Crianças contaminadas

Estudo analisa 65 desreguladores endócrinos e constata níveis de contaminação em crianças de todo o país. Os piores foram encontrados nas regiões Norte e Nordeste

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24 de setembro de 2018

CRIANÇAS CONTAMINADAS

Estudo da USP analisou a presença de substâncias conhecidas como desreguladores endócrinos em crianças brasileiras. São contaminantes que podem interferir na síntese e ação de hormônios, responsáveis por funções como metabolismo, crescimento, desenvolvimento, sono e por aí vai. Ao todo, 65 compostos foram analisados em 300 amostras de urina. Os piores níveis de contaminação foram encontrados nas regiões Norte e Nordeste do país – superando, segundo o coordenador do estudo, Bruno Alves Rocha, índices de países como EUA, Canadá e China. Essas substâncias estão presentes em cosméticos, produtos de cuidado pessoal e plásticos em geral, como garrafas.

As meninas são as mais afetadas por desreguladores como o triclosan (presente em desodorantes e sabonetes antibacterianos), parabenos (conservantes) e benzofenonas (esmaltes, protetores solares, maquiagem e produtos para os cabelos). Outro composto, chamado ftalatos, foi encontrado em 90% das amostras de urina e apresenta níveis tóxicos em pelo menos um terço das crianças brasileiras. A substância é encontrada em sprays de cabelo, sabões, xampus, perfumes, produtos de limpeza e plásticos.

De acordo com a OMS, existem 800 compostos químicos que podem ter efeitos no sistema hormonal. Mas falta pesquisa. Apenas uma pequena fração mereceu investigação. Decisão da Comissão Europeia, em 2016, definiu que 66 são desreguladores e há evidências científicas disso. No mesmo ano, os Estados Unidos proibiram a comercialização de 19 compostos, dentre eles o triclosan que apareceu em altos níveis  nas meninas brasileiras. Por aqui, segundo a BBC Brasil, em 2011 a Anvisa vetou a presença de um composto – o bisfenol A – em mamadeiras destinadas a bebês de até 12 meses. E só.

ACIDENTE

Aconteceu ontem. Uma carreta tombou espalhando nada menos do que 27 toneladas de agrotóxicos na saída do município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. O produto ficou jogado pela rodovia e pelo canteiro, na grama. O Corpo de Bombeiros isolou o lugar e afirmou temer que os agrotóxicos se infiltrem no solo, chegando ao lençol freático.

SÃO CONTRA

Pesquisa encomendada ao Datafolha pela ACT Promoção da Saúde indicaque os brasileiros rejeitam candidatos que apoiam as indústrias dos agrotóxicos, tabaco, álcool e armas. Foram ouvidas 2.086 pessoas entre os dias 13 e 16 de agosto. Ao todo, 89% dos entrevistados afirmaram que não votariam em candidatos que apoiem agrotóxicos. Em seguida, com 85% de rejeição, veio a indústria do tabaco. A indústria armamentista mereceu o repúdio de 80%, enquanto o álcool ficou com 70%. O menor índice ficou com a indústria de alimentos ultraprocessados: 63% afirmaram que votariam em candidatos que a apoiassem.

Em 2014, pesquisa semelhante foi feita. Na época, a indústria de armas liderou a rejeição, com 92%. A diferença de 12 pontos percentuais é notável, ainda mais se pensarmos que um dos motes da campanha do líder nas pesquisas de intenção de voto é justamente armar a população, algo que tem pautado outras candidaturas.

A pesquisa também questionou o apoio da população a políticas de incentivo fiscal a determinados setores. A maioria é a favor de redução de impostos para o setor de medicamentos (91%), alimentos orgânicos (84%), eletrônicos (77%) e automóveis (69%). Por outro lado, isenções para a produção de refrigerantes e bebidas alcoólicas são reprovadas por 49% e 72%, respectivamente.

SUS COMPARTILHADO

Estreando sua coluna no Outra Saúde, o jornalista Bruno C. Dias resumecomo foi o debate organizado pela Fiesp e por duas entidades relativamente novas, Instituto Coalizão Saúde e Colégio Brasileiro dos Executivos da Saúde, mas que desde a sua criação, tentam influenciar as eleições com uma agenda pró-empresas. Aconteceu na última quarta-feira e levantou a lebre da gestão compartilhada do SUS entre os gestores públicos e o setor privado – bandeira que já aparece em alguns dos programas de governo dos postulantes ao Planalto. Além disso, muita defesa das PPPs, das OSs, das Santas Casas… Foram duas horas de debate e é preciso ficar de olho porque, aparentemente, em menor ou maior grau, todos concordam com alguns pontos da agenda empresarial. Em tempo: assim como no debate do Roda Viva, do qual falamos aqui, Jair Bolsonaro (PSL) não enviou representante. Aliás, sequer retornou o convite.

TAMBÉM NA CIÊNCIA…

E a interação com o setor privado também é o norte de algumas das propostas para a ciência brasileira, segundo levantamento da Folha feito com base nos programas dos presidenciáveis. “Enquanto uns apostam mais na interação com o setor privado (como Jair Bolsonaro e Marina Silva), outros querem soltar as amarras fiscais do governo para aumentar o fluxo de dinheiro público para a área (caso de Fernando Haddad). Também há quem queira um pouco dos dois (como Ciro Gomes), escreve o repórter Gabriel Alves.

E lembra que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência fez uma carta de compromisso com a defesa da ciência, tecnologia e inovação e um site para mostrar quais candidatos à Câmara e ao Senado se comprometeram. Por enquanto, só houve interesse de políticos de sete estados e do Distrito Federal.

NÍVEL BAIXÍSSIMO

A campanha do tucano João Doria divulgou no fim de semana uma propaganda que está sendo acusada de gordofóbica. É que os marqueteiros resolveram usar uma foto do atual governador de São Paulo Márcio França na qual ele aparece antes de uma cirurgia de redução de estômago que fez, segundo ele, para controlar diabetes. A foto é usada para ligar França ao PT e à Lula. “Parecem dois candidatos diferentes, mas a história é uma só”, diz o locutor. França afirmou que o adversário usa “um problema de saúde que atinge milhões de brasileiros para tentar ganhar vantagem”. A peça será retirada do ar, segundo decisão do Tribunal Regional Eleitoral, mas porque os nomes dos partidos que integram a coligação de Doria não estão identificados segundo a norma.

VILÕES DA INFLAÇÃO

Os planos de saúde estão entre os dez itens que mais contribuíram para o aumento da inflação no ano, segundo últimos dados do IPCA. E mais: junto com gasolina, energia e botijão de gás, os planos foram responsáveis por nada menos do que metade da inflação do período de 12 meses até agosto.

DE MUDANÇA

A Amil e o Sírio Libanês adotaram um novo modelo de pagamento. O objetivo é fazer a transição entre a tal fee for service, a remuneração aberta, em que a operadora vai pagando de acordo com a demanda de ações e serviços definidos pela equipe médica, até o pagamento por desempenho, em que o hospital ganha mais se uma cirurgia, por exemplo, for bem-sucedida. E menos caso haja complicações. Por enquanto, fica assim: o custo das internações passa a ser reajustada pelo IPCA, que no ano passado foi de 2,95% (enquanto o reajuste médio dos planos de saúde empresariais foi a 17,9%). E, dizem eles, há formas de evitar que os hospitais simplesmente despachem os pacientes antes do tempo. Nesse caso, foram acordados 15 indicadores clínicos para embasar a alta.  O sonho da Amil é trabalhar com uma rede credenciada que só receba por desempenho. A ver quais serão as consequências para o consumidor.

MAIS UM CASO DE ASSÉDIO

Quem acompanha política dos Estados Unidos, sabe que só se fala das acusações de assédio sexual contra o juiz Brett Kavanaugh, indicado por Donald Trump para a Suprema Corte. Depois de muito ponderar, a professora Christine Blasey Ford veio a público afirmar que foi tocada sem seu consentimento por ele, quando ambos eram adolescentes, em 1982. Ele tinha 17, ela 15.  Ele teria deitado por cima dela em uma cama, tentado tirar seu maiô, esfregado seu corpo contra o dela e tapado a boca de Ford para que não gritasse por socorro. Agora, surge uma segunda vítima em potencial. Trata-se de Deborah Ramirez, que estudou com Kavanaugh na Universidade Yale e teria sido assediada em uma festa dos alunos do ano letivo 1983/1984. É bom lembrar: retroceder na decisão da Corte sobre o aborto foi uma das promessas de campanha de Trump. Com a indicação de Kavanaugh, de perfil ultraconservador, o órgão penderia para esse tipo de posição.

CAMPANHA NAS REDES

E Trump questionou as mulheres no Twitter: por que não denunciaram antes? A resposta vem em forma de campanha. Com a hashtag #WhyIDidntReport centenas de mulheres estão compartilhando suas histórias, e dando uma aula ao presidente dos EUA. Medo, raiva, vergonha e a carga emocional traumatizante que envolvem episódios de assédio fazem parte da resposta.

TAMBÉM NA ESPANHA

Talvez inspirada pela reportagem do Intercept Brasil, o El País fala sobre o ponto do marido na Espanha. Por lá, a porcentagem de episiotomias varia muito de hospital para hospital, indo de 15% até 70%. E os cortes – e a costura além deles – também são feitas sem o consentimento das mulheres com o objetivo de supostamente aumentar o prazer sexual de seus companheiros durante as relações.

“No momento da sutura, a ginecologista deu uma piscada e me disse que ia me deixar como uma virgem. Não descobri até tempos depois o que isso significava: que tinha estreitado minha abertura vaginal. (…) As mulheres nos vemos transformadas em um objeto para o prazer alheio, por uma terceira pessoa que se intromete sem permissão em nossa vida sexual. É uma humilhação e uma invasão inaceitável de sua intimidade física e psicológica. Sua e também de seu parceiro, relata Francisca Fernández Guillén ao jornal. Ela foi vítima da prática em 2002 e, desde então, integra a equipe de um site voltado para mulheres gestantes.

POR QUE AINDA MORREM?

De acordo com a OMS, 303 mil mulheres morrem todos os anos no parto ou devido a complicações decorrentes dele. É uma morte a cada dois minutos. O Guardian levanta as prováveis causas disso. Dentre elas, sangramentos e infecções depois dos partos, pressão alta, obstruções e abortos inseguros são as principais. Muito disso poderia ser prevenido com um bom pré-natal e um atendimento de qualidade durante o parto. E também por leis que criminalizem menos as mulheres que decidem interromper as gestações. A reportagem tem muitos gráficos e dados do mundo todo, não apenas do Reino Unido. Foi financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates.

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