não expressa necessariamente a realidade dos casos de abortos realizados por texanas: ou elas saíram do estado para fazer o procedimento, ou o fizeram pela compra de pílulas abortivas na internet. A cada mês, no período entre setembro de 2021, quando a lei do Texas entrou em vigor, e o final do ano, uma média de 1.400 mulheres foram para um dos sete estados próximos. Uma média de 1.100 mulheres pedem pílulas abortivas online todos os meses do Aid Access, um serviço internacional que envia pílulas pelo correio. O estudo aponta para uma tendência do que pode acontecer se a Suprema Corte decidir derrubar o precedente que reconhece o direito ao aborto ou interrupção voluntária da gravidez no país. Espera-se que entre 21 e 26 estados proíbam ou restrinjam substancialmente o aborto se a Suprema Corte permitir o retrocesso.
Câncer, problema crescente em jovens e adultos
O alerta foi publicado na revista Lancet Oncology, segundo o médico, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina da USP, Riad Younes, em matéria que saiu na Carta Capital. O estudo analisou os dados globais dos impactos de tumores malignos em pessoas com idades entre 15 e 39 anos: mais de 1 milhão de pacientes nesta faixa etária são anualmente diagnosticados com câncer. Somente em 2019, estima-se que mais de 390 mil adolescentes e jovens tenham perdido a vida em decorrência da progressão da doença. Younes argumenta que a gravidade desses dados são os desafios. Jovens e adultos dessa idade, por serem menos acometidos por tumores graves, são excluídos de programas de conscientização, prevenção e detecção precoce de câncer. Em consultas médicas, quando apresentam sintomas, a doença seria a última hipótese. Se diagnosticados, os tratamentos são baseados em pesquisas que incluem poucos dados nessas idades. Por isso, entende que novos estudos e programas de prevenção devem considerar que essa população merece uma atenção e abordagem distintas.
Como reposicionar remédios para uso em diversos tratamentos
Primeiro passo é mapear a relação entre diferentes genes, fármacos e doenças. Um estudo, assinado por diferentes instituições brasileiras, como a UFMG e a USP, utilizou Inteligência Artificial para identificar essas relações: foram analisados 30 milhões de artigos publicados entre 1990 e 2018, abrangendo 99 doenças e mais de 3.700 genes. A partir dos marcadores genéticos semelhantes entre as doenças, eventualmente será possível testar se a droga utilizada para tratar uma enfermidade pode ser redirecionada à outra. Helder Nakaya, um dos autores da pesquisa, menciona algumas iniciativas como a de um fármaco usado para a artrite que, se reposicionado, pode agir contra a esquizofrenia e está sendo estudado por cientistas na Unicamp. Os primeiros resultados têm sido promissores.
Inflamações: vitais para a saúde e a causa de doenças
Ao mesmo tempo que ela nos protege de traumas físicos, como cortes ou contusões, seu processo está envolvido em uma ampla gama de funções para o bom funcionamento do corpo, como remodelação de tecidos, um bom metabolismo, comunicação entre órgãos e o funcionamento do cérebro. Mas quando ocorre um desequilíbrio – não necessariamente como resposta à infecção ou lesão na pele – a falta de regulação pode desencadear e amplificar diversos processos patológicos associados à inflamação – transformada em vilã. As causas podem ser as mais variadas. A falta de atividade física, estresse, má qualidade de sono, poluição, podem, por exemplo, levar a inflamações crônicas que podem causar de distúrbios intestinais, depressão e câncer a doenças autoimunes e neurodegenerativas, como o Alzheimer. Essa visão ampliada sobre a inflamação é proposta pelo imunologista Ruslan Medzhitov, professor da Universidade Yale (EUA). E o conhecimento ampliado sobre a sua natureza poderá levar a novas formas de prevenir, tratar ou amenizar o sofrimento.
Um consultório ambulante para pessoas em situação de rua
Com equipes formadas por enfermeiros, agentes da saúde e também sociais, o trabalho do programa federal Consultório de Rua, do SUS, atua em 120 municípios do país. Uma reportagem da Folha acompanhou o trabalho de assistência na capital paulista. Durante a pandemia, relata, o projeto teve de ser ampliado para dar conta do grande aumento de pessoas em situação de vulnerabilidade. Atualmente, 26 equipes atuam em todas as regiões da cidade. De primeiros socorros ao tratamento de doenças como tuberculose e HIV, os profissionais realizam o acompanhamento em saúde com consultas, orientações, curativos, medicações, vacinação e outros procedimentos. Todos os agentes da saúde são ex-moradores de rua ou de casas de acolhida, hoje certificados e profissionalizados. Em janeiro de 2022, somente na cidade de São Paulo, foram realizadas 18.666 abordagens nas ruas e 14.657 atendimentos médicos.